Diversão e Arte

Adriana Calcanhoto organiza antologia com poemas de escritores brasileiros

"Haicai no Brasil" conta com versos de Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade e Paulo Leminski, entre outros

Nahima Maciel
postado em 01/10/2014 08:47
Adriana Calcanhoto: leitora apaixonada pela tradição do haicai
Adriana Calcanhoto não escreve haicais, mas tem especial fascínio pelo gênero. Foi o poder de sedução que os versos têm sobre a compositora o fator responsável pela compilação Haicai do Brasil, livro no qual ela reúne poemas de 33 autores brasileiros. De Afrânio Peixoto, Manuel Bandeira e Guilherme de Almeida a Capinan, passando, é claro, por Paulo Leminski, Mario Quintana e Carlos Drummond de Andrade, o haicai parece inevitável na poesia brasileira e, para Adriana, é mesmo. ;A maioria dos nossos poetas em algum momento de sua trajetória aproxima-se do haicai. É, como o soneto, uma ótima forma para praticar poesia em forma fixa;, garante.

Nascida no Japão, essa forma concisa de poesia em três linhas e não mais que 17 sílabas ganhou o mundo pela sua beleza moldada pela simplicidade. ;Aprecio particularmente porque, como a poesia é síntese, o haicai seria a síntese da síntese. Pela economia de meios, pela ausência de ego, me interessa muito;, diz. Haicai do Brasil tem início com versos de Afrânio Peixoto, o primeiro, segundo historiadores, a praticar o gênero na poesia brasileira, no final do século 19.



Todos os versos são acompanhados por ilustrações da própria organizadora. Ilustrar os haicais é uma tradição japonesa que Adriana decidiu trazer para o livro. Os desenhos são tão minimalistas quanto os poemas e compõem as rimas como se transportassem o leitor para um mundo de linhas, riscos e singelos pontilhados. A compositora conta que não foi difícil fazer a seleção para o livro e que os haicais ficaram bastante comuns depois do modernismo. ;Este foi um recorte natural. O aparecimento do haicai no Brasil converge com a baforada das ideias modernas. Acredito que foi a forma certa na hora certa, mas ele vem sendo mais e mais praticado por jovens e por crianças, aí sim, uma tradição. Todas as crianças no Japão aprendem haicai;, diz Adriana.

Ela acredita que hoje os versos inspirados na poesia japonesa são mais praticados do que foi o soneto no século 19. A existência de clubes e agremiações na internet ajudam a estimular o aparecimento de haicaístas e os versos publicados por Millôr e Leminski ajudaram a desmistificar o gênero. No posfácio do livro, Eduardo Coelho, professor de literatura brasileira na Universidade de São Paulo, explica como a história do modernismo e da poesia marginal se fundem com a do haicai no Brasil. Em 1925, Paulo Prado escreveu que tinha esperanças de ver os versos de Oswald de Andrade perderem a forma ;balofa e roçagante; graças à concisão do haicai. Quem popularizou a natureza como tema dos haicais foi um de seus maiores praticantes, o japonês Matsuô Bashô. Céus, flores, folhas e lua aparecem com frequência na seleção do livro. ;a noite ; enorme/tudo dorme/menos teu nome;, escreve Leminski. ;no brasil floriu/entre os ipês/o haicai japonês;, conta Jane Ribeiro. ;O pato, menina/É um animal/Com buzina;, diverte-se Millôr.

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