Diversão e Arte

Encontro de Pífanos reúne novos e antigos nomes da cultura popular

Além das apresentações, o projeto alia palestras, debates e oficinas de fabricação do instrumento

Isabella de Andrade - Especial para o Correio
postado em 04/06/2017 07:00

Mestre Zé do Pife e as Juvelinas, um dos grupos mais tradicionais da cultura popular brasiliense

De origem indígena, o pífano se espalhou por diferentes regiões do país, principalmente entre o Cariri Cearense, Pernambuco e Paraíba. O instrumento versátil é uma flauta transversal, feita geralmente com bambu, para animar um dos estilos musicais mais tradicionais do país. Atualmente, o pífano ganha roupagens modernas e as novas gerações tratam de expandir as canções, mantendo sempre viva a matriz original. Entre 3 e 5 de junho a capital recebe o segundo Encontro de Pífanos de Brasília, com grandes nomes de todo o país. Além das apresentações, o projeto alia palestras, debates e oficinas de fabricação do instrumento.

O encontro é realizado pelo grupo Mestre Zé do Pífano e as Juvelinas, importante nome da cena da cultura popular brasiliense, que segue na missão de perpetuar a tradição das bandas de pífano. A programação apresenta nomes relevantes, tais como Maracaju e La Pifada, da França; e os grupos locais Ventoinha de Canudo, Mamulengo Presepada, Banda de Pífanos de Caruaru (PE), Carlos Malta (RJ), Irmãos Aniceto (CE), Chau do Pife (AL), Flautins Matuá (SP), Ventoinha de Canudo (DF), Mamulengo Presepada (DF), Duo Alvenaria (DF). Para compor o som, se juntam aos pífanos a zabumba, o triângulo, a caixa e o pandeiro. As misturas, cores e sotaques são diversos.

Isa Flor, coordenadora do projeto e integrante do Mestre Zé do Pífano e as Juvelinas destaca que se inspira em toda forma de cultura popular e faz parte da banda há nove anos. ;Acredito que a cultura popular tem um poder muito grande de resgate da autoestima do povo brasileiro, do empoderamento, um potencial de trazer de volta para a gente uma identidade que, muitas vezes, se perde no contato de culturas externas;. Para a musicista, o povo pode resgatar dentro de si uma parte de sua própria cultura, além da sensação de pertencimento. A paixão pelo pífano e pela cultura popular veio depois de uma temporada no Cariri cearense.

As diferentes formas de expressão da cultura popular possibilitam um resgate da história de nosso próprio povo, passando pelo olhar dos mais velhos, seguindo entre jovens e crianças. ;É importante resgatarmos essa cultura ancestral, o próprio brincar, fazer versos, é um material potente e criativo;, destaca Isa Flor. Quem criou as Juvelinas, em 2007, foi o Mestre Zé do Pife, tocador e fabricante do instrumento há 50 anos. Algumas das canções do grupo mostram releituras inusitadas de músicas populares. As canções aparecem entre bonecos, danças e brincadeiras tradicionais.

Enquanto isso, o músico e compositor Carlos Malta, lembra que todo músico brasileiro deve ter algo que o ligue à identidade cultural de seu país. Malta, toca diversos tipos de flauta, além de clarinete, clarone e saxofone, nutrindo um carinho especial pelo pífano, que possibilita um trabalho de difusão da cultura popular. ;Ele é feito com bambu brasileiro, por mãos brasileiras. Quando criei o meu grupo, há 20 anos, queria colocar uma lente de aumento nessa tradição, que andava meio esquecida. É muito gratificante ver que hoje estamos em um grande encontro de pífanos na capital;, comenta o músico. Para ele, a música aparece como importante meio de conectar pessoas.

Malta destaca que seu verdadeiro propósito é fazer música e conversar por meio do som, estabelecer uma interação e agregar pessoas. ;O pífano faz isso, com ele eu consigo chegar a melodias muito ricas. O instrumento funciona para mim como o pincel na mão de um pintor, vou desenhando com ele e isso vira composição musical. É meu meio de comunicação com o mundo;.

Legado popular


A tradição musical é o que se destaca entre os participantes do encontro. A Banda Cabaçal dos Irmãos Ancieto,vem de uma antiga linhagem e foi criada há mais de 200 anos. Os mestres ancestrais se juntam para levar brincadeira, sonoridade e expressão corporal. Enquanto isso, a Banda de Pífanos de Caruaru foi criada pelo zabumbeiro Manoel Biano, em 1924. Atualmente, o mestre Sebastião, aos 97 anos, é o único remanescente da formação original.

O pife é feito de taboca, uma espécie de bambu, com sete orifícios, sendo um para soprar e seis para dedilhar. O som do instrumento influencia compositores brasileiros de diferentes estilos e a mistura entre músicos tradicionais e contemporâneos cria novos estilos e faz o pífano reviver. A cultura brasiliense se reinventa a partir de suas múltiplas influências e cria sua identidade própria a partir do legado de diversas regiões. A cultura nordestina é uma das raízes fundamentais da identidade brasiliense e, assim sendo, mestres, jovens, homens e mulheres, resistem para fazer a música circular.

Encontro de Pífanos de Brasília

De 3 a 5 de junho, na Feira da Torre de TV. A entrada é gratuita e a classificação indicativa é livre. Confira a programação completa no site do Correio.

Programação artística

Sábado, 03 de Junho


17h Cortejo de abertura com Aprendizes de Zé do Pife (DF)

18h Mamulengo Presepada (DF)

19h Ventoinha de Canudo (DF)

20h30 Flautins Matuá (SP)

22h Banda de Pífanos de Caruaru (PE)

Domingo, 04 de junho

18h Duo Alvenaria (DF)

19h Mestre Zé do Pife e as Juvelinas (DF)

20h30 Irmãos Aniceto (CE)

22h00 Chau do Pife (AL) e banda, com participação especial de Carlos Malta (RJ)

Programação de oficinas

Sábado, 03 de Junho

Oficina de fabricação de pífanos ; Mestre Zé do Pife e as Juvelinas (DF) ; 9h às 12h ; Feira da Torre de TV ; Gratuita.

Palestra e Círculo de debate sobre produção e fomento da cultura popular ; Produtores do DF e do Brasil ; 14h às 17h ;SESC Presidente Dutra ; Gratuita

Domingo, 04 de junho

Oficina de danças cabaçais ; Irmãos Anicete (CE) ; 9h às 12h ; SESC Presidente Dutra ; SESC Presidente Dutra ; Gratuita

Segunda, 05 de junho

Revelando Segredos de Pífano ; Chau do Pife (AL) e Carlos Malta (RJ) ; 9h às 12h ; contribuição mínima de R$ 20,00 - SESC Presidente Dutra - Gratuita

Xingu Cariri Caruaru Carioca ; Espaço Itaú DF ; Casa Park. 14h Com roda de conversa com Carlos Malta. Ingresso: R$ 27 (inteira) R$13,50 (meia). Quem fizer oficinas ou mostrar pífano na entrada paga meia!

Oficina Comunicante: Comunicação para a Cultura Popular ; Pareia Comunicação e Estúdio Gunga (DF) ; 19h as 22h ; SESC Presidente Dutra ; Gratuita

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