Diversão e Arte

Festival de Veneza: 'La rançon de la gloire', entre risos e lágrimas

O filme traz um acontecimento inesperado que foi manchete no final dos anos 70: o sequestro do caixão de Charlie Chaplin do cemitério da pequena cidade suíça de Vevey

Agência France-Presse
postado em 28/08/2014 15:36
A verdadeira história do sequestro do caixão de Charlie Chaplin serve de pretexto para uma comédia agridoce, assinada por Xavier Beauvois, exibida nesta quinta-feira (28/8) em competição no 71; Festival de Veneza, o primeiro dos quatro filmes franceses que concorrem ao Leão Ouro, que será concedido em 6 de setembro.

"La rançon de la gloire" traz um acontecimento inesperado que foi manchete no final dos anos 70: o sequestro do caixão de Charlie Chaplin do cemitério da pequena cidade suíça de Vevey, às margens do Lago Léman, cometido por dois refugiados.

Recém-saído da prisão, Eddy (Beno;t Poelvoorde) encontra seu amigo Osman (Roschdy Zem). Os dois fazem um pacto: Osman concorda em dar abrigo a Eddy em seu galpão, com a condição de este cuidar de sua filha de sete anos durante a hospitalização de sua mãe.

É a temporada de festas e Eddy está frustrado por não ser capaz de oferecer a seu amigo e à sua filha o Natal que eles merecem. Na televisão, a morte do grande Charlie Chaplin é anunciada.

Então, ele tem uma ideia louca: por que não roubar o corpo do ator lendário de "O Ditador" e de "Tempos Modernos" e cobrar um resgate para a sua família?

Vantagem de sequestrar um cadáver: não há necessidade de monitorá-lo ou alimentá-lo. Brilhante. "Olhando pela enésima vez "Luzes da Ribalta" de Chaplin, lembrei-me que alguém havia roubado seu caixão para pedir resgate, e disse a mim mesmo ;isso daria um filme", declarou Xavier Beauvois à imprensa.

"Também pensei na comédia italiana para transformar essa história sórdida em um conto em que Chaplin seria um gênio, como Aladdin, que concederia desejos", acrescentou o diretor de "Des hommes et des dieux" ("Homens e Deuses"), premiado no Festival de Cannes em 2010.

A dupla Poelvoorde-Zem funciona maravilhosamente nesta tragicomédia que é uma homenagem a Charlie, "um amigo dos sem-teto, o amigo dos pobres", como diz Eddy a seu amigo para justificar seu crime.

O filme também é servido pela bela música de Michel Legrand, que mistura liricamente suas notas às dos filmes de Charlie Chaplin.


Várias cenas foram filmadas no Manoir de Ban, na Suíça, onde o ator e diretor passou os últimos 24 anos de sua vida. "Lembro-me desta época não muito agradável. (...) Quando encontramos o caixão de meu pai em um campo, na beira de uma floresta, perto de um canal. Foi absolutamente maravilhoso. Por isso, quase me arrependi de tê-lo encontrado", declarou Eugene Chaplin, filho de Charlie Chaplin, presente no Festival para defender o filme.

Coragem das mulheres iranianas

Também apresentado nesta quinta-feira na disputa pelo Leão de Ouro, "Ghesseha" ("Tales"), de Rakhshan Bani-Etemad, a grande dama do cinema iraniano, retorna aos personagens que ela descreveu em seus filmes anteriores.

A diretora foi capaz, através de seus filmes, de pintar impressionantes retratos de mulheres iranianas e destacar sua coragem que impulsionou grandes fenômenos sociais em seu país.

A obra apresentada em Veneza é composta de sete breves episódios, em que a diretora revela o destino dos protagonistas de seus filmes anteriores, como "The Blue Veil", "Under the Skin of the City" e "Mainline".

Os personagens são intelectuais ou simples empregados, mas todos têm em comum o fato de estarem apaixonados. Mães e filhos, maridos e esposas, homens e mulheres tiram de sua paixão a força para superar suas dificuldades.

"Depois de 30 anos de cinema, os personagens de meus longas-metragens e de meus documentários ainda estão vivos para mim, e eu, viva com eles", explicou a diretora.

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