Diversão e Arte

Obra póstuma de Suassuna será lançada em outubro

Editora Nova Fronteira lançará em 9/10 O romance de 'Dom Pantero no palco dos pecadores'

Agência Estado
postado em 23/08/2017 09:59
Ariano Suassuna criou em seu último livro um personagem de escritor frustrado que busca conquistar a fama por meio da obra dos irmãos
A escrita de Ariano Suassuna continuará provocando prazer ainda por muito tempo. Não apenas pela perenidade de suas obras-primas como Auto da compadecida e O romance d;A Pedra do Reino, que acaba de ganhar uma reedição, mas também pelos textos inéditos que estão por vir ; é esperado para 9 de outubro o lançamento da última obra escrita pelo autor paraibano, O romance de Dom Pantero no palco dos pecadores, sob a chancela da Nova Fronteira, atual editora de seus livros, que deverão ser relançados.

Trata-se da obra sobre a qual Suassuna se debruçou nos últimos anos de vida, reescrevendo constantemente e cuidando também das ilustrações. Inicialmente previsto para quatro volumes, o romance terminou com dois (O jumento sedutor e O palhaço tetrafônico) e oferece uma reavaliação muito particular da própria obra a partir da narrativa de Dom Pantero, cujo nome verdadeiro é Antero Savreda.

Escritor frustrado, Pantero (ou Savreda) tem a ambição de conquistar a glória literária a partir da obra bem-sucedida de seus irmãos, muito mais conhecidos: o romancista Auro Shapino, o poeta Altinho Soares e o dramaturgo Adriel Soares.

Note-se que todos os nomes dos irmãos começam com as letras A e S, ou seja, despontam como heterônimos mal disfarçados de Ariano Suassuna. Pantero ministra também o que chama de ;;aulas espetaculosas;;, algo semelhante às deliciosas aulas-espetáculo que Ariano concedeu por todo o país enquanto teve forças, alcançando um enorme sucesso.

DIGRESSÕES Enquanto escrevia, Suassuna acreditava que os leitores podiam não gostar da nova obra. ;;É por causa da minha escrita, cheia de rudeza, digressões, venho por aqui, vou por ali;;, disse ele, em 2011. ;;Houve um tempo em que as pessoas reclamavam porque eu não escrevia como Graciliano Ramos ou Guimarães Rosa. Tenho minha personalidade, sou incapaz da concisão. Preciso de horizontes mais amplos.;;

Isso também justificava sua predileção pelo teatro, gênero no qual Ariano deixou várias peças inéditas em seus arquivos e que também serão lançadas futuramente pela Nova Fronteira. São, ao menos, cinco textos dramatúrgicos, dos quais o mais antigo data de 1950. Trata-se de O auto de João de Cruz, que adapta tanto o clássico Fausto, de Goethe, como o cordel A história do estudante que vendeu a alma ao diabo.

A peça promove uma ligação com o Auto da Compadecida, especialmente na cena em que João, ainda vivíssimo, vai ao local onde são julgados os mortos. O texto recebeu apenas uma montagem, amadora, em 1958, no Recife.

O material ; que vem sendo organizado pelo filho do escritor, o artista plástico Manuel Dantas Suassuna, pelo pesquisador e grande amigo de Ariano Carlos Newton Jr., e pelo designer Ricardo Gouveia de Melo ; traz ainda outras peças, como O arco desolado, 1952, inspirada em A vida é sonho, de Calderón de la Barca, e que, fato raro, não se passa no sertão.

O acervo inclui também obras recentes como As conchambranças de Quaderna, de 1987, e A história de amor de Romeu e Julieta, de 1996. ;;Desde muito jovem, não gosto de peças intimistas e psicológicas ; sempre preferi algo mais próximo das artes do espetáculo, pois dou preferência à face mais circense do teatro;;, disse Ariano, em 2011.

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