Diversão e Arte

Novo livro de Olivia Laing é marcado pela sensibilidade

Obra Viagem ao redor da garrafa une autoficção mesclada à biografia de personagens reais

Nahima Maciel
postado em 30/03/2016 07:20

Trabalho da escritora inglesa faz intersecções entre a vida da autora e suas temáticas

Desesperado para explicar a natureza do personagem Brick na peça Gata em teto de zinco quente, Tenessee Williams escreveu, no início de dezembro de 1954, uma carta na qual refletia sobre o hábito de beber. Não dele, mas do personagem. O texto era uma resposta ao diretor Elia Kazan, que adorara a peça, porém não se sentia convencido pelo alcoolismo de Brick. Williams escreveu então o que pensava sobre o assunto e concluía que um homem bebe por dois motivos: aplacar o medo de algo e pela dificuldade em encarar a verdade. No fim, o escritor deixa um testemunho dramático ao admitir ser uma pena que toda a obra esteja ;intimamente vinculada à personalidade daquele que a produz;. Williams compreendia que a bebida pode ter efeitos devastadores.

O alcoolismo era um tema que o escritor conhecia bem, assim como uma boa leva dos autores mais importantes da primeira metade do século 20. A britânica Olivia Laing percebeu que, além da bebida, havia algo em comum entre muitos desses gênios. Timidez, isolamento, sensação de deslocamento e uma percepção de que o álcool alimentava a criatividade pareciam costurar a história dos grandes nomes da literatura. Olivia foi atrás de autores que possibilitassem tecer uma narrativa sobre o tema. Escolheu Tennessee Williams, Ernest Hemingway, John Nerryman, John Cheever, F. Scott Fitzgerald e Raymond Carver, nomes cuja obra admirava. Assim nasceu Viagem ao redor da garrafa ; Um ensaio sobre escritores e a bebida, eleito o livro do ano de 2013 pelos jornais The New York Times e Observer e pela revista The Economist, mas somente agora traduzido no Brasil.

O terceiro livro da escritora britânica combina elegância, delicadeza e sensibilidade capazes de comover o leitor sem um pingo de pieguice sequer. É, aliás, o requinte da narrativa de Olivia que tem despertado a atenção dos leitores e da crítica. Em The lonely city, recém-publicado nos Estados Unidos, ela parte da própria solidão experimentada ao se mudar para Nova York para descobrir a produção artística de gente que também tratou do isolamento, como Edward Hopper e Andy Warhol. Em To the river (2012), Olivia faz uma biografia do Rio Ouse, no qual Virgínia Wolf se suicidou.

Viagem ao redor da garrafa não é ficção. O que Olivia faz é uma autoficção mesclada à biografia de personagens reais. O ponto de vista de um narrador onisciente nunca é suficiente para a autora. É em primeira pessoa que ela escreve, mas não há motivo para se sentir alarmado com esse detalhe. Os livros da inglesa são como extensas reportagens, poéticas e com uma dose maior de subjetividade que aquela permitida no jornalismo, prática paralela que ela exerce como colunista do The Guardian e em críticas de arte e literatura.

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