Diversão e Arte

Sociedade discute o destino de atividades culturais em Taguatinga

Interferências externas de ações inclusive policiais estarão em pauta de reunião aberta sobre funcionamento do Mercado Sul de Taguatinga

Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 23/03/2017 07:33

Mercado Sul em Taguatinga

O Mercado Sul é reconhecido como polo cultural do Distrito Federal e ponto de constantes atividades nas mais diversas áreas de cultura. Espaço para a criação e o funcionamento de inúmeros projetos, iniciativas e associações culturais. Sua vivacidade e vitalidade encontram-se na diversidade de empreendimentos culturais que existem no local, sendo um ponto de encontro para artistas, estudantes, produtores culturais e o público em geral.

Nos últimos meses, o espaço tem sido alvo de interferências policiais que prejudicam o seu funcionamento. Outros problemas se colocam no caminho dos produtores de cultura no Mercado Sul e, para debater a resolução dessas questões, foi convocada para hoje uma reunião com as autoridades responsáveis, entre elas, representantes do governo, secretaria de cultura, administração regional, Câmara dos Deputados e Conselho de Segurança.

Desde os anos 1970, após a diminuição das atividades mercantis e comerciais para as quais o Mercado foi construído, os usos alternativos das lojas e boxes começaram a proliferar. A ação cultural intensificou-se muito nos anos 2.000, com a chegada do Instituto Invenção Brasileira, associação presidida pelo antropólogo e produtor cultural Marcelo Manzati, que realiza um trabalho com o teatro de bonecos, mais conhecido como mamulengo. O espaço, que antes era conhecido por sua degradação urbana, foi revitalizado pela movimentação cultural.

A presença do tráfico de drogas é um resquício da antiga degradação do local, sendo diariamente combatida por artistas e produtores culturais que atuam no mercado. No entanto, a propagação de informações erradas criou uma falsa ideia de que os projetos de cultura, atraindo maior circulação de pessoas, teriam relação com a permanência do antigo problema. Manzati explica que o movimento de cultura combate o tráfico de drogas ilícitas, por ocupar melhor os espaços e diversificar a presença de pessoas na área.

;As interferências policiais dos últimos meses, solicitadas, inclusive, pelo movimento cultural, com apoio dos comerciantes e moradores, tentaram melhorar esse aspecto. No entanto, construiu-se, entre parte da população, a ideia de que tudo é uma coisa só. As falas dos agentes públicos são sempre muito agressivas e desdenham quando dizemos que o trabalho cultural realizado é importante;, afirma Marcelo Manzati. Apenas a sede do Invenção Cultural já abriga mais de 20 coletivos de arte que compartilham o espaço de biblioteca, salas de exposição, cineclubes, produtoras culturais, grupos de música e teatro. Entre eles: As Batuqueiras, Baladeira Filmes, Escola Libre de Teatro, etc.

Abder Paz, arte-educador e gestor do Invenção Brasileira, lembra que o Mercado Sul é uma referência de polo de produção cultural brasileira. ;São poucos lugares que conseguem ter essa quantidade de grupos tão próximos e, que apesar de serem independentes, atuam juntos e têm arranjo produtivo local;, afirma. A ideia para o encontro de hoje é sensibilizar o poder público para as especificidades dos trabalhos realizados no local. ;É preciso criar mecanismos e até políticas públicas para proteger as atividades que atuam para produzir cultura e transformar a sociedade;.

Vale lembrar que a Secretaria de Cultura apoia as ações culturais do Mercado, assim como o Ministério da Cultura,que, na gestão passada, chegou a premiar as atividades do local com o edital Redes de Cultura. Para o encontro de hoje, foram também convidados participantes de diversos movimentos culturais da periferia e do centro, como o Fórum de Cultura do DF, Fórum de Culturas Populares e Tradicionais e Movimento dos Pontos de Cultura.

História cultural do Mercado

Já na década de 70, o jornalista Ivaldo Cavalcante possuía seu estúdio fotográfico no local (ver livro Taguatinga Duas Décadas de Cultura). Depois, nos anos 90, o luthier João Pedro Aden da Silva (Mestre Dico) e seus descendentes fizeram dali sua oficina, frequentada, até hoje, por grandes nomes da música brasileira. A Tempo EcoArte, do Mestre Virgílio, o Estúdio Gunga, a Platinelas e o Ateliê de Costura da Nem, são exemplos de projetos que se estabeleceram nos últimos dez anos. Outras ações também tiveram vida intensa neste local, como a Red Empreendimentos Culturais, a Tribo das Artes e o Espaço Cultural Mercado Sul. Recentemente, a ação mais importante foi o Movimento Mercado Sul Vive. O projeto levou à realização de eventos como o Arraiá do Beco e a EcoFeira, e foi responsável pela ocupação de oito lojas, das mais de 50 existentes, recuperando-as de um estado de abandono para uma profunda transformação e uma intensa atividade cultural.


Ato de desagravo

Local: Instituto Invenção Brasileira (QSB 12/13 Bl. B Lj. 5, Área especial Mercado Sul). Às 17h haverá visita do governador e, a partir das 20h30, roda de debate com parceiros, presidência da Câmara Distrital e apoiadores

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