Diversão e Arte

Conheça as instrumentistas que fazem parte da cena local

Mesmo minoria, as instrumentistas se fazem presentes nas rodas e apresentações musicais pela cidade

Gabriel Shinohara*
postado em 23/01/2017 07:13

Larissa Conforto dá aulas para garotas interessadas em bateria intuitiva


;A vida sempre me negou de ter a música como profissão;. A afirmação da baterista Larissa Conforto, da banda Ventre, poderia fazer parte da história de muitas instrumentistas. O desencorajamento, situações de machismo velado e a surpresa ao ver a habilidade de cada instrumentista são passagens repetidas muitas vezes na vida de mulheres que escolheram a carreira musical.

Para a maioria delas, o aprendizado começou na infância, em escolas especializadas ou na própria casa, com a influências dos pais. Esse é o caso de Larissa Umaytá, percussionista que seguiu o caminho do pai na música. Hoje, com 20 anos e formada no Clube do Choro, ela dá aulas e se apresenta no duo Tempo Forte. ;Existe uma carência muito grande de mulheres instrumentistas, é um trabalho duro, longo;, diz.

Thanise Silva começou a tocar flauta aos 8 anos e já se apresentou nas melhores casas da cidade, como o Feitiço Mineiro e o Clube do Choro. Atualmente, toca com o grupo Choro pra Cinco e com Fernando César, reconhecido músico brasiliense. Mesmo estudando música desde a infância, frequentemente ouve que ;toca que nem homem;. Apesar disso, é otimista com o futuro. ;Acho que vai ter mais espaço para a mulher no mercado;.

Mesmo minoria, as instrumentistas se fazem presentes nas rodas e apresentações musicais pela cidade. Violonista, Juçara Dantas tem 14 anos de experiência no instrumento e é figura carimbada nas rodas de choro pela cidade. Formada em música e pesquisadora, Juçara diz que ;as pessoas estão vendo nada mais que o resultado do meu esforço e é isso que eu quero levar;.

Depois de dois anos na flauta transversal e sete anos de guitarra na Escola de Música de Brasília, Mariana Sardinha se encontrou como cavaquinista no Clube do Choro. Atual estudante de música na UnB, a instrumentista de 29 anos faz parte de alguns grupos como o Seresteiras, Sambadelas, SaiaBamba e do bloco carnavalesco Essa boquinha eu já beijei. Mariana afirma que percebeu alguns olhares surpresos durante as apresentações. ;O fato de ter o conhecimento teórico, dar uma canja, improvisar pode surpreender algumas pessoas;, afirmou.

Envolvida no mundo do rock, Larissa Conforto costuma enfrentar dificuldades parecidas no cotidiano de seu trabalho. Aos 13 anos, era a única garota na aula de bateria, quando cresceu entrou na escola de música Villa-Lobos, no Rio de Janeiro. Aos 18 anos, já tinha contrato assinado com uma gravadora e fazia shows pelo país. Apesar disso, diz que nunca sai relaxada para trabalhar. ;Você sai de casa todo dia pronta para uma guerra, para uma batalha, você nunca sai relaxada pra tocar, pra passar som, porque sabe que vão te tratar mal;, explicou.
;Eu sempre tenho que provar para alguém não que eu sou boa, mas que eu sou capaz de tocar meu instrumento;, contou Larissa. Apesar do cotidiano dolorido, a baterista gravou sete discos em 2016 e diz que há ainda um longo caminho pela frente para a igualdade de gênero, também dentro da música.

* Estagiário sob a supervisão de Vinicius Nader

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