Diversão e Arte

Na Bienal, Mario e Antônio Prata falam de crônica, realidade e ironia

Pai e filho, os cronistas participaram de debate mediado pelo poeta Nicolas Behr

Nahima Maciel
postado em 22/10/2016 18:01
Pai e filho, os cronistas participaram de debate mediado pelo poeta Nicolas Behr
Os cronistas Mario e Antônio Prata dividiram o palco da Arena Cecilia Meireles na tarde deste sábado (22/10) na III Bienal Brasil do Livro e da Leitura. Com mediação do poeta Nicolas Behr, pai e filho falaram sobre a crônica no Brasil hoje.

Mario fez elogios ao filho Antônio, autor de Nu, de botas e Trinta e poucos, ambos livros de crônicas. Para Mario, a crônica brasileira se aproximou demais das colunas de opinião dos jornais. "Hoje muita gente que se diz cronista é, na verdade, articulista. Tem grandes novos cronistas, mas a maioria é articulista", acredita Mario, que, além de cronista, é autor de novelas como Bang bang e Estúpido cupido.

Antônio, que é cronista da Folha de São Paulo, comentou, a pedido do público, um episódio pelo qual acabou processado. Em 2013, o escritor publicou uma crônica na qual ironizava a direita brasileira . "Criei um personagem que estava à direita do Bolssonaro. E fiz uma crônica", contou. No texto, pontuado por extrema ironia, o personagem pregava medidas machistas, racistas e facistas.

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O primeiro e-mail que recebeu no dia seguinte foi de elogio ao texto. Um rapaz dizia que estava muito feliz porque concordava com o cronista. Ele se deu conta, então, que a realidade podia ser pior que a ficção. "Quem compra um livro, um romance, jamais acha que vai comprar uma história real. Mas crônica é publicada entre notícias e tem muita gente que nunca leu literatura na vida, cai na crônica e acha que é um relato real. E quando tem ironia, dificulta muito mais porque ela é sutil", lamenta Antônio.

Contando casos que levaram a crônicas, Mario Prata provocou momentos de risos na plateia. Ele lembrou de episódios de família e de situações reais que acabaram por render boas crônicas. Mas Antônio fez questão de lembrar que o gênero é ficção. "O narrador não é o autor. Crônica é um texto de ficção. E muitas vezes uma crônica não tem a ver com o que eu penso. Isso é sutil e também é uma confusão", disse Antônio. Ele falou ainda sobre o medo da página em branco: "Para escrever uma crônica não precisa de uma grande ideia. A crônica é uma lupa sobre uma ideia. De qualquer assunto você tira algo."

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