Diversão e Arte

Vanessa da Mata fala sobre a construção do álbum Delicadeza

A cantora estará em Brasília no sábado para show da turnê do disco

Irlam Rocha Lima
postado em 19/01/2017 07:34
Cantora Vanessa da Mata
Na infância, vivida em Alto Garças, na região pantaneira de Mato Grosso, Vanessa Sigiane da Mata Ferreira costumava ouvir em rádios AM, de Orlando Silva a Tom Jobim, de Luiz Gonzaga a Milton Nascimento. Ela se recorda de músicas cantadas pela mãe e pela avó, como Cuitelinho e Mágoa de um caboclo, que remetem ao universo sertanejo ; autêntico ; que habita o seu imaginário.

Tempos depois, adolescente, ao buscar independência, radicou-se em Uberlândia (MG) e para se manter passou a cantar em barzinhos. Chegou a fazer parte de grupos regionais, como o Mafuá, dividindo as atribuições como jogadora de basquete e modelo. Aos 21 anos, foi apresentada ao país por Maria Bethânia, que gravou A força que nunca seca, parceria dela com Chico César. A canção deu título ao disco lançado pela cantora baiana em 1997.

Após lançar sete CDs e um DVD e fazer incontáveis shows, Vanessa visitou o baú de suas memórias afetivas e de lá tirou algumas daquelas músicas que marcaram sua meninice. Algumas delas interpreta em Delicadeza, um quase recital com o qual vem percorrendo o país e que chega neste sábado a Brasília, para ser apresentado no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

Para esse show intimista, a estrela da MPB contemporânea elaborou um repertório no qual parte de suas reminiscências se juntam a Não sei dizer adeus, Por onde ando tenho você, Toda humanidade nasceu de uma mulher (do Segue o som, o álbum mais recente) e a alguns dos hits que acumulou em 20 anos de carreira, como Ainda bem, Amado, Boa sorte, Ilegais e Não me deixe só. Em cena, ela tem a companhia de Danilo Andrade (piano) e Maurício Pacheco (violão e guitarra).

Delicadeza

Show da cantora e compositora Vanessa da Mata, sábado ,às 23h, no Auditório Master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 60 (cadeira superior), R$ 100 (cadeira especial), R$ 120 (cadeira vip lateral), R$ 150 (cadeira vip) e R$ 200 (cadeira vip fã) ; valores referentes a meia entrada. Pontos de venda: Bilheteria Digital no Pátio Brasil, Liberty Mall, Brasília Shopping, Alameda Shopping e Boulevard Shopping. Informações: 3342-2232. Não recomendado para menores de 16 anos.

Entrevista / Vanessa da Mata


Além de dar título ao show a expressão ;delicadeza; remete a quê?
Na infância, em casa, ouvia minha mãe e minha vó cantarem ternas canções e, às vezes, as acompanhava, quase sempre à capela, ou acompanhada por viola. Desde que passei a cantar profissionalmente, me distanciei dessas músicas, embora as tivesse retidas na memória afetiva. Em meio à turnê do Segue o som, show em que sou acompanhada por banda, decidi fazer algo paralelamente, para vivenciar novamente a delicadeza. Aí criei um recital, ao qual dei o título de Delicadeza, resgatei algumas dessas canções e as inclui no roteiro.

Há um tratamento diferenciado para essas músicas ao cantá-las?

Quando interpreto Cuitelinho (de domínio público com adaptação de Paulo Vanzolini e Antônio Xandó) e Mágoa de um caboclo (J. Cascata e Leonel Azevedo), por exemplo, há uma introdução, na qual falo do contexto em que tomei conhecimento delas de toda a brasilidade contida nelas, e porque as trouxe para os dias de hoje. O mesmo se dá em relação a Espere por mim morena, bela composição de Gonzaguinha, que não se ouve mais.

O que mais esse show traz de diferente, que possa ser destacado?
Busco dar ênfase à pureza das músicas, para que o público preste mais atenção nas letras e as veja como se fossem novas. Faço isso porque me vejo como um instrumento a serviço da música. No roteiro, ao lado de canções consagradas da minha obra, estão algumas de outros autores que canto pela primeira vez, como Samba a dois (Marcelo Camelo), Caxambu, sucesso de Almir Guineto; e Natural mystic, de Bob Marley.

Como surgiu a ideia de fazer um show com sonoridade acústica?
Eu já queria fazer algo assim havia algum tempo. Em 2013, quando participei do projeto da Nívea, cantando Tom Jobim, Caetano Veloso foi meu convidado na apresentação na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. Nos bastidores, conversando comigo, disse que eu tinha um timbre clássico e que deveria explorá-lo num show acústico. Mas aí surgiram outros projetos e fui adiando. Em meio à turnê do Segue o som, me ocorreu a ideia de, finalmente, fazer um show com essa característica.

Como compositora e intérprete, qual sua visão sobre o gênero musical que hoje tornou-se hegemônico, principalmente entre as novas gerações?
O tipo de música que predomina hoje em dia é pobre melodicamente, nas letras, nos arranjos, sem nenhum conteúdo. Mas como é muito repetido pela grande mídia e na internet, acaba sendo assimilado. Como o país vive uma crise também na área da educação, ela acaba sendo algo manipulador, principalmente em relação a jovens culturalmente mal formados.

No seu entendimento, o clima de intolerância que se observa atualmente no país decorre de quê?
Isso é resultado também de pouca educação, de pouca cultura de boa parte da população. Há uma total falta de diálogo e o que se vê é uma espécie de barbárie, com as pessoas se agredindo principalmente nas chamadas redes sociais.

Na política, você se sente representada?
Não vejo representatividade nesses políticos, que deveriam ser honestos e trabalharem pela população. Mas isso não ocorre. Fica difícil esperar alguma coisa positiva se os que deveriam aplicar a lei permitem que quem rouba e estupra sejam candidatos e empossados, se eleitos.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação