Diversão e Arte

José Leonilson é tema de documentário exibido sábado no CCBB

A paixão de JL faz parte da programação do festival É tudo verdade

Nahima Maciel
postado em 30/05/2015 08:04

Em A paixão de JL, Carlos Nader mostra a história de um homem que quer ser livre

O artista José Leonilson deixou pelo menos 20 horas de fitas gravadas entre 1990 e 1993. São narrativas nas quais fala de si mesmo, do próprio trabalho, dos desejos e das angústias. Leonilson gravava com a intenção de transformar o material em livro, mas a morte o levou antes que pudesse concretizar a ideia. O artista morreu de aids em maio de 1993. O cineasta Carlos Nader sempre soube das fitas que o amigo gravou. Quando o Itaú Cultural começou a tocar o projeto Sob o peso dos meus amores, exposição com 300 obras do artista realizada em 2011, pediu a Nader que fizesse um documentário. Ele topou e fez algo no formato tradicional, mas sob a condição de receber apoio para fazer também um filme mais autoral. A paixão de JL, vencedor do 20; É tudo verdade, é fruto de uma intimidade e de um olhar tão delicados que não se pode querer ver na obra apenas o perfil de um personagem.

Não é o Leonilson artista que Nader apresenta, mas um homem engolido por uma angústia existencial e uma tragédia sombria. O filme, em cartaz neste sábado (30/5), às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), conduz o espectador pela narração desse personagem que equilibra no mesmo fio sofrimento, fragilidade e vontade de viver.

"É um caldo de vida que tem ali, não propriamente uma história, e minha função era extrair dessa coisa múltipla, diversa, uma história com personagem", avisa Nader. "Um documentário não é uma biografia, não é a vida, é um filme, uma história contada. A história de um documentário não é muito diferente de um filme com uma história de ficção, é preciso ter aspectos bem definidos para entreter, contar uma história. É uma narrativa temporal. Defini um viés, que era esse da vida amorosa dele."

A paixão de JL é a história de um homem que quer ser livre e, para isso, precisa da arte e de uma vida afetiva completa. Leonilson estava pronto para viver uma relação e, quando encontra um namorado e se apaixona, descobre ser HIV positivo. O medo da morte, a hesitação em contar para a família, a evolução da doença e a dor de não poder viver a relação, mas também o cotidiano de um país revirado pela era Collor aparecem nas fitas narradas em forma de diário. A sensibilidade e a delicadeza de Nader ao editar o material se traduzem na construção de um personagem sóbrio sem deixar de ser emotivo.

;O Leonilson, quando gravou as fitas, construiu um personagem. Era ele mesmo, por se tratar de uma autobiografia, e não apenas um diário feito para ele mesmo. E é muito parecido com o trabalho dele, tem uma coisa de buscar uma simplicidade, mas uma simplicidade potente. Isso também foi uma coisa que aprendi fazendo o filme: a simplicidade do Leonilson carrega

uma potência impressionante;, avisa o diretor.

Nos primeiros momentos, Leonilson revela sua vontade de encontrar alguém e de se concentrar no trabalho. Um dos expoentes mais importante da Geração 80 e autor de uma obra essencialmente pessoal e intimista, o artista transporta para a arte a própria vida, o próprio cotidiano. Nader deixa essa simbiose evidente ao intercalar obra e fala, mas é Leonilson quem dá conta de toda a narrativa. A angústia é um ponto constante na fala do artista.

[SAIBAMAIS]"Ser gay hoje em dia é o mesmo que ser judeu na Segunda Guerra", diz, ao se referir ao medo da Aids que assombrava a comunidade gay nos anos 1990. A dificuldade em dividir com a família tanto a homossexualidade quanto a doença é um dos momentos mais delicados do filme.

A paixão de JL

Filme de Carlos Nader. (Brasil, 2014, 1h22) Classificação indicativa: 14 anos. Sábado (30/5), às 20h, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB ; SCES Trecho 2)

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