Diversão e Arte

Integrantes do Restart e Cine falam sobre música e novas influências

Em entrevista exclusiva para o Correio, integrantes dos dois grupos comentaram a atual fase

postado em 24/07/2014 08:00
Restart: depois de dezenas de prêmios, a turma pesquisa novas sonoridades para ganhar mais fãs
As roupas extravagantes, que incluíam vários tons de cores distribuídos pelas peças, jeans apertados, adereços diversos e blusas com golas em V, além dos penteados repicados e esticados na altura dos ombros têm sumido aos poucos de um cenário musical outrora popular. Há alguns anos, imaginado indelével, o intitulado rock colorido ; que conquistou vários dos principais prêmios relacionados à música entre 2009 e 2012 ; pende ao ostracismo. Os próprios grupos que se exibiam sob a alcunha têm alterado suas características, tanto sonoras quanto visuais.

Os principais pilares do fenômeno repentino e multicolor são as bandas paulistas Restart e Cine. No fim da década de 2000, as duas deslancharam, ao emplacarem hits prensados nos primeiros discos, e embalaram uma legião juvenil de admiradores. Com sons que mesclam vertentes do rock, como emocore e pop, e com a marca do visual despojado, acumularam, juntas, 32 prêmios destacáveis entre 2009 e 2012 ; o Restart ainda venceu uma categoria do Meus Prêmios Nick de 2013, mas o índice de indicações caiu consideravelmente neste ano.

Coincidentemente desde a extinção da MTV Brasil, que fechou as portas em setembro de 2013, os roqueiros foram menos lembrados nessas premiações e há algum tempo não colorem as rádios nacionais. Nesse período, também houve um amadurecimento natural dos músicos, que têm se vestido mais sobriamente e evoluído nas questões sonoras, apesar de não lançarem álbuns desde 2011, quando Restart distribuiu Geração Z, em português e em espanhol, e Cine prensou Boombox arcade. Em entrevista exclusiva para o Correio, integrantes dos dois grupos comentaram a atual fase.

Confira trechos das entrevistas com os músicos, clipes e saiba mais sobre as bandas:

DH, vocalista do Cine.

Vocês tocaram na Alemanha, durante a Copa. Como foi a experiência?

Existiam possibilidade de tocarmos na Alemanha desde o começo deste ano. A gente já tinha tocado nos Estados Unidos, mas Europa era novidade. Há muita diferença, tanto no tamanho, quanto no público. Fizemos um show-case com cinco músicas. Ninguém entendia muito bem o que estávamos falando. Mas tinha uma galera dançando na frente do palco. Eles não conheciam a gente, fomos só para mostrar o nosso trabalho mesmo. No começo deste ano tocamos em Las Vegas e no ano passado tocamos no Brazilian Day, em San Diego.

Como anda a relação com os fãs? Eles mudam com o passar do tempo?

Existem fãs que se mantêm, e tem uma galera nova que está chegando. Tem uns que comentam: ;eu não gostava da banda, agora tô gostando;. Estamos conseguindo cativar quem antes não gostava da gente. Na rua, às vezes encontro pessoas até mais velhas do que eu, na casa dos 30 anos, que vêm dizer que curtem a banda, principalmente as músicas que são mais baladas, essas de amor alcançam uma faixa etária maior


Vocês carregam hoje um visual mais sóbrio, por quê?

A mudança de visual aconteceu de forma bem natural também. De início, era uma estratégia de marketing. Porque a gente acreditava que aquilo seria bom para molecada, achávamos que seria uma moda e que iria pegar. Antes da gravadora, já tinhamos essa estratégia. Depois de um tempo, a gente começou a pensar ;não, isso não tem mais sentido pra gente!', a gente já não gostava mais de se vestir daquele jeito. Queríamos ser nós mesmos. Hoje em dia, sigo um estilo street, jeans e camiseta. Não gosto de terno, andar engomado.

Ainda há muito assédio?

Ainda acontece muito assédio. Mais por parte daquelas fãs que há cinco anos atrás eram muito novinhas e não podiam ir aos nossos shows. Hoje, como elas cresceram, já têm idade para ver a gente, daí assediam um pouco. De vez em quando, ainda temos surpresas. Às vezes, em baladas, aparece alguém desesperado, querendo tirar foto. Ainda é bem comum para mim, continua a mesma coisa. Criamos uma imagem muito forte. Às vezes tento levar uma vida normal, mas ainda não dá. Esses dias mesmo tentei pegar metrô e foi caótico. Tinham umas 15 ou16 meninas que me viram e começaram a correr atrás de mim, pedir para tirar foto. Eu fiquei desesperado, não sabia o que fazer. Pensava que isso não ia acontecer mais. Com os outros integrantes isso acontece com uma frequência menor, pelo fato de eu estar sempre com o rosto à mostra. Por ser o vocalista, minha imagem ficou mais marcada.


E como anda a produção de vocês?

Atualmente, estamos em meio a uma reforma interna da banda. Trocamos de gravadora, montamos uma produtora, onde será montada a nossa proópria gravadora. Acredito que, quando terminarmos essa mudança, vamos ter bastante coisa para mostrar.


Você teme ser esquecido?

Tenho medo de deixar de ser amigo do pessoal da banda, de acontecer alguma coisa chata que me impeça de continuar tocando. Tenho mais medo disso do que do esquecimento. Porque sempre tocamos e nos divertimos. Nunca nos preocupamos em estar na mídia, mesmo quando estávamos estourando. Essa nunca foi a nossa preocupação. Eu nunca tive vontade de abrir a minha vida pessoal para sites de fofoca e coisas do tipo. Tenho sorte porque a minha imagem não foi destruída. Ninguém me xinga na rua (risos). Está tudo tranquilo.


Você acha que o fim da MTV atrapalhou de alguma forma?

A MTV projetou muita gente na mídia. Nós fomos umas das bandas escolhidas. Também teve o pessoal do Conecrew, o Restart; Mas ela ainda existe, só que em um outro formato. Têm outros canais em que a gente tá aparecendo. Aparecemos na nova MTV, mas eles estão tímidos com o conteúdo. Hoje estamos dando uma segurada na questão de aparecer na mídia, justamente para produzir material novo. Mas temos feito coisas com a Mix TV, temos uma parceria legal com a Mix TV e com a Mix Rádio. Estamos visíveis no mercado internacional. Fizemos três turnes internacionais. Fechamos contrato com a Sony internacional e nossas músicas já estão tocando nas rádios dos Estados Unidos e Europa. Vamos começar a fazer mais coisas por lá. Estamos lançando uma música por mês. Já lançamos duas. Quando lançarmos mais oito, lançamos o CD. Todas as músicas já estão prontas. Estamos em processo de finalização.

E quanto ao rótulo de ;rock colorido;, o que vocês pensam a respeito?

A mídia começou a gostar do rótulo de rock colorido e nós também. Queríamos mostrar o nosso som e aproveitamos isso ao máximo. Mas quando isso parou de ser verdadeiro praa gente, no fim de 2010, decidimos nos vestir de outro jeito e compor um estilo de música diferente. O rock colorido não morreu, fcou marcado para muita gente. Mas naquela época. Se aparecer uma banda nova querendo ter estilo de rock colorido, não vai emplacar, porque a época já passou.


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Entrevista Pe Lu, guitarrista do Restart


Como andam os shows? Ainda seguem com agenda lotada?

Sempre tivemos um trabalho voltado para o mercado internacional. Tocamos na Argentina, no México... Pensamos muito na América Latina também. E agora estamos pensando nos Estados Unidos. Como no Brasil já temos muita visibilidade, estamos espalhando nosso trabalho para outras regiões. Quando fazemos shows em lugares em que as pessoas nunca nos viram antes, sempre rola uma emoção maior por parte delas. Como aqui no Brasil já estão acostumados com a gente, a emoção é menor. Nossos fãs são muito fieis. Tem gente que nos acompanha desde o primeiro show. É muito legal ver isso, que eles nos acompanham em tudo que a gente faz.

Vocês estão abandonando o visual colorido?

Sempre usamos roupas variadas, mas as calças coloridas ficaram bem marcantes. Ninguém usa a mesma roupa todo dia. E é natural que a gente escolha vestir outras coisas, ganhar outras referências, que nem na música. Acho que a gente mudou naturalmente, do jeito que deveria acontecer.


E como está a fase do Restart, como é o convívio de vocês?

Enquanto a gente tiver o tesão de estar no palco, pretendemos continuar juntos. Na verdade, estamos há seis anos no palco e nem sentimos esse tempo passar. Quando você faz o que você gosta, você faz e é gostoso. Nem tudo é alegria. Temos as nossas dificuldades. Mas, enquanto a proporção da alegria for maior, pretendemos continuar tocando juntos.


Alguma pretensão futura?

Até o final do ano, pretendemos lançar o complemento desse EP que lançamos no começo do ano, tipo um CD maior, com mais músicas. Também gravamos um documentário que vai direto para o YouTube. Estamos em fase de edição. Até o final do ano, vamos lançá-lo. É composto por depoimentos nossos, imagens antigas que nunca divulgamos porque não tinhamos espaço. Daí resolvemos juntar tudo, para contar a nossa visão da nossa história. As pessoas sempre falaram da gente. Mas o diferencial desse material é que vai ser a gente mesmo que vai contar pelo nosso ponto de vista o que aconteceu com a gente. Acho que vai ser um resultado legal. Acho que muita gente que tem preconceito conosco, pode começar a gostar a partir desse filme.

Restart

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O Restart explodiu na internet já em 2009, quando Pedro Lanza "Pe Lanza" (baixo e vocais), Pedro Lucas Munhoz "Pe Lu" (guitarra e vocais), Lucas Kobayashi "Koba" (guitarra) e Thomas Machado (bateria), lançaram o álbum Restart. As roupas coloridas e o estilo musical logo os rotulou como rock colorido ou happy rock. Em pouco tempo, a banda foi premiada com um disco de platina, após vender 100 mil cópias do primeiro material. Em 2010, chegaram a acumular inúmeras indicações nos principais prêmios dedicados à música brasileira.

Cine
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Inicialmente fundada com o nome Without Shoes, os integrantes da banda Cine se reuniram em 2007 para interpretar covers de canções internacionais, principalmente. Depois da entrada do baixista Bruno Prado neste mesmo ano, o vocalista Diego Silveira "DH", Danilo Valbusa (guitarra) e David Casali (bateria), decidiram renomear o grupo e começar a trajetória autoral de vez. O último integrante a ingressar na trupe foi o tecladista Pedro Caropreso "Dash", em 2009. Em seguida, os garotos lançaram o disco Flashback! e foram indicados como banda revelação nos prêmios VMB, da MTV Brasil, e Multishow da Música Brasileira.

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