Diversão e Arte

Usando o celular, fotógrafa brasileira clicou 12 capas da revista Time

Luísa Dorr fez imagens para a revista com mulheres que marcaram a história

Rebeca Oliveira
postado em 25/09/2017 07:00
Imagens do projeto O véu das noivas, a próxima empreitada de Luísa Dorr

Um celular e um punhado de coragem. Esses foram os dois recursos usados pela fotógrafa brasileira Luísa Dorr para registrar as 12 capas da edição histórica da revista Time usando apenas um telefone celular. O projeto multimídia virou site especial e livro. Foi batizado de Firsts e é audacioso em diferentes camadas. Pela primeira vez, uma das maiores publicações americanas teve essa quantidade de opções de primeira página. Algumas, como Aretha Franklin (a primeira mulher a entrar no Rock and Roll Hall of Fame), só deram a ela poucos minutos ; sem iluminação especial ou os recursos comuns em ensaios de tamanha magnitude, como uma produção prévia.

Estava dentro do conceito descortinar essas figuras impactantes de uma maneira mais real, longe de idealizações. Para as imagens, foram escolhidas mulheres pioneiras em diferentes segmentos e que estão mudando o mundo. Sem planejar, a fotógrafa gaúcha de Lageado, aos 28 anos, acabou virando uma delas. ;Elas deveriam esperar um fotógrafo americano com enormes equipamentos e muitas luzes. São pessoas acostumadas com muita produção. E eu vinha com algo simples, sólido. É por isso que elas parecem pessoas normais. Quando se olha uma foto da Oprah Winfrey, sempre a vemos super produzida. É difícil querer se inspirar em alguém que parece intocada, uma deusa;, comenta. ;É muito difícil, por exemplo, ver um retrato da Hillary Clinton ao ar livre, em um contexto mais normal. No fundo, essas pessoas são como a gente. No momento em que estava fotografando, eu tinha todo respeito, fazia meu trabalho, mas tentava enxergar somente um ser humano. Era uma troca;, emenda.

Jovem, latina e com pouca experiência, Luísa se impressionou com o convite da influente revista americana

Além das 12 personalidades que estampam a capa da publicação, Firsts conta com outros 34 nomes reconhecidos em diferentes categorias. A cantora Selena Gomez, a roteirista Shonda Rhimes e a tenista Serena Willians foram fotografadas por Luísa e seu iPhone (os modelos 5S, 6, 6 S e 7 Plus). É importante ressaltar que não há nenhum patrocínio da empresa fundada por Steve Jobs, embora, coincidentemente, o aparelho que mudou a história da tecnologia esteja completando 10 anos de criação. Depois dos ensaios, a jovem formada pela Universidade Luterana do Brasil foi acusada de ;prostituir; a fotografia com um trabalho teoricamente menos profissional. ;Ferramentas são só um meio que ajudam no processo, mas não um fim. O que faz a diferença é a pessoa que está segurando esse meio. O que importa, de verdade, é o resultado final e não a ferramenta que a pessoa escolheu. Isso é absolutismo;, rebate.
Gigante da política, Hillary Clinton e outras 35 mulheres foram fotografadas pela brasileira com um telefone celular

Luísa Dorr foi descoberta pela publicação americana por meio do Instagram. Foi nessa rede social que Kira Pollack, a toda-poderosa diretora de fotografia da TIME, esbarrou com o trabalho da brasileira. A estética do ;feed; (pontuada por retratos majoritariamente femininos, incluindo os do novo projeto O véu das noivas) agradou e, de certa forma, deu corpo à ideia de fazer as fotos sem câmeras profissionais. Uma ruptura que, para Luísa, indica novos ventos na fotografia, seja no âmbito informativo, seja na esfera artística. ;Eu não sou contra pessoas que publicam fotos feitas com a câmera fotográfica no Instagram, mas no meu só publico as que uso o telefone. Foi algo que conversei com ela. Se ela quisesse o resultado que estava vendo no meu ;Insta;, não seria possível fazer com a câmera. A pessoa reage diferente, eu ajo diferente;, complementa.

Duas perguntas / Luíza Dorr

Houve reações contrárias quando você chegava ao ensaio portando apenas um celular?
No começo foi complicado. As pessoas desacreditam que com o mesmo objeto que elas carregam fosse possível fazer um trabalho para a TIME. Quando eu já tinha alguns retratos e materiais para mostrar foi mais fácil. A insegurança era um pouco essa. O mais difícil não era lidar com quem eu fotografaria, mas quanto tempo eu teria com aquela pessoa. Eram várias limitações que complicavam um pouco o trabalho. Tive que usar o que tinha e com certeza isso me tornou uma pessoa criativa.

Por que Firsts fez tanto sucesso?
Finalmente estamos surfando na onda das mulheres para ter um mundo mais igual, menos machista. Espero que continuemos lutando por esses direitos. Eu já sabia que o projeto seria divulgado, mas não imaginava tanto. É algo inspirador para fotógrafas mulheres e de todas as idades. Foi uma oportunidade conhecer todos esses ícones vivos. É bacana a Time ter convidado uma fotógrafa latina, sem experiência e jovem para fazer algo desse tamanho. Infelizmente, no Brasil, os profissionais precisam ser divulgados intencionalmente para confiarem nessa pessoa.

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