Diversão e Arte

Wagner Tiso celebra 60 anos de carreira com show no Clube do Choro

Em entrevista, artista evoca a fase do Clube da Esquina, do qual foi um dos fundadores

Irlam Rocha Lima
postado em 27/04/2017 07:32
Wagner Tiso, compositor
Acordeonista, pianista, compositor, arranjador, maestro, autor de trilhas sonoras e produtor, Wagner Tiso, ao longo de 60 anos de carreira, tem exercido praticamente todas as funções relacionadas com o universo da música. Ligado a essa forma de expressão artística desde a tenra idade, ele ocupa hoje o panteão da glória do segmento artístico, ao lado de outros nomes consagrados, como Heitor Villa-Lobos, Pixinguinha e Tom Jobim.

Parceiro de Milton Nascimento desde o início da adolescência, em Três Pontas, na região Sul de Minas Gerais, Wagner ao criar com outros músicos notáveis o lendário grupo Som Imaginário, deu fundamental contribuição ao mítico Clube da Esquina, que surgiu há 45 anos. Com 35 discos lançados, arranjos criados para Elis Regina, Gal Costa, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre muitos outros astros e estrelas da MPB.

Durante 12 anos, ele regeu a Orquestra Petrobras Sinfônica, trabalho do qual se orgulha. Entusiasma-se quando se refere aos duos que formou com o flautista Nivaldo Ornellas, o saxofonista Paulo Moura, o guitarrista Victor Biglione e o violoncelista Márcio Malard; e das apresentações ao lado de nomes consagrados do jazz, como Herbie Hancock e Waine Shorter. O pianista destaca-se ainda como criador de trilhas sonoras para filmes, como Os deuses e os mortos (Ruy Guerr), A lira do delírio (Waler Lima Júnior) e O grande mentecapto (Oswaldo Caldeira).

Desde sempre, Wagner tem marcado presença em palcos brasilienses. De volta à cidade, faz show com Márcio Malard, hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro, pelo projeto comemorativo dos 40 Anos do Clube do Choro. O duo vai interpretar composições de Villa-Lobos, Tom Jobim, Dorival Caymmi, Chico Buarque, Gilberto Gil e, claro, Milton Nascimento.

Quando comemora 60 anos de carreira, quais as lembranças mais caras guardou dessa trajetória vitoriosa?
Tenho uma boa memória e me recordo de fatos que foram importantes, desde o começo da carreira em Três Pontas. Filho de família originária do Leste Europeu, convivi desde cedo com um ambiente musical, em que todos tocavam algum instrumento. Aos 4 anos, dividia as teclas de um piano com meu irmão de 7 anos. Ao completar 9 anos, comecei a tocar na ZWV 36 Rádio Clube de Três Pontas.

Quando conheceu Milton Nascimento, outro famoso trespontense?
O Milton era meu vizinho na Rua 7 de Setembro. A casa dos pais dele ficava em frente à casa da minha família. Tínhamos uma boa convivência. Em 1957, com 11 anos de idade, me juntei a ele musicalmente e passamos a tocar no Clube Operário e no Automóvel Clube de Três Pontas. Tomo essas datas como marco do início de minha carreira, pois foi quando passei a ganhar dinheiro com meu trabalho.

O histórico grupo W;s Boys surgiu em seguida?

Sim. Adolescente, me mudei para Alfenas, onde fui fazer o curso científico. Como vi que lá poderia dar continuidade ao trabalho de músico, chamei o Milton para ir ao meu encontro. Foi lá que formamos o W;s Boys. Os outros integrantes eram jovens músicos cujos nomes começavam com W. O Milton à época, adotou o nome artístico de Wilton. Com esse grupo, nos apresentávamos em várias cidades da região Sul de Minas, tocando samba canção, bolero, chá chá chá, mas já nos preocupávamos em descobrir novos caminhos harmônicos, na busca da evolução musical.

De Alfenas para Belo Horizonte foi um caminho natural para os jovens músicos de Três Pontas?

O ano era 1963 e queríamos ir além artisticamente e fomos para Belo Horizonte viver de música. Lá, encontramos um ambiente propício. Logo, já estávamos nos apresentando numa casa de jazz, chamada Berimbau. O Milton e eu formamos com o Nivaldo Ornelas e o baterista Paulo Braga, que depois formaria na banda de Elis Regina, um quarteto. O Milton, além de crooner, tocava baixo. Morávamos num quarto de empregada no Edifício Levi, no centro de Belo Horizonte. No mesmo prédio morava a família Borges e nos tornamos amigos do Marilton, o filho mais velho do seu Salomão. Depois, o Milton se aproximou do Márcio.

Wagner Tiso se apresentará acompanhado do violoncelista Márcio Malard

Ali, então, já tinha um núcleo do que viria a ser o Clube da Esquina. Qual sua recordação do movimento?
Eu fui para o Rio de Janeiro primeiro do que o Milton. Lá, inicialmente, acompanhei o Cauby Peixoto na boate Drink, no Leme. Depois, com o baixista Luis Alves, o baterista Robertinho Silva e mais Zé Rodrix, que tocava órgão, e Tavito, guitarrista e vocalista, formamos o Som Imaginário, que participou do Festival Internacional da Canção, com a música Feira moderna. Fomos o primeiro grupo que acompanhou o Milton, depois que ele se destacou nesse festival, ao interpretar Travessia, dele e de Fernando Brant. Naquele ano, 1967, ele, Beto Guedes e Lô Borges gravaram o LP Clube da Esquina. Foi então criado o mitológico Clube da Esquina, que não era um movimento, como muitos querem.

Movimento ou não, havia, realmente, rivalidade entre os integrantes do Clube da Esquina e os da Tropicália?
De maneira nenhuma, até porque o Clube da Esquina e a Tropicália tanto musical como esteticamente tinham propostas diferentes, A grande mídia na época tentou criar essa rivalidade, mas sem êxito. Eu, por exemplo, tinha muita admiração pela música de Gilberto Gil. Caetano Veloso sempre tecia elogios às soluções harmônicas do pessoal do Clube da Esquina. Nós, os músicos, naquele tempo, tínhamos um ponto de encontro no Bar Diagonal, no Baixo Leblon. Nós e os baianos sempre nos encontrávamos ali. Depois, começaram a aparecer Belchior, Fagner, os Novos Baianos.

Você chegou a ter uma carreira solo?
Na verdade, sempre gostei de trabalhar com outros músicos. Formei vários duos com Jonhny Alf, Paulo Moura, Victor Biglione e Márcio Malard, com os quais gravei discos. Em estúdio e no palco, acompanhei muita gente; e criei arranjos para incontáveis cantores, de Elis Regina a Gonzaguinha, de Chico Buarque a Gal Costa.

À frente da Orquestra Petrobras Sinfônica é que você se destacou mais como maestro?
O trabalho à frente da Orquestra Petrobras Sinfônica me trouxe muitas alegrias. Ali, fiquei de 2005 até este ano. Realizamos um belo trabalho, homenageando mestres da música brasileira, de Heitor Villa-Lobos e Paulinho da Viola; e, felizmente, há registro de tudo isso. O intuito desse projeto é a preservação da música brasileira, com a utilização da linguagem sinfônica.

Qual é o seu projeto mais recente?
Com o Victor Biglione, estou lançando um álbum intitulado The Finland Concert, em que interpretamos composições de Cartola, Tom Jobim, Chico Buarque, Edu Lobo, Gilberto Gil e Milton Nascimento e de minha autoria. A gravação, ao vivo, foi no Feastival Frutas Tropicales, na Finlândia, no encerramento de nossa turnê pela Europa.

Como vê a música feita no Brasil atualmente?
Vejo como algo ligado ao entretenimento, sem nenhuma profundidade, mas com forte respaldo da grande mídia.

Que avaliação faz da política cultural do atual governo?

É algo desconectado da nossa realidade cultural. Por injunção política, sem nenhum debate com o nosso segmento, colocaram no Ministério da Cultura alguém que não tinha até então nenhum vínculo com esse que é um dos nossos bens mais valiosos.

Wagner Tiso e Márcio Malard
Show do duo hoje e amanhã, às 21h, pelo projeto 40 Anos do Clube e do Choro, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.

Quinta musical

Brasileiríssimo

Show do contrabaixista Oswaldo Amorim e do gaitista Pablo Fagundes, pelo projeto Quinta Mais da C;est si Bon Crêperie e Bistrô (213 Norte). Couvert artístico R$ 10. Início às 20h30. Classificação indicativa livre. Informações: 3272-1005

Jazz et Vin
Show com o guitarrista Paulo André Tavares e o Trio Jazz III em homenagem aos grandes guitarristas de jazz, no C;est la Vie Bistrô & Creperia (408 Sul). Couvert artístico R$ 10. Início às 19h30. Classificação indicativa livre. Informações: 3244-6553

La Gozadera
Festa-show com o grupo Sabor de Cuba e participação do grupo de dança Corazón Salsero, no Espaço Canteiro Central (Setor Comercial Sul). Ingresso R$ 20.Início: 21h. Não recomendado pra menores de 18 anos.

Blues de bolso

Show com o cantor Bemol e o guitarrista Haroldinho Mattos, tocando clássicos do gênero, pelo projeto Pier Acústico (Avenida das Nações), como parte da programação do Prêmio Profissionais da Música.Início às 19h. Classificação indicativa livre.

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