Diversão e Arte

Evento reúne grupos de mamulengo no Espaço Imaginário Cultural

A chegada do Mamulengo no reino do Cavalo Marinho reúne dois universos culturais em uma mesma brincadeira

Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 21/05/2017 07:30
O encontro do Mamulengo com o Cavalo Marinho promete tradição e inovação nos espetáculos
A chegada do Mamulengo no reino do Cavalo Marinho surge para reunir o melhor de dois folguedos típicos do Nordeste e com grande tradição brasiliense. Impregnados de encantamento e histórias da cultura popular, diferentes brincantes da cidade se encontram com os mestres Chico Simões, do Mamulengo Presepada (DF) e Aguinaldo Silva, do Cavalo Marinho Estrela de Ouro de Pernambuco. A junção das brincadeiras pretende mostrar o encanto das duas expressões cheias de música, dança, teatro e bonecos.

Chico Simões, um dos criadores do Mamulengo Presepada, assistiu à brincadeira pela primeira vez em 1981, em Vitória, no Espírito Santo. Ao final da apresentação de Carlinhos Baubau, da Carroça de Mamulengos, sentiu-se em enlevo com as histórias de amor e guerra contadas com maestria e graça pelos bonecos e logo se ofereceu para ajudar. A partir de então, foram três anos viajando pelo nordeste brasileiro. Em 1983, em Olinda, Chico e Zé Regino brincaram pela primeira vez com o nome de Mamulengo Presepada, um dos grupos mais tradicionais de Brasília.

A tradição nordestina pegou na capital e o mamulengueiro lembra a mistura cultural. ;Essa é nossa vocação. Brasília é mesmo uma mistura gostosa do Brasil, aqui tudo se encontra. Somos a própria diversidade cultural e aprendemos desde cedo a conviver com as diferenças e dessa convivência criar ou recriar novas brincadeiras;, destaca. Na cidade, as tradições ganham novas roupagens e se transformam por meio da brincadeira local, tornando-se interessante para os novos públicos. ;O que conservamos e que permanece inalterada a séculos é a estrutura interna das brincadeiras, seu espírito livre e mutante como tudo que é vivo;.

Daniel Carvalho, rabequeiro e diretor musical do espetáculo, enfatiza que o que mais lhe atrai na cultura popular são os trabalhos feitos em grupo e improvisos, além da cooperação constante para a criação de um bem comum. ;Esses encontros nos revelam algo de novo a cada vez que nos apresentamos, toadas e improvisos que o universo da brincadeira nos permite e nos instiga;. O músico escolheu a cultura popular como foco de trabalho pela força e beleza de suas manifestações e por seu conteúdo carregar uma atualidade que pode ser traduzida para o cotidiano das cidades.

Quem se junta ao folguedo é o mestre Aguinaldo Silva, que veio à capital para uma residência artística de intercâmbio, representando seu grupo de Pernanbuco. Foram dois meses de experiências trocadas por meio da dança, da música e da encenação do Cavalo Marinho com os brincantes brasilienses. Atualmente, pelo menos 10 grupos de mamulengos se espalham pelo Distrito Federal. O teatro de bonecos do Nordeste, inclusive o feito em Brasília, é reconhecido como patrimônio imaterial brasileiro pelo Iphan.

Aguinaldo Silva e Chico Simões: projeto com o melhor das brincadeiras tradicionaisPara Chico Simões, o projeto é, de certa forma, um reencontro, já que tanto o Mamulengo quanto o Cavalo Marinho têm raízes na Comédia Dell;arte e antigas formas de máscaras teatrais que vieram do oriente antigo e sobreviveram com as tradições clássicas e populares. ;Alguns personagens, chamados de figuras, tais como Mateus, Catirina, Capitão, Mané Gostoso, Babau e outros já são comuns nas duas brincadeiras. Vamos adaptar outros, emprestando ao Cavalo Marinho Dona Quitéria e trazendo para o mamulengo vários outros;, conta o mamulengueiro.

Cultura de um povo


Além do espetáculo, o projeto apresenta uma exposição fotográfica que reúne algumas das mais de 70 figuras que fazem parte da brincadeira do Cavalo Marinho.;Somos seres culturais por essência. Não temos alteridade, não sabemos o que é nem respeitamos o próximo;, destaca Chico Simões. Vale lembrar que o Mamulengo pressupõe comunicação direta e improvisação com o público, que deve ser parte integrante e não apenas observador do brinquedo, tornando o espectador cada vez mais envolvido com a história em cena.

E assim, Brasília se firma como uma capital de síntese, reunião e reelaboração cultural de diferentes regiões. A riqueza da criação local se destaca por sua particularidade de conectar a criação brasiliense e um mosaico de todo o país.

A chegada do Mamulengo no reino do Cavalo-marinho

No espaço Imaginário Cultural (QS 103, Cj. 5 - Samambaia Sul). Amanhã, às 20h e domingo, às 17h. A entrada é franca e a classificação indicativa livre.

O que é?


O Cavalo Marinho é uma brincadeira popular com origem na Zona da Mata de Pernambuco e no sul da Paraíba, criada por trabalhadores de engenhos de cana-de-açúcar. Tradicionalmente, celebra os Santos Reis e é realizada no ciclo natalino. Um teatro popular religioso e sincrético, que envolve rituais, figuras (personagens), música, dança, toadas e improviso. Reúne cerca de 76 personagens mascarados, entre animais, humanos e seres fantásticos, conduzidos por um banco com músicos(as) que executam canções e toadas que dão enredo à brincadeira.

O Mamulengo, ou Teatro de Bonecos Popular do Nordeste, possui uma estrutura aparentemente simples, que revela soluções cênicas originais e engenhosas. A brincadeira é centrada na capacidade de improvisação e no espírito cômico do mamulengueiro, ator brincante que dá vida a dezenas de bonecos/personagens, por trás de uma tolda de pano. Também pode ser acompanhado de músicos e musicistas brincantes que conduzem o enredo com canções populares. O Mamulengo (PE e DF) é também chamado de Cassimiro Coco (PI, CE e MA), João Redondo (RN), Babau (PB) e Mané Gostoso (BA).

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