Diversão e Arte

Zezé Motta fala sobre as dificuldades que o negro enfrenta no país

Atriz e cantora comemora conquistas e faz show o Teatro da Caixa

Irlam Rocha Lima
postado em 01/11/2014 08:04

Zezé Motta criou centro para cadastrar atores negors e aumentar o mercado de trabalho para eles

A cantora e atriz Zezé Motta, com quase 50 anos de carreira, convive com o status de estrela no universo das artes no país. Militante do movimento negro, ela ainda vê barreiras a serem vencidas no exercício da profissão. ;Já avançamos, mas ainda temos muita luta pela frente. Precisamos de mais autores, produtores e diretores negros atuando. Eles existem e não são aproveitados. Felizmente, percebo hoje uma preocupação na distribuição dos papéis, em não deixar o negro fora das produções.;

Maria José Motta de Oliveira, nome de batismo da artista, nascida em Campos dos Goytacazes (RJ), em 27 de junho de 1944, mãe de cinco filhas e de um filho ; adotados ; e avó de quatro netos, tornou-se conhecida nacionalmente a partir de meados da década de 1970, quando conquistou brasileiros e estrangeiros, com Xica da Silva, personagem vivido por ela no filme homônimo de Cacá Diegues, que se transformou em seu talismã.



Zezé, de volta a Brasília, se apresenta hoje, às 20h, e amanhã, às 19h, no Teatro da Caixa, com o show Negra melodia (mesmo nome do seu CD mais recente). Acompanhada pelos violonistas Pedro Braga e Zeppa Souza, ela interpreta canções de consagrados compositores como Jards Macalé, Luiz Melodia, Chico Buarque, Francis Hime e da roqueira Rita Lee que, em parceria com o marido Roberto Carvalho, a reverencia na música Muito prazer. Um outro clássico do repertório da cantora é Senhora liberdade, de Wilson Moreira e Ney Lopes, que virou hino do movimento das Diretas Já.

[SAIBAMAIS]São expressivos os números que Zezé contabiliza em sua trajetória artística iniciada em 1967, ao atuar na peça Roda viva, de Chico Buarque. São 13 discos, entre LPs e CDs; 30 novelas, 40 filmes, além da participação em espetáculos teatrais. Atualmente ela vive Sebastiana na novela Boogie Oogie, de Rui Vilhena. Zezé falou sobre esses assunto ao Correio.


A mística de Xica da Silva ainda a acompanha?
Quando fui convidada para protagonizar Xica da Silva, a personagem alcançou fama mundial. O papel foi importante, principalmente, à época. Afinal, não era comum ver protagonistas negras em grandes produções. A partir de então, fiz mais de 40 filmes e 30 novelas, além de participar de peças e musicais. Até hoje, me chamam de Xica, apesar de já não ter mais aquele corpinho.

O preconceito racial é algo ainda preocupante no país?

Infelizmente, sim. Recentemente, no programa Encontro com Fátima Bernardes, relembrei do preconceito que sofri durante a exibição da novela Corpo a corpo, na qual formei par romântico com Marcos Paulo. À época, diversas ofensas racistas foram publicadas na imprensa. Fizeram enquete em jornal e teve um homem que disse: ;Será que o Marcos Paulo está precisando tanto de dinheiro para passar por essa humilhação para beijar essa negra feia?;. Um outro escreveu: ;Se eu tivesse que beijar essa negra horrorosa, eu chegaria em casa e lavaria a minha boca com água sanitária;. Lembro de que essas opiniões chocaram muita gente. Por isso, faço parte do Movimento Negro há quase 40 anos e a luta continua, porque ainda temos esse tipo de atitude racista. O comportamento dos torcedores nas partidas de futebol confirma isso.

Qual seu posicionamento em relação à cota para negros nas universidades?
Sou a favor. O Brasil tem uma dívida com os negros que tem que ser corrigida.

Qual sua visão sobre polêmica criada a partir da série Sexo e as nega, de Miguel Falabella?
Lamentei muito a postura de alguns membros do Movimento Negro. Foram agressivos a ponto de ameaçarem o Miguel. Esqueceram que a moeda tem dois lados. O programa não vai ter segunda temporada, deixando excelentes atores negros e brancos desempregados.

SERVIÇO
Negra melodia
Show de Zezé Motta, acompanhada pelos violonistas Pedro Braga e Zeppa Souza, hoje, às 20h e amanhã, às 19h, no Teatro da Caixa (Setor Bancário Sul). Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3206-9448.

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