Diversão e Arte

Exposição mostra a força da arte urbana

O tom de protesto de obras expostas em muros e prédios pelo mundo se adapta ao espaço físico do museu em mostra que chega hoje a Brasília

postado em 25/11/2014 07:00

A peça Everyday a Fresh Load of Compromise - 2006, do inglês Banksy, é única e foi cedida por colecionador para compor a mostra

A arte urbana sai das ruas e vem a Brasília em mostra coletiva que reúne 10 artistas de diferentes nacionalidades, estilos e temáticas. A Street Art ; um panorama urbano ocupa, a partir de hoje, a galeria principal da Caixa Cultural com obras de nomes representativos do gênero da Inglaterra, Itália, França, Estados Unidos e Portugal, que pretendem traçar o perfil do segmento pelo mundo. O inglês Banksy, os franceses Jef Aerosol e Rero, os portugueses Vhils e ;MaisMenos;, os brasileiros Nunca e Herbert Baglione, os italianos StenLex e Pixel Pancho e os americanos HowNosm utilizam as mais variadas técnicas ; pintura, estêncil, colagem, mosaico, instalações, resina, carimbo, montagem e até esculturas.

Os artistas criaram peças especialmente para a exposição. Pixel Pancho, por exemplo, realiza uma obra in loco. A mostra também traz uma peça exclusiva de Banksy. A obra Everyday a Fresh Load of Compromise ; 2006, peça única, foi cedida por um colecionador. O artista inglês, cuja verdadeira identidade é desconhecida, é famoso pelas ações políticas explícistas, que chamam a atenção do mundo, como pintar painéis irônicos no lado palestino do muro que separa a Cisjordânia de Israel. Além dela, mais um trabalho do artista estará na exposição.

De acordo com a curadora, Leonor Viegas, foram vários os critérios de escolha dos artistas. ;Primeiro, eu quis apresentar artistas que tivessem trabalhos na rua e que utilizassem técnicas diferentes. Além disso, também acho interessante ter artistas de diferentes pontos, influências e gerações. A gente tem talentos do fim dos anos 1980, bem jovens, e há o caso do Jef Aerosol, por exemplo, que começou a pintar antes mesmo de esses outros artistas nascerem. Ele foi um dos primeiros a pintar na França, no início da década de 1980;, ressalta.

O italiano Pixel Pancho traz em sua arte o protesto contra a robotização da humanidade

Entrevista // Pixel Pancho

Qual o conceito e motivação da sua arte?
O conceito da minha obra é a vontade do homem de ser Deus. Na cultura ocidental o homem sempre teve um Deus. Temos uma imagem de Deus e não importa o nome, mas temos um Deus em que cremos. Isso faz parte da cultura do homem, de maneira geral. Mas, ao mesmo tempo, o homem está destruindo Deus ou querendo tornar-se um. Com a criação de robôs, inovações tecnológicas para que se tenha uma vida melhor. Mas, com essa vida melhor, o homem se esquece de viver, porque a maioria das pessoas, eu acredito, que nunca viu um pé de milho e tem gente que não sabe como se cresce um pé de tomate. Então, perde-se a sobrevivência real do homem e o contato com a natureza; a percepção que somos animais. E se somos animais, existem regras biológicas que estamos perdendo.

Seu trabalho, então, é uma crítica a essa postura da sociedade?
Sim. É um alterego daquilo que somos. A realidade é que somos robôs ou ovelhas porque a ovelha também é um símbolo do homem de hoje. Porque hoje estamos com o Estado, mas o estado é uma empresa. Nós não fazemos falta ao Estado, que visa tão somente ganhar dinheiro. No momento em que queremos ser outra coisa, o estado nos mata, não fazemos falta. Tudo isso, as regras, as leis está baseado na assinatura do estado. Não é verdade que estamos livres, não é verdade que podemos dizer o que nos dê vontade. Então somos ovelhas e a polícia é o cão-pastor.

Acredita que a sociedade, de um modo geral, não consegue perceber isso?
As pessoas não conseguem ver. As pessoas, por exemplo, só enxergam a nacionalidade; Se são brasileiros, italianos, franceses, isso não importa. Somos todos do mundo. A nacionalidade, para mim, é só uma maneira de falar, o idioma, o sotaque; Não sigo as leis, porque não são minhas.

E quais são as suas leis?
Minha primeira lei é não causar danos às outras pessoas e que as outras pessoas não me causem dano. A segunda é não causar danos ao meu planeta, porque é a minha casa. O Estado não entende isso e as pessoas também não. Sobretudo, agora, aqui no Brasil, há uma revolução industrial muito potente, muito forte e o país está cometendo os mesmos equívocos da Europa e não percebe. Estão destuindo as florestas, os animais; Esta é a regra deles. As pessoas são ignorantes e querem ser ignorantes, porque a ignorância é mais interessante para elas. Porque acreditam que ser ignorante é ser feliz. Não conheço uma pessoa que tenha cérebro que seja feliz.

Por quê?

Porque se usa o seu cérebro, vê o que acontece e não pode permanecer feliz. Eu não estou feliz. Viajo, sim, desfruto da minha vida, mas em todas as partes do mundo o homem é igual à merda. Por isso o homem é uma ovelha. Não sou contra o homem, em si, como animal; sou contra uma entidade que não usa o cérebro, que é a arma que tem. O homem prefere levantar pela manhã, encontrar um trabalho que o pague todo mês e essa é a felicidade que tem. Acredita-se que assim encontra a independência, mas não é assim porque se trabalha pelos outros. Existe uma mentalidade que o trabalho tem que ser cansativo, tem que ser algo que não gosta. Isso faz parte da cultura latina, que o trabalho tem que ser desgastante. E não é assim.

É um falso controle da própria vida?
É um controle que eles, com toda essa cultura, te incentivam a fazer. Então, todo meu trabalho é isso. Estamos nos transformando em robôs. Se você desliga seu cérebro, você é um robô que acorda de manhã, vai ao trabalho e lá tem um cão de guarda, que é o seu chefe, que lhe diz o que fazer. Eles dizem que você pode pensar, mas não pode. Na Itália, por exemplo, existe uma lei que diz que as pessoas não podem morar em treilers porque existem negócios com empresas de materiais de construção.

É um ciclo vicioso?
Exatamente. Por exemplo, os índios do Brasil não viviam em uma sociedade piramidal, havia um chefe que aconselhava, um ancião, mas não havia uma hierarquia em pirâmide. E veio o europeu e trouxe a cultura dele. Os europeus tiveram duas oportunidades de fazer algo bom e estragaram. Então, nós somos o problema. Esse é o meu conceito.

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