Diversão e Arte

Instrumentistas que se apresentam nas ruas se unem em plataforma digital

Músicos de Brasília trocam experiências e dicas sobre seus trabalhos

postado em 04/07/2016 07:34

'Os artistas em geral são vistos como uma classe bastante desunida , mas podemos nos ajudar', diz o saxofonista Luciano Delucci

Os músicos que se apresentam nas ruas da cidade muitas vezes são vistos com um certo preconceito, tipo "se está na rua, não deve ser tão bom". Engano. Cada vez mais esses instrumentistas se esmeram em entregar ao público um trabalho sofisticado e de extrema qualidade ; afinal, se não agradar ao passante, não recebe pelo serviço. Quem também os vê como artistas mambembes, desorganizados, competidores, etc, pode esquecer... Eles são disciplinados, cooperativos e unidos. Prova disso é o grupo criado pelos músicos nas redes sociais para trocar ideias, sugestões e dicas sobre os espaços públicos mais "lucrativos".

Desde 2015, cerca de 25 artistas de rua de Brasília convivem no WhatsApp. Luciano Delucci, 41 anos, é saxofonista e sua música é uma velha conhecida dos frequentadores das estações do metrô. Entendendo a dificuldade do trabalho dos artistas nas ruas, foi dele a iniciativa de criar um grupo na plataforma de trocas de mensagens para unir os músicos que se apresentam nas ruas da capital. ;Os artistas em geral são vistos como uma classe bastante desunida e acredito que podemos nos ajudar. Por minha experiência nas ruas, percebi que existiam muitas pessoas competindo por espaço e muita concorrência desleal nas ruas. Foi disso que surgiu a ideia de criar o grupo;, conta. E a ideia funcionou...

No aplicativo, aproveitam para marcar estudos e aperfeiçoar o trabalho. "Unidos, pretendemos também que as pessoas possam se valorizar. Que aprendam a gostar do que fazem e que saibam o valor do trabalho diário. Ainda sofremos preconceito, algumas vezes somos até confundidos com pedintes ou moradores de rua, o que não tem nada a ver com o que fazemos. Acredito que as pessoas de grandes cidades, inclusive em outros países, estão mais habituadas aos artistas de rua do que aqui. Por isso, valorizam mais o artista", conta Delucci.

Um dos administradores do grupo, Rafael Oliveira, 26 anos, toca violino e violoncelo em locais públicos há dois anos, diz que a experiência de contatos com outros colegas mudou a forma de encarar seu próprio trabalho. ;Comecei a trabalhar nas ruas para complementar a renda familiar em um momento de necessidade. A amizade com os companheiros me fez enxergar a importância e toda história que existe por trás do trabalho;, conta.

Renda familiar

Outro integrante do grupo de artistas é o saxofonista Lucas Luciano, 20 anos, que se apresenta há dois anos nas ruas brasilienses. ;Sempre tive fascínio pelos músicos norte-americanos, que também se apresentam na rua, a qual eu considero como o maior palco do mundo, pois não há distinções. Um dia, tive a brilhante ideia de ir tocar no metrô, porque tinha muita curiosidade de saber como era, e, chegando lá, me surpreendi com a quantidade de músicos extremamente experientes e bons por excelência que tive a honra de conhecer e aprender muito;, conta.

Membro do grupo desde 2015, quando foi criado, ele acredita que o mais interessante da união é a possibilidade de maior interação entre os instrumentistas. Quanto ao preconceito, Lucas acredita que todos os artistas de rua podem sofrer discriminação, mas, no fim, o retorno que recebem é compensador. ;Todos os sorrisos, o carinho das pessoas e também a contribuição voluntária e espontânea que recebemos já nos dizem tudo;, conta.



Um disco para vender


Pelo contato que conseguiram por meio do grupo, os artistas começaram a realizar reuniões físicas quinzenais no Teatro Dulcina, no Conic. Desses encontros, surgiu a ideia de criar um projeto para gravação de um disco com os musicistas. ;A ideia é gravar um CD só com músicas de domínio público totalmente feito pelos que fazem música nas ruas de Brasília. Cada disco teria a capa personalizada para cada um dos músicos e serviria tanto para vendas como para usar como cartão de visita no trabalho;, conta Delucci.

O projeto espera patrocínios para sair do papel, já que a crise que assola o país também atingiu em cheio os musicistas nos últimos meses. ;O rendimento vem caindo muito desde o fim do ano passado, acabamos tendo que trabalhar dobrado ou triplicado para conseguir os mesmos ganhos que tínhamos anteriormente;, lamenta Luciano.

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