Diversão e Arte

Camila Pitanga critica o atual cenário político brasileiro

Atriz falou sobre o fim do Ministério da Cultura e a ausência de mulheres na nova formatação ministerial

Diário de Pernambuco
postado em 19/05/2016 09:15

Atriz falou sobre o fim do Ministério da Cultura e a ausência de mulheres na nova formatação ministerial

A atriz Camila Pitanga, no ar em Velho Chico, usou o Facebook para comentar o atual cenário político brasileiro. Entre os temas abordados pela artista, o "desmantelo do Ministério da Cultura" e a "ausência de mulheres e minorias na composição do novo ministério", escreveu.


"Ninguém me convence que colocar uma pessoa do DEM para assumir um ministério híbrido em cultura e educação foi para valorizar qualquer dos dois fundamentais alicerces de desenvolvimento nacional e preservação, valorização, da nossa história", comentou, ao se referir ao ministro da Educação e Cultura, Mendonça Filho.

Parte do grupo dos artistas que criticam o fim do Ministério da Cultura pelo presidente interino Michel Temer, a atriz falou sobre a força das redes sociais. "Foi com a ausência de pudores e temores sobre o público das redes sociais que descobri uma turma pra chamar de minha. Que junto comigo se inspira vendo os secundaristas fortalecendo um ativismo extremamente consciente e guerreiro", destacou.

Camila Pitanga está no elenco de Velho Chico, exibida na faixa das 21h, pela Globo. A trama também conta com atores pernambucanos. Entre os nomes que compõem a produção, Irandhir Santos, Renato Góes e Maciel Melo. Dirigida por Luiz Fernando Carvalho, a novela é considerada um marco da teledramaturgia brasileira por incluir uma regionalização.

Confira a nota na íntegra

Desencanei?

Ontem saiu um reportagem no segundo caderno do Globo. Fiz a entrevista há mais de uma semana. O objetivo era divulgar a novela de que estou fazendo parte com muito orgulho e acho que nisso, a entrevista cumpre bem o seu papel.

Acontece que quando fiz a entrevista, parte da tragédia política por que passamos, estou cá me referindo à traição da democracia através do golpe, ainda não havia sido plenamente consumada. Nem mesmo vivíamos em um país cujo retrocesso se materializa, entre tantas outras coisas, no desmantelamento do Ministério da Cultura e na ausência de mulheres e minorias na composição do novo ministério.

Ninguém me convence que colocar uma pessoa do DEM para assumir um ministério híbrido em cultura e educação foi para valorizar qualquer dos dois fundamentais alicerces de desenvolvimento nacional e preservação, valorização, da nossa história.

Voltando ao título da matéria, que me faz escrever hoje, numa época em que as pessoas se apegam a chamadas, sem sequer conhecer o conteúdo das notícias, quero esclarecer. A expressão ;desencanei" foi dita num aspecto muito específico: minha participação nas redes sociais em uma fase que meu nome era associado a críticas por conta do trabalho em Babilônia.

Eu desencanei foi de me ater sem freios a críticas. Olhar o lado negativo da rede. E descobri, com auxílio de profissionais que me fizeram enxergar isso, que a internet era maior que as críticas. Que naquele mesmo ambiente inóspito, em um primeiro momento, eu poderia encontrar - e de fato encontrei - pessoas interessadas em compartilhar momentos, histórias e brincadeiras comigo.

Foi com a ausência de pudores e temores sobre o público das redes sociais que descobri uma turma pra chamar de minha. Que junto comigo se inspira vendo os secundaristas fortalecendo um ativismo extremamente consciente e guerreiro.

Que me ouve contar a história de Rosa Parks e aprende comigo e com tantas mentes inspiradas que dialogam no Twitter sobre o feminismo e a causa negra.

Que me vê com cara de sono, sem maquiagem, comendo marmita. Porque é assim que pode ser. Há uma geração que está semeando uma força de mobilização altamente transformadora e quem sou eu pra me manter distante dela? Ou pouco próxima ?

Leio críticas, agressões e elogios considerando sempre o nosso sagrado direito de dialogar. E de compartilhar pensamentos. Foi desencanando - ou dialogando - que o meu solitário protesto contra um ministério desprovido de pluralidade teve eco em mais de um milhão e duzentos mil corações.

Foi com esse desencanar que vi e ouvi muitos que não se enquadram no mimimi de ser do lado azul ou vermelho, pessoas que estão perplexas com a volatilidade dos acontecimentos mas se sentem meio sem lugar.

Fiquei um bom tempo assim.
Por ser enteada da minha amada Bené, muitos me identificam como categórica petista, como uma mancha, uma cicatriz, que eu precise negar ou enaltecer.

Pois então vamos à história: aos 16 anos participei de muitas campanhas ao lado de Luiz Inácio Lula da Silva. Me orgulho muito disso. Participei ativamente, mas não me tornei uma política. Fui totalmente engajada na defesa de uma ideologia que ali estaria representada.

Quando foi deflagrado o escândalo do mensalão, sofri uma das piores decepções da minha vida. Foi quando realizei que o tal propagado pragmatismo político era costurado por uma trama densa, suja em corrupção sistemática e endêmica; Foi um choque que levei meses pra conseguir digerir. E ainda não terminei.

Daí tomei uma decisão (de que não me orgulho, mas que fazia sentido para mim): nunca mais participar de campanhas políticas PARTIDÁRIAS. Escrevo em caixa alta pois quero deixar bem claro que minha escolha não é uma negação da política. Não acredito na construção de um país sem ser com uma sociedade engajada politicamente.

Como parte do MHuD ou, mais recentemente, como Embaixadora da ONU Mulheres Brasil, meu corpo e minha alma estão lá dedicados a me envolver com temas que considero fundamentais discutir e defender: lutar pelos direitos humanos, seja no combate ao trabalho escravo, seja falando sobre a luta pelos direitos das mulheres, seja para lutar pelo meio ambiente.

E é com essas características e valores que forjo minha militância política no sentido de convergir ideias para essa temática tão carente de representação na história do Brasil e que eu, orgulhosamente, faço ao lado de grandes brasileiros amigos.

Nesse texto não estou acrescentando frases lapidares sobre o que estamos vivendo, mas é importante, para mim, esclarecer que eu DESENCANEI sim de ser a dona da palavra, da verdade ou da razão. A minha presença nas redes sociais é de diálogo, amor e entendimento.

Vamos juntos. Vamos sempre! Lutando pela manutenção e pelo aperfeiçoamento da nossa frágil democracia que nos permite, entre tantas coisas, falar!

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