Diversão e Arte

Sete livros para presentear neste Natal. Escolha o seu!

O Diversão & Arte fez uma seleção dos últimos lançamentos do ano com títulos que valem a pena ser lidos ou oferecidos de presente. Mergulhe na narrativa!

Nahima Maciel
postado em 22/12/2016 07:06
Livro de Gay Talese é polêmico
Embora a crise econômica se alastre por quase todos os mercados, o mundo do livro ainda pode celebrar. Os últimos meses de 2016 trouxeram boas ofertas com lançamentos de autores brasileiros premiados, algumas promessas e uma pequena leva de títulos internacionais que sempre vêm acompanhados de certo frisson. O esperado livro de Gay Talese sobre o homem que espionava os hóspedes do próprio motel finalmente chegou ao Brasil e o novo de Ian McEwan traz uma narrativa curiosa, a partir da perspectiva de um feto. Paula Dip apresenta cartas inéditas de Caio Fernando Abreu e o israelense Yuval Noah Harari fala do futuro do homem depois do sucesso de Sapiens ; Uma breve história da humanidade. Vale conferir.

Velhice e memória
Evandro Affonso Ferreira está de volta com um romance sobre um velho senhor nada romântico, um tanto niilista, que encara a velhice como algo premonitório. Melancólico, o personagem escreve para ;driblar a inquietude; e ;não deixar a esperança se desvanecer de vez;. Escrito em primeira pessoa, quase em itens, como se o velho registrasse pensamentos, Não tive nenhum prazer em conhecê-los não é um romance leve e o ambiente no qual paira dialoga bastante com textos anteriores do autor, como Minha mãe se matou sem dizer adeus, com o qual o autor venceu o Prêmio APCA de 2012. Ferreira também ganhou o Jabuti em 2013 com O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotterdam e ficou em terceiro lugar no ano passado com Os piores dias de minha vida foram todos.

Capa do livro Não tive nenhum prazer em conhecê-losNão tive nenhum prazer em conhecê-los
De Evandro Affonso Ferreira. Record, 368 páginas. R$ 49,90

História inventada
E se, ao contrário do que se sabe, Machado de Assis tivesse deixado um herdeiro? O que isso significaria para sua obra? Qual seria o destino de seu legado? Machado foi casado com Carolina por mais de 35 anos, mas o casal não teve filhos. No entanto, o personagem imaginado pelo mineiro Luiz Vilela em O filho de Machado de Assis é um professor universitário que se depara com uma pista indicativa de um possível herdeiro. Com muitos diálogos e uma personalidade obcecada, o personagem jura ter evidências do fato e embarca um jovem aluno na tentativa de provar.

Capa do livro O filho de Machado de Assis de Luiz VilelaO filho de Machado de Assis
De Luiz Vilela. Record, 128 páginas. R$ 39,90

Voyeurismo
Gay Talese trabalhava na apuração das histórias narradas em A mulher do próximo quando ouviu falar em Gerald Foos pela primeira vez. Publicado em 1981, o livro traça os hábitos e costumes sexuais dos anos 1970 por meio da história de vários personagens. Foos contou a Talese que havia comprado um motel para bisbilhotar a vida sexual dos hóspedes. Através de um buraco na luminária de um dos quartos, observava os visitantes enquanto faziam sexo. Em uma das ocasiões, teria presenciado, inclusive, um assassinato. No ano passado, Talese, uma lenda do jornalismo literário norte-americano, revelou que estava escrevendo um livro sobre Foos. O voyeur, já disponível nas livrarias, que narra a história desse personagem e vem rodeado de polêmicas. Talese decidiu não promover o livro depois que repórteres do Washington Post questionaram a veracidade da história narrada por Foos. Ele teria comprado o motel anos depois de contar a história ao escritor. Mesmo assim, O voyeur é uma história narrada por Gay Talese, o que já valida uma leitura.

O voyeur

De Gay Talese. Tradução: Pedro Maia Soares. Companhia das Letras, 272 páginas. R$ 39,90

Claustro
Autor extremamente produtivo, Ian McEwan tem publicado, em média, um romance a cada dois anos e o título de 2016 tem uma dose de comicidade que passa distante de A balada de Adam Henry, de 2014. Mas Enclausurado é também um policial, um romance de suspense. Preso ao ventre da mãe, um feto no nono mês de gestação acompanha os planos maternos para matar o marido, o pai da criança. Como cúmplice, ela terá o cunhado, na verdade o amante com o qual traiu o parceiro. A perspectiva do feto é única e, eventualmente, hilária. Mas também é trágica, já que um assassinato se apresenta ao pequeno protagonista cuja impotência é notável.

Capa do livro Enclausurado, de Ian McEwan.Enclausurado
De Ian McEwan. Tradução: Jorio Dauster. Companhia das Letras, 200 páginas. R$ 39,90

Humanos no futuro
Nas primeiras páginas de Homo Deus ; Uma breve história do amanhã, Yuval Noah Harari faz alguns avisos assustadores: o homem que vai viver 150 anos já nasceu e, em breve, a humanidade será amortal. Não haverá doença capaz de derrubar o corpo humano, embora ele ainda seja suscetível a acidentes e fatalidades. É da premissa de que a humanidade mudou, se desconectou de sua origem animal para se acoplar a uma realidade que incorpora a tecnologia, que o historiador e professor da Universidade Hebraica de Jerusalém parte ao lançar luzes e ideias sobre o futuro do homem. Depois de conquistar milhares de leitores com Sapiens ; Uma breve história da humanidade, tentativa de olhar para trás para compreender onde estamos, Harari especula sobre os dias que virão, mas sem perder de vista, em nenhum momento, a trajetória já percorrida pelo ser humano. Quem leu Sapiens não vai querer deixar passar Homo Deus, um livro, até certo ponto, otimista.

Capa do livro Homo Deus %u2013 Uma breve história do amanhãHomo Deus ; Uma breve história do amanhã
De Yuval Noah Harari. Tradução: Paulo Geiger. Companhia das Letras, 448 páginas. R$ 54,90

Brincando com a morte
Galego morreu. O menino de 12 anos ainda não entende bem o que aconteceu, mas já sabe que pode vagar aqui e ali sem ser visto. Pode observar as pessoas, coisa que adora, ouvir as conversas, seguir um ou outro, escorregar pelo cotidiano da cidade. Enfim, uma morte pacata e agradável até que tudo se vira contra ele e os habitantes locais decidem transformá-lo em motivo de adoração. Vira santo e menino caboclo, com direito a festa e chateações. A história de Céus e terra é fruto de uma obsessão de seu autor, Franklin Carvalho, pela morte e vem narrada em primeira pessoa pelo menino decapitado logo no início da história. O livro foi eleito melhor romance no Prêmio Sesc de Literatura e foi escrito, como avisa o autor, ;para enganar a morte;.

Céus e terra
De Franklin Carvalho. Record, 208 páginas. R$ 29,90

Cartas reveladoras
Paula Dip pretendia estudar as cartas que Caio Fernando Abreu em um mestrado, mas não aguentou e resolveu publicá-las. Numa hora assim escura reúne cartas inéditas escritas entre 1971 e 1990. Foram descobertas por Paula na casa de um poeta baiano enquanto trabalhava na pesquisa para escrever Para sempre teu, Caio F., que reúne cartas e conversas do escritor. Nesse volume de inéditas, é possível acompanhar a relação de Caio e Hilda Hilst, por quem o autor de Morangos mofados nutria uma admiração intensa, e o cotidiano na Casa do Sol, a chácara na qual a escritora vivia. Ali, Hilda também reunia amigos, principalmente escritores e intelectuais, para falar de sexo, amor e literatura. Caio Fernando chegou a morar um tempo por lá e foi um dos vários hóspedes interlocutores da escritora.

Capa do livro Numa hora assim escura %u2013 A paixão literária de Caio Fernando Abreu e Hilda HilstNuma hora assim escura ; A paixão literária de Caio Fernando Abreu e Hilda Hilst
De Paula Dip. José Olympio, 160 páginas. R$ 59,90

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação