Diversão e Arte

Leia entrevista com o ator do filme 'Rei Arthur', Charlie Hunnam

Na primeira semana, o filme foi visto por 390 mil pessoas no Brasil

Ricardo Daehn - Enviado especial
postado em 23/05/2017 07:11

Charlie Hunnam não era a primeira opção de  Guy Ritchie para o papel

São Paulo ; A versão para cinema de uma lenda secular, que nunca saiu da mente do ator Charlie Hunnam, catapultou o astro de 37 anos para outro patamar. Ele interpreta o protagonista da cara produção hollywoodiana Rei Arthur: A lenda da espada. "Era obcecado com a versão de John Boorman para Excalibur (1981), que conta a história dos Cavaleiros da Távola Redonda. Entre os 6 e 9 anos de idade, creio ter visto aquele filme 15 vezes. Dali foi que notei minha vontade de ser ator. Quando soube que Guy Ritchie faria o longa, fiquei ensandecido para estar no filme;, conta Charlie, na primeira passagem pelo Brasil.

Ao lado dos atores Aiden Gillen (de Game of thrones), Jude Law ; que, na trama, vive o maléfico Vortigern ; e Astrid Berg;s-Frisbey (Piratas do Caribe 4), Hunnam ajuda a compactar parte das mais variadas aventuras do expoente britânico nos romances de capa e espada. ;Juntar tudo, em duas horas (o tempo de um longa-metragem), seria inviável. Como num primeiro capítulo, ainda não atingimos o material mais polpudo da literatura. Não sou o único entusiasta de chegarmos a outro título, e desenvolvermos o triângulo romântico formado por Arthur, Genebra e Lancelot;, conta o astro.

Por enquanto, apesar de, no Brasil, o filme ter sustentado a primeira posição no ranking das bilheterias 390 mil espectadores na passagem pelo primeiro fim de semana, os dados estrangeiros deixam pouco vislumbre para possíveis continuações de Rei Arthur: com estreia em cerca de 20 países, o registro de interessados na fita de drama e ação ainda não ultrapassou bilheteria suficiente para resgatar nem US$ 100 milhões dos US$ 175 milhões investidos no filme.



ENTREVISTA/ Charlie Hunnam



Você via o personagem como um valentão?
Não, de modo algum (risos). Acho que há uma responsabilidade muito grande, quando se refaz uma versão de algo como Rei Arthur, que já foi estabelecido em outras ocasiões no cinema. Você quer ser único e fazer algo fresco e diferente. Optamos por isso, em vez de sermos respeitosos com o original. Há elementos da história que você não pretende mudar tanto. Guy quis um Arthur mais acessível e que tivesse pontos de contato para o público mais jovem. É algo como, amanhã, qualquer um de nós se encontrar escalado, do nada, para ser rei da Inglaterra ou do Brasil. No filme, fomos pela via oposta do retrato do nobre, que engrena a jornada de se tornar o rei. Estamos apenas contando o primeiro capítulo de uma longa história e queríamos dar a maior rejuvenescida possível.


Parece que você não era a primeira escolha do diretor...
Não estava na lista inicial de Guy Ritchie. A competição na nossa área é aterradora. Ritchie é daqueles diretores com os quais todos querem trabalhar. Dados meus últimos trabalhos, sempre americanos, as pessoas deixaram de me ver como um ator britânico. Eu pensava muito em Ritchie; mas ele nem me levava em conta (risos). Na filosofia da luta pelo que se quer, peguei um voo e fui para a Inglaterra. Fiz Ritchie estar comigo para um bom chá, e, de fato, gostamos um do outro.


Como construíram o personagem?

Apostamos em enfatizar a relutância de Arthur em aceitar a tarefa de se assumir um rei. Mas ele chega à conclusão de que não pode renegar o destino: entre castelos, ele terá que enfrentar o dragão. Ter me detido às origens da relutância de Arthur foi o que se tornou um desafio. Na base disso está o medo. É o momento arturiano que segue o padrão de Moisés, de Luke Skywalker: há o embate entre fé e medo ; nisso está toda a liga. Na vida, criamos obstáculos para frenar a entrega da melhor versão de nós mesmos. Na glória, e em toda a segmentação inicial da saga de Arthur, lida-se com questões balizadas pelos seres humanos que sustentam narrações dramáticas: buscamos sentido para este amontado de porcarias que podem ocorrer no cotidiano de todo e qualquer um.


Você acha que já superou a associação sua com a imagem daquela ;do ator que recusou fazer 50 tons de cinza;?
Mesmo com muito trabalho duro, estar no mercado de cinema demanda um quinhão de sorte. Com um conjunto de trabalho considerável, as pessoas sempre vão te associar aos papéis mais recentes. Persigo uma linha de aprimoramento, à caça de interpretações mais honestas e interessantes do que as da minha última aparição. Atuar é como qualquer outra profissão: você ganha cancha, com o tempo. Vivi, com rei Arthur, a conjuntura de ser desafiado, em paralelo, com o filme Z ; A cidade perdida, assinado pelo James Gray (de Os donos da noite). São passos pelos quais tento um reconhecimento.


Como recebe as fortes respostas negativas dadas por parte da crítica em Rei Arthur?
Tento me ater aos meus juízos e a me afastar dos fatores externos: disponho do brilho das viagens de lançamento do filme (risos). Há críticos que não têm se mostrado generosos com Guy, mas percebo uma dimensão quase esportiva nisso. Ao lado da espetacularização das produções de cinema, houve um acompanhamento desproporcional nas incursões de pessoas que tentam rebaixar os filmes produzidos. São ataques que fogem da realidade do que está impresso nas telas. Sabe aquele discurso do Theodore Roosevelt, ;O homem na arena?;. Em suma, fala da facilidade de se julgar os que ousam com pureza de coração. Eu sei quanto é difícil fazer um bom filme e concluir o trabalho ainda olhando os colegas com empatia, e com o coração aberto, celebrar a conquista de todos. As mídias sociais, com desumanidade e com a medição dos temas que bombam, encorajam julgamentos rasos do tipo curti ou não curti. É algo tóxico e insidioso.


O espírito de liderança do seu personagem estava desde sempre no topo do roteiro?

Na maneira mais ampla, ele estava determinado como um líder, no roteiro. Ele era um modelo. Foi meio desconcertante ver que o roteiro poderia se dissolver, com Guy Ritchie, já que muito, com ele, se efetiva no set de filmagem. Pelo alto orçamento do filme, embarcamos num escopo de ansiedade e de responsabilidade. Para contornar a ansiedade, há atores que elaboram demais e trazem rigor em cada ensaio feito em casa. Na alquimia de Guy não há espaço para isso. Com ele, trata-se de estar lá, aberto à dinâmica do set. Com ele, mesclam-se cenas, algumas muito distante do projetado, algumas sequências se tornam mero ponto de partida e há as que demandam até refeitura. É a mágica do processo dele.


É bom este caminho de incerteza?
Divertido, excitante e libertador. No meio disso, há uma exacerbação da ansiedade. Há dias em que você queria estar na cama, em vez de se desafiar, com verdades encenadas, emoções e o esgotamento das 14 horas de ação, diária, com uma espada na mão. Mas é trabalho, e você está em campo. Ao mesmo tempo, é inspirador se adequar ao jorro dos fluidos criativos. Há ainda o peso de um estúdio estar bancando uma aventura orçada em US$ 175 milhões. E, ainda por cima, você terá a cara estampada no pôster (risos).

A Maga do filme traz uma lufada de importância para o universo feminino no filme, não?

Foi algo conquistado na realização do filme. Se tinha o desejo de que Arthur e a maga ficassem em pé de igualdade, quando não, ela estivesse em patamar superior. Não no físico, mas na destreza espiritual, ela se projeta como uma verdadeira mentora para ele. Ela auxilia ele numa verdadeira travessia. Ele é de fato uma interessante e poderosa personagem. Queria até que ela desenvolvesse mais, mas, infelizmente, tínhamos sete horas de material filmado para ser transformado em duas horas. Se tivermos a sorte de voltar, acho que ela terá um enfoque ainda maior.

Como você vê o destino, algo tão presente no longa?

Adoro a exploração da temática do destino, de um potencial calculado de autorrealização. Não curto a ideia de predeterminação de um futuro. A beleza da vida está na possibilidade de escolhermos nossos destinos. Identificar uma trajetória a ser seguida é algo valioso. Quis explorar, no filme, a relação entre fé e medo. Lidamos com derrotas, com um sentimento de inadequação, somos postos à prova, mas, no fundo, qualquer um pode optar por qualquer caminho. A chave está na positividade da autoconfiança: marchar em direção a seus sonhos.

Arthur não tem mais ;uma antiga vida para voltar;. Como vê sua antiga vida, ao fim de cada filme?

A estranha vida de astro que vivo é permeada pela trajetória pessoal de alguém cujo sentido está ligado a ação no momento de filmagens. Silencio, temporariamente ; entre o ;ação; e o ;corta; ;, a inquietação da velha pergunta: que sentido tudo isso tem? Cultivo o propósito de que há valor na minha profissão: você é nutrido, por muito tempo, num só projeto que te exaure e, de repente, tudo isso acaba. Nisso, me volto à minha vida pessoal que, por vezes, traz até uma sensação dolorosa. Tenho sorte, por ter excelentes amigos e uma ótima namorada ;, num estilo de vida bacana. Não fica tão difícil, portanto.


O repórter viajou a convite da Warner










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