Diversão e Arte

Alunos lutam para manter escola fundada por Levino de Alcântara

Maestro fundou a única escola pública de música de Conceição do Araguaia (PA)

Nahima Maciel
postado em 22/02/2017 07:30

Musicalizado pelo próprio Levino de Alcântara, o grupo de seis alunos, inclusive a professora Jerusa Campos (C),  luta para que a escola criada pelo maestro não feche as portas

Contando a zona rural, o município de Conceição do Araguaia (PA) tem população de 46 mil pessoas. É um canto tranquilo e talvez por isso o maestro Levino de Alcântara tenha se encantado pelo lugar lá pelos anos 1980, quando comprou uma pequena propriedade na região com a ideia de se aposentar e ficar por lá. Em 1989, Levino acrescentou ao descanso o sonho de fundar uma escola de música e criou o Centro de Estudos Musicais. No entanto, a cada troca de prefeito, a escola passa por instabilidade, o que piorou com a morte do maestro em janeiro de 2014. Este ano, a história se repete e um grupo de alunos luta para evitar o fim de um sonho que já abriu portas para dezenas de jovens.

Marzo Ferreira, 19 anos; os irmãos Paulo Eduardo, 15, e Eduarda Ferreira da Silva, 14; Apolo de Souza Sá, 16; Gustavo Damasceno, 15; e Mateus Alves Cardoso Rocha, 16, participam, pela primeira vez, do Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra) e aproveitam para contar a história da escola na esperança de encontrar patrocinadores que ajudem a sustentar o sonho de Levino.

Os seis adolescentes foram iniciados na música pelo próprio maestro, quando crianças. Passaram por todo o curso de teoria e alfabetização musical, mas estão, há três anos, sem ter aulas dos instrumentos. Quando Levino estava vivo, ele pagava do próprio bolso as aulas com professores trazidos de outros estados. ;Hoje, a gente aprende intuitivamente porque não tem um técnico no instrumento. E quando temos a oportunidade de encontrar um professor, tentamos corrigir os vícios;, explica o violinista Apolo.

Em Conceição do Araguaia, há um único professor de instrumento (violão) e ele dá aulas na escola. Não há quem ministre aulas de violino, flauta, fagote, clarineta. ;Levino tirava do próprio bolso. Ele dava tudo para a escola, não tinha nem plano de saúde, morreu em um hospital público;, conta Paulo André, professor aposentado da Escola de Música de Brasília (EMB).

O maestro era um sujeito muito carismático. Jerusa Campos, que passou pela iniciação musical com Levino, na cidade paraense, e depois se formou em fagote na Escola de Música, conta que as turmas rareavam quando ele vinha para Brasília. ;No início, ele passava 15 ou 20 dias lá e voltava. Todo mundo sumia. Quando ele retornava à escola, perguntava ;cadê fulano;. E mandava ir buscar em casa;, conta a musicista, que hoje administra a escola em Conceição do Araguaia.

Paulo André lembra que Levino conseguiu formar talentos na escola. ;Tem vários professores formado por ele por aí;, diz. Jerusa lembra que dois ex-alunos estão nas bandas do Exército e do Corpo de Bombeiros e uma ex-aluna se formou em música pela Universidade Federal do Pará.

O próprio Marzo, que veio para o Curso de Verão da EMB, estuda fagote na Universidade Federal de Goiânia. ;A gente nunca sabe o que vai acontecer com a escola e com as aulas. A gente se ajuda, dá aulas uns para os outros porque falta professor. Não tem estabilidade;, conta o fagotista, que começou a frequentar o Centro de Estudos Musicais aos 8 anos. ;Um professor do instrumento que a gente toca seria bacana;, completa Eduarda, que toca flauta transversal. O Centro é a única escola pública de música da região de Conceição do Araguaia.

[VIDEO1]

Plano pedagógico
Jerusa explica que os contratos da instituição são frágeis e precisam ser refeitos cada vez que muda a administração pública. No total, ela conta com quatro professores, todos de iniciação musical. No ano passado, 80 alunos estavam matriculados, sendo 30 crianças. As matrículas costumam chegar a 200, mas a falta de estrutura leva uma parte dos inscritos a desistir. A escola é considerada pública e municipal, nenhum aluno paga matrícula ou mensalidade, mas não está regulamentada junto ao Ministério da Educação (MEC). Para dar início a esse processo, é preciso que a escola apresente um plano político pedagógico. ;E já estamos fazendo isso, está quase pronto;, garante Jerusa.

Eleito no ano passado, o prefeito de Conceição do Araguaia, Jair Martins (PMDB), diz que pretende manter o projeto de Levino de Alcântara. ;Hoje, a escola depende em tudo de nós. Mas vou colocar para funcionar em memória do maestro. Estamos refazendo os contratos;, avisa. Ele também pleiteia uma emenda parlamentar de R$ 150 mil junto ao deputado federal Joaquim Passarinho (PSD-PA). A escola está ligada à Secretaria de Educação e Cultura e o diretor do órgão é indicado pelo PSD. ;A gente vai reestruturar a escola, porque ela estava praticamente fechada, e o diretor da secretaria vai a Brasília para ir ao MEC para dar entrada na regulamentação;, garante Martins.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação