Diversão e Arte

Youtuber Gabi Oliveira representa o feminismo negro com o canal DePretas

Jovem carioca fala sobre assuntos diversos, de dicas de maquiagem a empoderamento

Rebeca Oliveira
postado em 16/11/2016 07:00

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Não de é de hoje que a audiência da internet é maior que a da tevê no Brasil. Há três anos, um estudo da consultoria IAP Brasil com a ComScore comprovou que 40% dos entrevistados passam mais de duas horas assistindo a conteúdo na internet, bem menos que os 25% que gastam o mesmo tempo em frente a tevê. Um dos responsáveis por esse boom no acesso é o Youtube, com mais de 1 bilhão de acessos únicos. Por minuto, são publicadas mais de 100 horas de conteúdo. No meio desse cenário promissor, faltava representatividade negra.
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Jovens e empoderadas, muitas meninas estão sanando essa lacuna. A quantidade de mulheres negras produzindo conteúdo não para de crescer. Criadora do canal DePretas, a carioca Gabi Oliveira, de apenas 24 anos, decidiu ser vlogueira depois de cursar faculdade de comunicação na Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

;Houve coisas sobre mim e sobre as relações sociais no Brasil que só aprendi na universidade. Esses ensinamentos fizeram eu me entender no mundo;, conta. ;Achava que algumas coisas que aconteciam comigo na infância e adolescência eram normais por ser uma menina negra em uma escola de maioria branca. Comecei a estudar e ver que não. Era como todo a sociedade se estruturava;, relembra.
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O canal surgiu como uma ponte entre esses conhecimentos acadêmicos e garotas ;reais; da mesma idade ; algumas que, infelizmente, não terão a oportunidade de cursar o nível superior.

;O acesso à internet tem mudado a nossa realidade. Fui a primeira pessoa da minha família a me formar, e olha... Minha avó teve 18 filhos! Nós fomos, sim, machucadas pelo sistema, mas nem se compara às gerações que vieram antes de nós. Essas mulheres resistiram para chegar até aqui;, desabafa Gabi Oliveira.


Os vídeos não se restringem a academicismos. Gabi dá dicas de maquiagem, produtos para o cabelo e até de estilo. Sem perder o vínculo com as raízes, ideal que a faz mais forte. ;Tenho nariz grande, boca larga, pele escura. Vejo a a importância falar de estética, de beleza;.

Gabi Oliveira difunde a beleza da mulher negra no Youtube

Duas perguntas/ Youtuber Gabi Oliveira

Acontecimentos que marcaram sua infância te motivaram a criar o DePretas?
Quando eu era criança, em minha casa, eu e minhas primas tinhamos a mania de ficar muito tempo com pregador de roupa no nariz porque dizia a lenda que se você fizesse isso seu nariz ficava mais afinado. Buscávamos uma estética que não era nossa. Como eu tinha os traços mais fortes, aquilo era uma ;neura; para mim. Isso com três, quatro anos de idade.

Quando li o primeiro livro de autoria de uma mulher negra, Tornar-se negro: as vicissitudes da identidade do negro brasileiro em ascensão social, de Neusa Santos Souza, percebi como aquilo acontecia na minha casa, com a minha família, mas também em tantas outras. Está no imaginário brasileiro do que é belo, e a minha geração entendeu isso vendo a Xuxa e Angélica, um padrão muito longe dos nossos. Até as negras que conseguiram achar uma brecha e entrar na mídia tem um padrão que é a negra dos traços finos, o que se considera ;aceitável;. Eu sofria uma pressão externa que vinha desse imaginário comum.

Já sofreu ataques na internet, como covardemente aconteceu com a repórter Maju e a cantora MC Carol?
Recebi alguns ataques de preconceito, outros racistas. A grande maioria do público é mais acostumado a dialogar. O mais significativo aconteceu há pouco tempo. Uma mulher, que não parecia fake, comentou: ;mas fazer o que se vocês parecem macacos?;. Li aquilo e pensei: como alguém pode fazer isso? Outras pessoas responderam o comentário e ela continuou, argumentando que temos que brigar com a natureza, que as pessoas negras teriam um QI menor. Deixo para as pessoas que ainda pensam e falam que nós reclamamos demais, mas estamos na internet e na vida real.

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