Diversão e Arte

Correio seleciona destaques da capital nas mais diversas áreas artísticas

Os artistas do palco estão dispostos a enfrentar a falta de apoio e levar arte para os quatro cantos

Ricardo Daehn
postado em 25/12/2014 09:49

Foi uma bela temporada para Brasília. Depois de 20 anos, um longa brasilense foi vencedor do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Adirley Queirós levou o cinema do DF para as telas de todo o país com Branco sai, preto fica. Na literatura, duas experientes escritoras voltaram a trazer o Jabuti para a capital federal. O teatro respira melhores ares, mesmo em um momento de crise no setor cultural, com tantos espaços públicos fechados. Os artistas do palco estão dispostos a enfrentar a falta de apoio e levar arte para os quatro cantos.

A música ganhou força com o reconhecimento de bandas como Passo Largo e Rios Voadores, que já tocavam por aí, mas, em 2014, conseguiram chamar a atenção de uma audiência mais ampla e diversa. Nossa produção chegou à SP Arte, por meio do fotógrafo Kazuo Okubo e do artista plástico João Angelini.

O ano termina bem representado, diante de uma producente safra. Confira a lista de destaques que a equipe do Diversão & Arte preparou.


Os artistas do palco estão dispostos a enfrentar a falta de apoio e levar arte para os quatro cantos
; Cinema // Para ser visto
Visibilidade é a palavra adequada para entender as conquistas dos criadores de cinema que, profissionalizados em Brasília, ganharam o mundo. Há 35 anos morador da Ceilândia, o diretor Adirley Queirós (foto) cultivou uma carreira a longo prazo sedimentada num processo de equipe (via coletivo CeiCine). Mais do que um impacto de dimensão nacional, alcançado pela vitória no Festival de Brasília, o longa que Queirós assinou, batizado de Branco sai, preto fica, atingiu o objetivo de elevar a autoestima de marginalizados personagens.

Consagrado pela estrondosa e divertida crítica social, ele ainda faturou o prêmio de melhor longa-metragem latino-americano em Mar del Plata. As relações desiguais da sociedade, pontuadas pela ação da polícia pacificadora, nutriram outro representante candango: José Eduardo Belmonte. Com Alemão (visto por 955 mil espectadores), Belmonte conquistou o primeiro posto de bilheteria, no ano, se desprezadas as comédias. Retirado do Festival de Brasília, a pedido dos realizadores, o longa O último Cine Drive-in (de Iberê Carvalho) fez bonito no Festival do Rio, ao render prêmio de atriz coadjuvante para Fernanda Rocha.

Os artistas do palco estão dispostos a enfrentar a falta de apoio e levar arte para os quatro cantos
; Música // Combo de peso
Depois de surgir em 2012 e se destacar em 2013 ; abrindo os shows de Lulu Santos, Skank, Titãs e Paralamas do Sucesso ;, o trio de rock instrumental Passo Largo chega em 2014 como um dos nomes mais fortes da cena musical brasiliense.

Vavá Afiouni (baixo), Marcus Moraes (guitarra) e Thiago Cunha (bateria) começaram bem o ano com o Marca Passo, projeto semanal no Outro Calaf, em que tocaram com convidados especiais, entre eles BNegão, André Gonzales (Móveis Coloniais de Acaju), Emília Monteiro e Dillo Araújo.

A temperatura esquentou no segundo semestre, quando o Passo Largo foi convidado a compor e executar uma trilha original para o filme Metrópolis, na abertura da Retrospectiva Fritz Lang. Depois, foi a vez de animar o Festival de Brasília, com show no Cine Brasília, e durante a festa não oficial do evento, a ContraPlano. O trio também tocou na festa de retorno da Funfarra.

A parceria com Gaivota Naves, uma das vocalistas da banda Rios Voadores, que cantou com o trio em várias ocasiões, também foi sucesso absoluto entre o público. Assim como o Passo Largo, o Rios Voadores foi um dos destaques do ano. As duas bandas devem aparecer ainda mais em 2015, com o lançamento de seus respectivos discos.



; Outros nomes de destaque

; O músico e produtor Kelton lançou o ótimo EP Todo amor do mundo e recebeu dois prêmios no 3; Festival Curta Brasília: Melhor videoclipe por Júri Popular e o Troféu Ursa de Ouro de melhor videoclipe pela faixa Sem concerto

; A banda Sexy Fi concorreu ao Premio Multishow 2014 na categoria Nova Canção, com a música Pala noturna

; Depois de poucas apresentações, o Muntchako ; nova banda do DJ Barata (Criolina) com os músicos Samuel Mota e Macaxeira Acioli ; fez muito barulho e mostrou que veio para ficar

; O cantor e percussionista Breno Alves, integrante do grupo Adora-Roda, foi um dos 12 finalistas do 8; concurso Novos Bambas do Velho Samba, do Carioca da Gema (RJ)

; Filho de famosos DJs brasilienses, Alok foi um dos nomes de maior destaque da capital. Suas produções viajaram o Brasil inteiro em 2014 e também agitaram baladas da cidade


Os artistas do palco estão dispostos a enfrentar a falta de apoio e levar arte para os quatro cantos
Os artistas do palco estão dispostos a enfrentar a falta de apoio e levar arte para os quatro cantos
; Literatura // brasilienses premiadas
Tarefa árdua eleger o nome da literatura brasiliense em 2014. Na dúvida, melhor ficarmos com as duas autoras que, igualmente, carregaram Brasília: Tânia Rivera (foto à direita) e Stella Maris Rezende. Além da recepção crítica dos lançamentos recentes, as escritoras receberam clamor nacional por conta do Prêmio Jabuti deste ano, nosso mais importante prêmio de literatura.

O avesso do imaginário, de Tânia, foi laureado como melhor obra de Psicanálise e Psicologia, enquanto As gêmeas da família, de Stella, ficou em segundo lugar na categoria Juvenil. ;É muito difícil ganhar o Jabuti porque a seleção é criteriosa, são muitas categorias e a gente não sabe qual é esse júri, quais são os critérios;, comentou Stella, em entrevista recente ao Correio.

Com 35 anos de carreira, Stella dedicou praticamente toda a obra ao público juvenil. A colega Tânia prefere o leitor adulto e os temas relacionados à psicanálise. O avesso do imaginário é o quinto livro de uma série que se debruça sobre as relações da psicologia com a arte. (Colaborou Nahima Maciel)


Os artistas do palco estão dispostos a enfrentar a falta de apoio e levar arte para os quatro cantos
; Teatro//Um diretor visceral
Há uma nova geração em Brasília disposta a fazer teatro, seja como for. Mesmo sem palcos, eles invadem as ruas, inovam e provocam. Encontram o público. Entre eles, vale ressaltar o belo trabalho do jovem Jonathan Andrade (foto). Somente este ano, o diretor e ator esteve envolvido com, pelo menos, cinco trabalhos.

Em Ruas de ontem, Jonathan juntou-se a grande elenco para falar do mal de Alzheimer, e apresentou-se em Taguatinga, Ceilândia e no Varjão. Porém, foi como diretor que ele marcou a última temporada. Sua marca pôde ser vista em Cortiço ; Uma metamorfose lírica, no lírico Poeira ou ainda no trabalho coletivo Aisthesis.

Mas foi por conta de Autópsia que ele escreveu importante capítulo do teatro brasiliense. O espetáculo, de Plínio Marcos, foi o destaque local do Cena Contemporânea. Sem medo de levar um elenco às últimas consequências, ele provocou uma catarse como há muito não se via.

Eles também brilharam...
; Sérgio Maggio, dramaturgo e diretor
; Juliana Drummond, atriz e diretora
; Roustang Carrilho, ator e cenógrafo
; Rodrigo Fischer, diretor e ator
; Os artistas que se acorrentaram em prol do FAC


Os artistas do palco estão dispostos a enfrentar a falta de apoio e levar arte para os quatro cantos
; Artes plásticas e fotografia // projeção
Professor de gravura, animação, fotografia e tridimensionalidade da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, desde 2008, João Angelini (foto) ganhou sua primeira mostra individual em São Paulo, este ano. Esforço repetitivo, inclusive, fica em cartaz até 24 de janeiro por lá. Entre as obras selecionadas, percebe-se a destreza do artista em lidar com o vídeo de forma crítica, principalmente por meio da técnica de stop-motion. Querido pela crítica especializada, Angelini chega cada vez mais próximo de um amplo reconhecimento do público.

A fotografia de Brasília também alçou longos voos. Seja por meio do concorrido Kazuo Okubo, que estreou na SP Arte, de Diego Bresani, convidado a fotografar Marta Suplicy, Sebastião Salgado e Jean Wyllys, ou de Humberto Araújo, fotógrafo oficial do Cena Contemporânea, que acabou convidado a integrar a equipe do maior encontro de teatro do país, o Festival de Teatro de Curitiba.


Os artistas do palco estão dispostos a enfrentar a falta de apoio e levar arte para os quatro cantos
; HQs // Elas e eles

Brasília é um celeiro de artistas nas histórias em quadrinhos. Sob o formato de zines ou com publicações na internet, é possível ressaltar vários nomes da cidade neste ano. O grande destaque ficou por conta da Garota Siririca, produzida pela artista Lovlov6 (foto), que conta histórias de uma garota viciada em masturbação, publicado no blog da revista Samba desde 2013.

A intenção da HQ é colocar em pauta a masturbação feminina, vista ainda de uma forma não natural pela sociedade. Recentemente, a artista Lovlov6 fez um projeto no site Catarse com o objetivo de publicar um livro com todas as histórias, sendo uma inédita, da Garota Siririca.

; Outros projetos que fizeram sucesso
; O Aguardado, de Augusto Botelho, divulgado pela revista Mês
; Mondo Colosso, com ilustrações de Mateus Gandara e roteiro de Vitor Vitali
; Breve, com ilustrações de Heron Prado e roteiro de Vitor Vitali
; Aerolito 2, de Lucas Marque e Bruno Prosaiko
; O selo Piqui, de Tais Koshino e Livia Viganó

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