Diversão e Arte

Guilherme Fiúza faz romance com a política contemporânea brasileira

Autor de Meu nome não é Johnny acha que a política tende bom material

Nahima Maciel
postado em 07/12/2016 07:30

Guilherme Fiúza fez romance a partir da realidade política brasileira contemporânea

Luana é a filha de um grande empresário do setor imobiliário. Tem dinheiro, muito, e é rebelde. Está contente, se sente quase vingada de o candidato do Partido da Opção Popular ter chegado ao poder para, finalmente, permitir a ascensão do proletariado. Luana é rebelde e rompe com o pai, um milionário que ficou de fora do caixa dois de campanha do candidato eleito, mesmo quando percebeu que ele já havia ganhado a eleição. Com essa trama tem início O império do oprimido, sétimo livro do escritor e jornalista carioca Guilherme Fiúza, um trilher cujo pano de fundo é a política brasileira contemporânea.

Autor de Meu nome não é Johnny, adaptado para o cinema por Mauro Lima e com Selton Mello no papel principal, Fiúza apostou na política no novo romance porque acredita que o tema é pouco explorado e mal compreendido na cultura brasileira.

;Minha impressão é de que a compreensão geral da política, não só pela literatura, é rasa. Vivemos um jardim de infância filosófico, ou pelo menos ideológico;, diz. ;Para as artes, política quase sempre é corrupção, imundície ; anistiando os maiores responsáveis pelo flagelo, que são a opinião pública e o senso comum. O povo é sempre inocente. Parece difícil, por aqui, retratar a política sem falar de Getulio Vargas, luta armada, Corte portuguesa e mais meia dúzia de clichês históricos. Estamos enguiçados nessas dicotomias.;

O império do oprimido é um livro de diálogos e personagens que mais lembram caricaturas. A filha do empresário rico é uma delas, mas há muitas outras, como a deputada Maria Rosa, mais preocupada em abrir um Romané Conti na primeira reunião presidencial do que em estabelecer uma agenda de governo, ou Luizinho Sete-Quedas, o articulador que conecta doleiros, caça-níqueis, loterias e prefeituras para melhor lavar o dinheiro obtido aqui e ali, e ainda o próprio Guia, ou presidente, cujo passado de caminhoneiro sugere conexão óbvia com figuras da história recente do país.

O autor admite que o romance é uma paródia: seus personagens correspondem a figuras reais, embora reconhecê-las não seja essencial para a trama. O romance tem ritmo de roteiro, um traço frequente na escrita de Fiúza e uma consequência de como o autor trabalha.

Antes de escrever, ele tem o hábito de roteirizar as narrativas. O império do oprimido começou a tomar forma há três anos, a pedido da Editora Planeta, que encomendou um livro sobre a política brasileira recente. ;Eu já tinha a ideia da saga da Luana, a caçadora de utopias, que seria uma espécie de refugiada da burguesia no mundo politicamente correto. Era uma ideia para longa-metragem, e a proposta da editora me levou a desenvolvê-la como livro. Foi interessante porque os produtores que farão a adaptação para cinema e TV puderam ler um romance em vez de um argumento;, avisa Fiúza.

Três perguntas
Guilherme Fiúza


Sobre o romance, o que te motivou a criar personagens como Luana e Bob?
Luana é a caricatura da repressão burguesa ; o lado negativo do que se chama de conservadorismo. É a filha rica que tem tudo, mas não sabe de si. Quando rompe com a família e foge em busca da vida real, ela é um olhar virgem para as ideologias progressistas. Estamos na era da falsidade ideológica (ao pé da letra) e eu quis mostrar o quanto certas ilusões de esquerda são dependentes, justamente, dessa burguesia mimada. Mas isso foi só o pretexto para montar a novela.

Por que escrever O império do oprimido?

O livro nasce da observação da Era Lula, e o paradoxo do título expressa esse ;coitadismo; como projeto de poder. Ao mesmo tempo são personagens que poderiam estar em outro lugar, outro tempo. Já tive respostas de leitores que riram muito. No fundo toda história é um pretexto para entrar na comédia humana ; que é dramática e nunca nos deixa decifrá-la completamente. Espelharmos o que se passa no país no século 21, como procurei fazer, talvez possa ajudar a nos libertar dos debates colegiais sobre direita x esquerda e o universo de valores em geral.

Há correspondências entre os personagens do livro e figuras reais?
Sim. O livro é repleto de paródias de personagens da atualidade e da história recente. Nenhuma correspondência entre as figuras ficcionais e reais é total, fiz uma fusão de características. Minha história não depende dessas paródias, mas a conjuntura nacional tem sido tão rica em personagens hipócritas que eu não quis desperdiçar o material.

Autor de Meu nome não é Johnny acha que a política tende bom material
O império do oprimido
De Guilherme Fiúza.
Editora Planeta, 352
páginas. R$ 44,90

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