Enquanto o clima festivo hiperbólico deste período nos leva a crer que o carnaval se resume à alegria da população, as artes e a academia se debruçam sobre nossa maior manifestação popular e provocam reflexões que transgridem a superficial celebração que vemos nos sorrisos dos foliões, nos passistas das agremiações cariocas e no colorido do confete e da serpentina.
Carnaval não é só festa. Embora a sensação de felicidade instantânea seja mais convidativa, o feriado pode nos trazer metáforas instigantes sobre nosso cotidiano. De uma hora para a outra, aparentemente, os dramas sociais desaparecem. A intolerância racial, sexual e religiosa esmaece. Hierarquias, classes, rendas não contam. Um ambiente igualitário, onde todos, sem distinção, são bem-vindos.
Não é bem assim. ;Estamos em um momento catártico da cultura, totalmente sui generis. Algo que não vemos no resto do ano. Ironicamente, ainda que o carnaval seja um momento destacado da realidade, talvez seja nossa melhor oportunidade de confrontá-la;, observa o sociólogo e ator Rodolfo Godoi.
Ele enumera alguns exemplos: ;Os conflitos carnavalescos, que, muitas vezes, permanecem velados, representam dificuldades do cotidiano nacional. Passamos uma corda em volta do bloco e dividimos aqueles com abadá e aqueles sem. Temos o litígio do Estado contra o indivíduo, principalmente no que diz respeito ao cercear da liberdade. O assédio sexual contra as mulheres, o machismo;.
De alguma maneira, Roldolfo evoca os heróis, malandros e renunciadores esmiuçados pelo antropólogo Roberto DaMatta, que se tornou referência no assunto ao propor uma discussão da estrutura social brasileira a partir do carnaval.
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