Diversão e Arte

Múltiplo, Rodrigo Fischer atua, dirige e produz peças de teatro

Com 20 anos de carreira, o artista lembra da parceria com Antonio Abujamra e se mostra otimista com relação à política cultural

postado em 24/05/2015 08:02

Rodrigo Fischer:

Ator, diretor, acadêmico. Rodrigo Fischer é múltiplo, assim como seu trabalho. Com 20 anos de carreira, ele é um dos principais e mais inventivos artistas de Brasília. Nas produções mais recentes, como Misanthrofreak, ele analisa relações de cinema, de teatro e de tecnologia. ;A tecnologia é muito sedutora. Por isso, é importante pensar até que ponto ela pode contribuir para o seu discurso;, destaca. Em agosto, ele mostrará ao público do Cena Contemporânea o espetáculo 2%2b2=2, que teve estreia em fevereiro, na Geórgia. A convite do Akhmeteli Theatre de Tbilisi, Fischer montou uma peça em menos de um mês, com atores que falam apenas georgiano, mas não têm barreiras de idioma. ;Uso a legenda de uma outra maneira que não a tradicional. Ela é quase uma personagem, pois tem uma postura crítica;, adianta.

Como o teatro entra na sua vida?
O modo como o teatro entrou na minha vida foi um pouco peculiar. Eu não tinha interesse. Não existia aquela história: ;Sempre quis isso desde pequenininho;. Ou era o cara engraçado, contador de histórias. Pelo contrário, nunca tive o estereótipo de ator, que é desinibido. Fui para o teatro justamente para ser menos tímido. Minha família não tem uma tradição cultural, então, vi poucas peças quando era criança. Em 1995, entrei em um curso na Casa do Candango, com o Plínio Mósca. A partir dali, fui dominado pelo teatro e cheguei à conclusão que era o que queria fazer da vida. Eu era o pior da turma. Não conseguia decorar um texto. Acho que sempre busquei desafios e o teatro foi o maior deles.

Então, em 2015, você completa 20 anos de carreira. Existe algum momento mais marcante nessa trajetória?
Aos 18 anos, decidi morar no Rio de Janeiro, com total apoio dos meus pais. Fiz o curso do Tablado, mas foi uma total decepção. Lá, o teatro era voltado para a televisão e não era aquilo que eu queria para mim. Porém, também foi no Rio onde conheci o grupo Os Fudidos Privilegiados, dirigido pelo Antônio Abujamra (1932-2015). Eles eram transgressores, totalmente diferentes do que via no Tablado. Ali, decidi: ;quero ser diretor, não quero ser ator;. Depois disso, voltei para Brasília e, em 2001, criei o grupo Desvio, que me acompanha até hoje. A Universidade de Brasília (onde Rodrigo estudou artes cênicas e, atualmente, faz pós-doutorado) era minha escola de verdade, mas o Desvio era a minha escola íntima, em que eu tinha liberdade para fazer tudo.

Em 2008, você participou de Os demônios, de Fiódor Dostoiévski, dirigida por Antônio Abujamra e Hugo Rodas. Qual era sua relação com Abujamra?
O Hugo me convidou e fiquei muito feliz. Quando morava no Rio, o Antônio Abujamra era uma das minhas inspirações, então, em Os demônios foi a chance de trabalhar com um cara que sempre adimirei. Ele tinha um senso de humor incrível e soltava várias pérolas. Abujamra dizia que o fracasso era muito bom e que a maioria das peças dele foram verdadeiros fracassos. Eram essas montagens que importavam para ele, pois era quando ele ousava mais. De certa forma, ele me influenciou, afinal, tudo que tenho feito tem a ver com o fracasso. Abujamra foi uma figura marcante.

Como você avalia o atual cenário da cultura no DF?
Há várias pessoas dentro do governo que são com uma mentalidade renovada. Diante disso, ficamos mais esperançosos. Porém, quando vemos o panorama geral do Brasil, a situação da Funarte e das poucas leis de incentivo que existem e precisam ser revistas, o cenário muda. Para o governo, sempre há um ano de transição, mas é preciso entender que o artista não para de produzir. Os próximos meses serão difíceis para a cultura, mas fico otimista pelas pessoas que estão lá, como o Juca Ferreira e o Guilherme Reis.

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