Diversão e Arte

Filme Joaquim apresenta um olhar diferenciado sobre a vida de Tiradentes

O longa do pernambucano Marcelo Gomes se destaca em Berlim

Rodrigo Fonseca - Especial para o Correio
postado em 18/02/2017 07:00

Cena de Joaquim: Um filme de diferentes leituras poéticas sobre um mártir da luta pela independência brasileira

Berlim ; Enxuto na duração (97 minutos), direto ao ponto no subtexto (a perenidade da corrupção) e eletrizante nas sequências de ação, Joaquim, o concorrente do Brasil ao Urso de Ouro no 67; Festival de Berlim, causou boa impressão (medida numa salva calorosa de aplausos) na capital alemã. O filme agradou não apenas pela elegância de sua narrativa de conspiração ; comparada por alguns a Game of thrones ; mas pelo desempenho de seu protagonista.

Mergulho no passado militar do alferes Joaquim José da Silva Xavier, anos antes de sua conversão em Tiradentes, o novo filme do pernambucano Marcelo Gomes (de Cinema, aspirinas e urubus) confia seu papel central a Julio Machado, encarado como um dos mais quentes concorrentes ao prêmio de melhor ator, ombreado apenas pelo sueco Stellan Skarsg;rd, concorrendo aqui com Return to Montauk.

Além da surpresa estética que causou, pelo domínio da cartilha da aventura, um filão incomum a festivais politizados como a Berlinale, o longa-metragem inflamou ânimos ao gerar analogias com as crises atuais da política brasileira.

;De objetivo há um esforço de se desconstruir o herói Tiradentes, pois ninguém pede para ser mártir. E há também a percepção de que, onde há muita riqueza, como era nas minas do Brasil colonial, há muita pobreza... e há uma espécie de reprodução contínua de processos de dominação colonial, que não levam em conta o quanto as colonizações foram e são cruéis;, diz Gomes, que veio ao festival em 2014 com O homem das multidões, feito em parceria com o mineiro Cao Guimarães.

Expressão

Acompanhado em Berlim por seus coprodutores (portugueses e brasileiros) e parte de seu elenco (além de Julio, destaca-se a estonteante atriz lusa Isabel Zuaa), o cineasta leu na coletiva de imprensa de Berlim uma carta escrita por todos os cineastas brasileiros lá presentes pedindo a atenção da mídia internacional sobre os riscos à diversidade artística e à autonomia de expressão do cinema impostos pelo governo brasileiro.

Aberto com uma sequência (memorável) de diálogo em off no qual a cabeça decepada de Tiradentes fala com o espectador, Joaquim é fruto dos estudos de Gomes sobre a vida privada de nossos tempos de colônia, buscando humanizar a figura de um funcionário da Corte Portuguesa que se bandeia para a rebeldia insatisfeito com as práticas corruptas da Metrópole.

;Li muitos livros para este filme e vi que vários historiadores escreveram diversas biografias sobre o Tiradentes e todas elas apresentam leituras muito diferentes do herói;, diz Gomes. ;Existe uma escassez muito grande de documentos sobre a vida dele. Assim, Tiradentes nos permite diferentes leituras poéticas. Acho que por isso ele é um personagem que instiga tantos artistas. Temos a possibilidade de imaginar sobre a vida do mito. Além do mais, ele é um personagem que morreu de forma muito digna: assumindo para si toda a culpa da insurreição contra a coroa portuguesa;.

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