Diversão e Arte

Pesquisadora reúne trabalhos criados a partir do álbum dos Novos Baianos

Quarenta e cinco anos depois de lançado, Acabou Chorare é objeto de abordagem da pesquisadora paulista Ana de Oliveira

Irlam Rocha Lima
postado em 26/06/2017 07:30

Baby do Brasil e os integrantes dos Novos Baianos em na Concha Acústica

Acabou chorare, o LP dos Novos Baianos lançado em 1972, lidera a lista dos maiores discos lançados no Brasil, de acordo com enquete feita pela revista Rolling Stone com críticos musicais, jornalistas, produtores e estudiosos, na década passada. Os critérios para a escolha foram ;valor artístico intrínseco, importância histórica e quanto o álbum influenciou outros artistas.;

Esse clássico da MPB, presente no imaginário de muita gente, dá nome à turnê que o mítico grupo faz pelo país desde o verão, depois de estreia em Salvador. Baby do Brasil, Moraes Moreira, Luis Galvão, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes chegam a Brasília no dia 1; de outubro para apresentação no Ginásio Nilson Nelson.

Quarenta e cinco anos depois de lançado, Acabou Chorare é objeto de abordagem da pesquisadora paulista Ana de Oliveira em livro homônimo que reúne textos e projetos visuais inspirados nas composições do LP, com o intuito de revelar riquezas ainda escondidas e jogar luz sobre a obra de importância fundamental na história da música e da cultura popular brasileira.

Para compor a obra, a pesquisadora convidou artistas, escritores e intelectuais de diversas vertentes. O livro traz textos de Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Xico Sá, Evandro Nascimento, Carlos Rennó, Hermano Vianna, Beatriz Azevedo, André Masseno e Fred Góes. Colaboram com artes visuais Vik Myniz, Tulipa Ruiz, Opavivará, Joana César, Alemão, Domenico Lancellotti, Bell Borba, Gen Duarte e André Vallias. Esse último assina o projeto gráfico, inspirado nas publicações alternativas da década de 1970.

Caetano Veloso, em texto intitulado Brasil pandeiro, escreveu: ;Acabou chorare foi a consequência da passagem subversiva de João Gilberto pelas moradas da comunidade dos Novos Baianos. Mais um gesto complexo do criador da bossa nova. Brasil pandeiro é a marca forte do sentido desse encontro. Samba desprezado por Carmen Miranda, para quem foi composto por Assis Valente, quando ela voltou ao Brasil no começo dos anos 1940, ficou esquecido por décadas. Aparentemente, os Novos Baianos não ouviram a gravação dos Anjos do Inferno. Os cortes de compassos constantes na versão do grupo setentista estão na interpretação que João fez dele ao vivo...;.

Acabou chorare ; O Livro
De Ana Oliveira, com textos e artes visuais assinados por cantores, compositores, escritores e intelectuais, com 204 páginas. Lançamento da editora Iyá Omim. Preço sugerido: R$ 99.

; Três perguntas // Ana de Oliveira

O que a levou a criar um livro com textos e artes visuais que reinterpretam composições do álbum clássico Acabou chorare?
Sentia que podia fazer algo para expandir o conteúdo artístico desse disco tão inventivo e inspirador. Ao mesmo tempo, tinha o firme desejo de contribuir, ainda que modestamente, para que novas gerações venham a conhecer e se interessar por obras representativas da história de nossa música. Mas a ideia de reunir textos e trabalhos visuais inspirados em canções surgiu há muito tempo, quando comecei a pensar o Tropicália ou Panis et Circencis sobre o disco-manifesto tropicalista, que lançamos em 2010.

Ao reunir esses trabalhos, qual foi sua intenção?
Pensava em fazer um livro tanto quanto possível afinado com o espírito libertário dos Novos Baianos. Minha ideia era formar um painel expressivo diverso e até meio caótico, onde coubesse tudo: poema, crônica, prosa poética, análise comparativa, conto, pintura, desenho, grafite, colagem e arte digital. De certo modo, essa pluralidade reflete a experiência comunitária heterodoxa do grupo e o período contracultural em que o disco foi lançado. Os materiais usados na feitura do livro, o layout e a estrutura física tem um pouco o ar daqueles tempos.

Na sua avaliação, qual a importância do disco Acabou chorare para a música popular brasileira?
Acabou chorare é pura emanação de brasilidade visceral. Surgiu num período histórico marcado pelo autoritarismo político, pelo conservadorismo de muitos setores da sociedade e pela opressão. Nesse contexto absolutamente adverso, aparece uma obra musical coletiva que condensa rock, samba, chorinho e baião. E ainda de lambuja consiga retratar o que é bom, bonito e elevado do Brasil. Não deu outra: Acabou chorare se tornou memorável e se consolidou como um dos discos mais influentes da história da nossa música.

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