Diversão e Arte

Leia entrevista com o cineasta André Luiz Oliveira

Diretor fala sobre disco com poemas de Fernando Pessoa musicados que irá lançar e sobre política cultural

Severino Francisco, José Carlos Vieira
postado em 26/10/2014 05:54

André Luiz Oliveira revela relação entre o Tropicalismo e Brasília

Desde que aterrissou no Planalto Central, em 1991, André Luiz Oliveira ganhou dupla cidadania: baiano e brasiliense. Diretor do clássico filme marginal Meteorango Kid, ele se sentiu atraído por uma força misteriosa na cidade. Em 1994, com Loucos por cinema, ele conseguiu um feito: pela primeira vez, um filme brasiliense ganhou o prêmio principal do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. O cineasta voltou a brilhar na última edição do evento com Zirig Dum Brasília ; A arte e o sonho de Renato Matos, documentário sobre artista e um dos primeiros compositores a fazer uma crônica musical de Brasília. Na cidade, a carreira de diretor de André se desdobrou na de compositor: em novembro, ele lança o terceiro CD de poemas musicados do poeta português Fernando Pessoa. Nesta conversa pra lá de Marrakesh (e que chegou até a Índia), André faz um giro sobre a poesia de Fernando Pessoa, o talento de Renato Matos, as políticas públicas para o cinema, o mistério da capital do país e a urgência de uma educação para a arte em Brasília.

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Se fosse secretário de Cultura, o que faria?

Não consigo me articular com políticas culturais. Não tenho discernimento verossímil e pragmático. Tenho ideias vagas.

A visão do movimento tropicalista tem a ver com Brasília nos contrastes: o céu etéreo e o chão esturricado, o futurismo da arquitetura e a dimensão do arcaico?

Tem e é forte em tudo. Caetano antecipou, profeticamente, Brasília na canção manifesto Tropicália: ;Sobre a cabeça os aviões/Sob meus pés os caminhões/Aponta contra os chapadões, meu nariz;. Como diz o Renato Matos em Zirig Gum, Brasília é um chupa-tudo, tinha de assimilar tudo para ela acontecer. Isso tem uma riqueza, uma frequência que a gente não alcança. O Rio ou Salvador tem coordenadas no passado. Em Brasília, as pessoas são soltas, não monolíticas, não defendem nada com tanta dureza, a não ser o mistério de estar aqui.



Brasília padece da falta de educação para a arte ou de formação de público para a arte. Como percebe o problema?
Por causa de uma exigência do FAC (Fundo de Apoio à Cultura), tive de exibir Zirig Dum em São Sebastião e no Varjão. Rapaz, mesmo com o pedido dos professores, os caras não paravam de mexer no celular. Chegou um momento em que eu disse: ;Quem não quiser assistir ao filme, pode sair. Deixa só quem estiver interessado;. Os quatro que restaram ficaram muito emocionados de ver a força do Renato Matos e se identificaram com a criatividade tão contundente dele dentro da precariedade. Mas a experiência me deixou assustado. Esse processo de deseducação vem de longe, mas a situação piorou, há uma adesão nociva a uma cultura passiva, baixa.

O artista precisa mesmo do FAC?
Precisa muito. O artista não tem meios de produção. A cultura está muito diluída por causa do tablet, do celular, das novas tecnologias. No cinema, os filmes que conseguem chegar às salas, precisam de recursos. Até o cara do circuito alternativo nem te ouve se você não tiver acima de R$ 100 mil para te colocar na fila dos 400 filmes que ele vai lançar. O FAC é fundamental, mas tem de aperfeiçoar os mecanismos. A burocracia impede uma série de coisas. Mas, sem investimento, não é possível criar uma identidade artística.

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