Diversão e Arte

Wilson Souto Jr. fala da produção musical do Lira Paulistana

"A grande dificuldade de lançamentos de artistas novos, naquela época, era a profunda dependência que tinha pelo rádio ou televisão"

postado em 21/04/2015 07:37


Como foi o surgimento do Lira Paulistana?

Um pouco antes da fundação do Lira, eu tocava na noite de São Paulo, om bandas novas, e tinha uma necessidade de ter locais fixos dedicados a música exclusivamente. Acho que essa foi a grande diferença do Lira para os lugares que vieram depois. O Lira não era balada. Não era um lugar que as pessoas iam para beber. Era um auditório, uma arquibancada de madeira, que cabia duzentas e poucas pessoas sentadas e o máximo que se consumia lá dentro era uma cerveja em lata. O foco principal era aquilo que estava acontecendo no palco, no artista. Pegamos o cenário de uma juventude sem espaço para mostrar as propostas musicais. E isso fez com que o Lira se tornasse o ponto para esses caras, inclusive com repercussão pelo Brasil todo. Estávamos saindo da ditadura, a imprensa aderia muito às tentativas de linguagem novas etc. Tudo o que acontecia no Lira era muito noticiado nos jornais de São Paulo. Isso fez com que ele criasse essa aura de lugar que tinha uma atividade artística bastante grande. O grande problema é que essa geração criou um publico tão grande que o Lira não comportava fazer shows para 200 pessoas. Então, eles começaram a se apresentar em outros teatros, principalmente o Sesc, que foi inaugurado um pouco depois do Lira, e que começou de uma certa forma a ter uma programação muito semelhante a nossa. Eles viam o que dava certo e convidavam para dar continuação por lá.

[SAIBAMAIS]Quais eram os empecilhos para se manter um espaço desse?
Comercialmente se mantinha muito bem. O artista tinha uma responsabilidade com a gente. Entregávamos o espaço com som, luz, todas as condições para o cara fazer show. O Lira se mantinha muito bem, pois o artista era responsável por 25% da lotação do espaço, com um preço de ingresso que, na época, era bastante tranquilo, acho que hoje daria uns R$ 15 a R$ 20 reais. Essa era uma garantia minima que a casa cobrava do artista, mas entregava toda a produção. Inclusive, na segunda etapa do projeto, tínhamos uma assessoria de imprensa. Não tinha problema de dinheiro. É um modelo, aliás, que poderia ser aplicado hoje com muita tranquilidade. Talvez os preços sejam mais caros, mas como lugar de propagação ou agente cultural, é um modelo que falta, principalmente com essa flexibilidade.

Qual sua visão a respeito dos espaços físicos para divulgação de novidades de produção musical?
Eu acho que falta muito. Estamos em um momento muito ruim para isso. Você tem o Sescs que são referência e acabam virando o local que esses artistas fazem show em dois ou três dias e só. Não há outros lugares que tenham temporada, que tenham esse formato do Lira. Depois do Lira, fui trabalhar em gravadora nacional. A grande dificuldade de lançamentos de artistas novos, naquela época, era a profunda dependência que tinha pelo rádio ou televisão, que eram disputadíssimos. Os teatros não tinham como fazer essas temporadas para o artista criar o publico. Então, era muito difícil o trabalho de propagação de uma proposta física para um novos artista..

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Voltando ao termo de vanguarda, existe hoje algum grupo que faz o queo Arrigo, o Itamar faziam? Tem gente nova fazendo coisa nova?
Tem muita gente trabalhando ; e no meio dessa gente, muita gente boa. Na verdade, eles em contato com o público, com o palco, poderia amadurecer o próprio trabalho, amadurecer a própria linguagem. A matéria-prima não faltaria, o que falta realmente são espaços, esses espaços de multiplicação. Não tenho dúvida disso. Às vezes, recebo trabalho na gravadora que são impecáveis, mas quando você pensa em lançar um trabalho desses; Graças a Deus, temos a internet que nos ajuda muito. Mas a web também é uma coisa extremamente vasta. Ela substituiu um pouco, fez um bem para os artista, tirou um pouco da importância excessiva das rádios, dos meios tradicionais. A internet fez com que a rádio se acalmasse um pouco nesse aspecto.

De que forma você acha que aqueles artistas daquele momento afetaram a música brasileira? Ou você acha que o impacto ainda está sendo absorvido?
Como teve uma geração que de fato acompanhou o Lira aqui em São Paulo, essa geração sabe exatamente a proposta que existia em relação a esse trabalho. Itamar Assumpção ainda é um descoberta para muita gente no Brasil inteiro, a pessoa tem referência, mas não tem o conhecimento mais profundo da proposta artística dele, do Rumo. Na verdade, essas coisas ficaram, não atingiram o grande público, mas influenciaram muito essa nova geração de artistas. Zeca Baleiro é um fruto dessa influência, dito por ele. De fato, há pessoas que vem até a gravadora, que tem um conhecimento bastante razoável dos artistas. E que pedem, às vezes, ;você não tem ainda um disco do catalogo do Itamar?;, e eu não tenho ainda na gravadora todos os discos do catálogo do Itamar, tenho o que a gente fez para a atração e o primeiro disco dele que é o Beleléu, leléu e eu, que deu o start na carreira fonográfica dele. Mantenho em catálogo e ainda hoje se vende. É uma referencia ainda extremamente moderna.

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