Diversão e Arte

Estudo aponta queda da qualidade das harmonias e das letras nacionais

Chico Buarque foi considerado o artista mais complexo do país

Adriana Izel
postado em 11/07/2017 07:07

Chico Buarque lidera o ranking de artistas mais complexos do país, com destaque principalmente em acordes

A música brasileira é bastante diversificada quando se fala em gêneros, indo da bossa nova ao rap e da MPB ao sertanejo. Nos últimos anos, críticos e até parte do público têm contestado a qualidade da música nacional. Ela teria empobrecido? Estudo publicado em maio deste ano na internet pelo analista Leonardo Sales, intitulado Análise da música brasileira, demonstra verdade nessa premissa. Leia o estudo aqui.

Sales fez uma análise de dados levando em consideração os acordes e as letras nas composições nacionais. O estudo foi dividido em quatro partes e a última analisou a evolução temporal da música brasileira, passando por todos os ritmos. "A ideia era tentar analisar tudo que fosse possível levando em consideração a complexidade das composições e variáveis relativas a letras e acordes", explica.

A conclusão do estudo foi que houve "um declínio da complexidade da música brasileira", levando em consideração os acordes (quantidade, tamanho e raridade). A primeira queda em relação aos acordes aparece nos anos 1960 e depois mais forte no fim dos anos 1980 e início dos 1990 e permanece constante nos dias de hoje.

Na opinião do analista, há três razões para o fato: a absorção da música brasileira pelo rock;n;roll, primeiramente com a Jovem Guarda na década de 1960, quando há a primeira queda em relação a acordes; a popularização do rap e do hip-hop, com harmonias mais simples nos anos 1980; e a guerra televisiva nos anos 1990, que teria influenciado na linha de produção de hits. "A produção de músicas de prateleira foi o golpe final na complexidade das composições nacionais", define.

Destaques nacionais

Djavan foi considerado o segundo artista brasileiro que faz mais variações de letras e acordes
Apesar de o estudo mostrar um empobrecimento da música nacional com o passar dos anos, a pesquisa se aprofundou também em situações mais positivas, sendo capaz de dizer quem são os artistas e estilos musicais mais complexos dentro da música brasileira. O ranking geral, que considera todos os índices relacionados a acordes e letras (raridade, quantidade, percentual e tamanho), é encabeçado por Chico Buarque, que ganhou o primeiro lugar no índice de raridade de acordes e ocupou o terceiro no quesito de quantidade de palavras, e o sétimo, quando a pesquisa compara quantidade de músicas com percentual de letras distintas.

O segundo artista com a obra mais complexa do Brasil é Djavan. Dono de diversos hits, como Oceano, o cantor se destacou em todas as dimensões de raridade nos acordes e quantidade de harmonias distintas. O ranking dos 10 maiores artistas brasileiros tem ainda Ivan Lins, João Bosco, Ed Motta, Caetano Veloso, Lenine, Vinicius de Moraes, Simone e Gilberto Gil. Destes, o estudo dá uma importância maior a nomes como Ed Motta e Lenine que tiveram bons índices em relação aos acordes de suas composições. Lenine é o artista que mais utiliza harmonias desconhecidas dos outros cantores. Já Ed Motta se destaca quando se trata em percentual de acordes únicos em seu repertório.

Quando se fala em ritmo, a MPB é o estilo musical mais completo em relação a harmonias, seguido da bossa nova, samba e pagode (que foram analisados como um gênero único) e música gospel. Em compensação, quando se fala de amplitude de vocabulário nas letras, o campeão é o rap ao lado da MPB e da música regional. "Alguns resultados me surpreenderam e outros eu já esperava. Por exemplo, um protagonismo da MPB eu já esperava. O ritmo tem uma música muito complexa. Assim como eu sabia que as letras do rap teriam um destaque, apesar de uma harmonia mais simples", comenta Leonardo Sales.

Quando se trata das letras das composições, o rap do grupo Facção Central está em primeiro lugar

Facção Central é o grupo brasileiro que tem mais variações de letra. A banda se tornou famosa no início dos anos 1990 por conta de suas composições ,que tinham um conteúdo considerado forte, falando das mazelas do país. Destacam-se ainda Apocalipse 16, Chico Buarque, Caetano Veloso e Maria Bethânia.

Similaridade dos ritmos


Leonardo Sales ainda resolveu comparar os ritmos nacionais. Os resultados causaram polêmica e, nesse caso, até surpresa ao analista. Levando em consideração a similaridade entre os acordes, ele chegou a cinco classificações, apelidadas de Feijoada clássica, Mistureba, Leve seu filho pro bom caminho, Ouça com seus pais e Pra ninguém reclamar.

O mais populoso dos gêneros foi a Mistureba, que engloba rock dos anos 1980, axé, forró atual e sertanejo atual. Assim o gênero criado por Leonardo Sales reúne Legião urbana, Capital Inicial, Engenheiros do Havaí, Asa de Águia, Babado Novo, Cheiro de Amor, Bruno & Marrone, Fernando & Sorocaba, Falamansa e Calcinha Preta. Polêmico? Leonardo explica: "A impensável junção entre Legião e Asa de Águia ocorre no grupo Mistureba, que, na prática, ao que parece, juntou acordários mais enxutos, como é próprio da Legião, dadas suas influências oriundas do rock inglês e do punk. A axé music, de 1990 para cá ,também investe em harmonias simples."

Outra surpresa está no grupo Pra ninguém reclamar, formado pela MPB atual, axé, pagode, reggae e funks melódicos. Nele, Leonardo Sales reuniu artistas como Lenine, Chico César, Cássia Eller, Claudinho e Buchecha, Perlla, Netinho, Banda Eva, Natiruts e Armandinho. As demais classificações são mais comuns, como Leve seu filho pro bom caminho, que une rock dos anos 1990 e punk (Raimundos, Charlie Brown Jr., Tianastácia, Mamonas Assassinas e Planet Hemp); Ouça com seus pais, composto por MPB, velha guarda e sambas (Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elizabeth Cardoso, Maysa, Herivetto Martins, Baden Powell, Toquinho, Cartola, Arlindo Cruz e Exaltasamba); e Feijoada clássica, com brega, sertanejos antigos e Jovem Guarda (Erasmo Carlos, Chitãozinho & Xororó e Fagner).

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