Diversão e Arte

Trabalhos de artistas valorizam a cultura afro

No mês da Consciência Negra, o Correio mostra alguns cantores que buscam essa essência em seus trabalhos

Adriana Izel
postado em 11/11/2015 07:31
No mês da Consciência Negra, o Correio mostra alguns cantores que buscam essa essência em seus trabalhos
;A verdade é que você/ (todo brasileiro tem)/ tem sangue crioulo/ tem cabelo duro/ sarará crioulo.; A canção eternizada na voz de Sandra de Sá reverbera até hoje como hino contra o racismo no Brasil. A música foi escrita pelo cantor baiano Macau em um momento de indignação. ;O que me motivou foi a questão de responder a um ato de discriminação que eu sofri. Eu fui preso no Rio de Janeiro durante um evento na Lagoa. Fui abordado e detido sem qualquer motivo. Os policiais me chamaram de folgado e foram preconceituosos. Uma das minhas respostas foi: o mesmo sangue que corre na minha veia corre na sua;, conta Macau ao Correio.

[SAIBAMAIS] No Brasil, apesar da miscigenação, as raízes africanas são, diversas vezes, ignoradas pela população que, em parte, não se identifica como descendente dessa cultura. Além disso, ainda hoje ; 127 anos depois da abolição da escravidão no país e 30 anos da composição de Olhos coloridos ;, é possível encontrar diversos casos de racismo, seja no dia a dia seja na internet, como aconteceu recentemente com a atriz Taís Araújo, vítima de comentários preconceituosos em seu perfil no Facebook.

;Achei que a música seria só minha, um ato de manifestação individual. Mas ela realmente serve para todos e para mostrar algo que acontece nos dias de hoje. O preconceito vem da sociedade que não admite o fato de ser negra, de ter essa raiz, de estar em seu sangue... Tem melhorado bastante, mas ainda é preciso conscientização e lutar. Esse conhecimento tem que começar nas escolas porque a história do negro foi abandonada. Essa canção vem de um grito negro estampado, guardado, magoado. Acho que a música é uma forma de poder;, defende o baiano Macau.

Poder esse que é valorizado por diversos artistas negros espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Eles buscam pela arte reconhecer suas raízes africanas e dar voz às questões relacionadas à população negra, fazendo isso tanto pela sonoridade quanto pela letra das canções. No mês da Consciência Negra, o Correio mostra alguns cantores que buscam essa essência em seus trabalhos.

Um conflito nada particular
No mês da Consciência Negra, o Correio mostra alguns cantores que buscam essa essência em seus trabalhos
Desde o primeiro disco lançado em 2008, o mineiro Flávio Renegado faz rap sobre a realidade das minorias. No mais recente trabalho, o EP Relatos de um conflito particular, ele faz uma analogia dos problemas atuais com os sete pecados capitais. Em Só mais um dia, primeiro single do trabalho, o cantor diz ;pra que tanto rancor dentro do peito/ se temos a mesma cor, viemos do mesmo gueto (...) diz que é da paz, mas o espírito está em guerra/ nas redes sociais em capslock você berra;. Ele fala de temas como racismo, a utilização das redes sociais para disseminar o ódio e o assassinato de jovens negros, pauta que o artista vem discutindo há alguns anos.

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;É uma forma de chamar a atenção para casos que continuam acontecendo, como o genocídio de jovens negros. Não são balas perdidas, são balas achadas. Elas têm nome, sobrenome e endereço. É sempre o mais desfavorecido. Esse álbum é raio X da sociedade;, explica. Sobre o título do EP, o artista diz que é uma questão particular quando são os negros contra os brancos, os homens contra as mulheres: ;O que quero é instigar o pensamento, criar reflexões e ideias;.

Recomendado à sociedade
;No atual momento, diante de uma sociedade patriarcal, homofóbica e racista, a música precisa ser ferramenta de combate. Uma arte para pensar, que se propõe a quebrar paradigmas.; E não poderia ser diferente, de acordo com o jovem cantor carioca Caio Prado, responsável pelo discurso. ;Embora eu fale de amor, paixões, em minhas canções, eu tento evocar o debate em torno das minorias em meu trabalho. Levantar a bandeira do oprimido. É meu principal objetivo;, conta.

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A sonoridade singular e a expressiva voz, aos poucos, começam a jogar luz sobre o artista, que alterna entre Rio e São Paulo. Depois do lançamento do disco Variável eloquente, Caio chamou a atenção de público e crítica. Mas foi com a canção Não recomendado que o cantor e compositor arrebatou uma plateia fiel. Em certo trecho, canta: ;A placa de censura no meu corpo diz: não recomendado à sociedade;. Na letra, fala da condição do negro, do gay, de todos que apanham diariamente por serem ;não recomendados; sob olhos de um país enraizado no preconceito.

Essência negra
No mês da Consciência Negra, o Correio mostra alguns cantores que buscam essa essência em seus trabalhos
Assim que a voz roca do paulista Liniker ecoou pelas redes sociais, o cantor foi descoberto pelos quatro cantos do país. Aos 20 anos, com apenas um EP na carreira, Liniker despontou e mal tem dado conta do cotidiano, outrora calmo, agora insano. Nos três vídeos lançados na internet, e gravados em casa, o artista aparece com brincos, turbante e saia.

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No rosto maquiado, a expressão de um cantor que provoca não somente por meio da voz, mas pelo figurino, pelo batom e pelo prazer estampado ao cantar os versos de Zero, Caeu e Louise Du Brésil. O som é essencialmente negro e nos leva a batidas do soul, do funk e do rhythm and blues. De James Brown a Nina Simone. A alma da Motown Records permeia as faixas.

Vivendo sem medo

Com pais nascidos na Guiné Equatorial (país da África ocidental), a espanhola Concha Buika foi criada rodeada da cultura africana e também cigana. Essa influência fica visível em sua forma de canto e na sonoridade de algumas músicas, apesar de mesclar também referências da música espanhola, como o flamenco, e norte-americana, por meio do R e do jazz.

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Sua carreira começou nos anos 2000, quando lançou o primeiro disco. Neste ano, a artista voltou ao mercado com o álbum Vivir sin miedo, em que faz uma parceria com o cantor Jason Mraz em Carry you own weight, em que diz que é preciso eliminar o medo e acreditar em si, algo que em sua infância Buika não fazia muito, como admitiu em entrevista recente ao Programa do Jô. ;Você pode correr se quiser/ desaparecer de um avião/ mas não pode se esconder de si mesmo;, diz a letra da faixa.

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