Diversão e Arte

Fernando Carpaneda prepara exposição de esculturas eróticas em Brasília

Em Homem objeto, exposição programada para novembro na XXX Arte Contemporânea, a única galeria brasileira que representa o artista

Nahima Maciel
postado em 28/09/2017 07:30
Obra de Fernando Carpaneda

O papel da arte, para Fernando Carpaneda, é promover a reflexão e a discussão sobre temas essenciais à formação de uma sociedade. E nesse rol entram, especialmente, as questões de gênero e aquelas ligadas às temáticas LGBT. Carpaneda também acredita em liberdade de expressão e, desde a década de 1990, se dedica a produzir pinturas, desenhos e esculturas que falam do universo que ele conhece bem, um mundo outrora underground e que hoje emerge como representante de uma minoria que tem direito à voz e representação. Em Homem objeto, exposição programada para novembro na XXX Arte Contemporânea, a única galeria brasileira que representa o artista.

Radicado em Nova York desde 1995, Carpaneda está, como diz o curador Rogério Carvalho, mais reflexivo. Se antes trazia personagem do mundo LGBT em representações eróticas, às quais incorporava elementos como cabelos e pedaços de roupas dos modelos, agora o artista quer falar da objetificação do corpo masculino. Sobre pedestais em formato de bifes de carne bovina, ele planta cenas de sexo entre homens.

Há sangue, violência e nudez nas esculturas, combinação que Carpaneda acredita ser necessária para falar do tema. ;Essa nova série representa a exploração do corpo masculino como objeto de consumo, como um pedaço de carne no supermercado. Aborda a expressão mais básica da sexualidade humana, o desejo de comer, de possuir;, explica. ;Acredito que o corpo masculino está sendo explorado, vendido e comercializado, agora, tanto quanto o corpo feminino. As pessoas perderam o interesse sobre algo mais sutil e permanente e estão mais interessadas em sexo descartável. Vejo boates e bares como um grande supermercado.;

As 20 esculturas de Homem objeto foram criadas para uma sala especialmente dedicada ao artista no Erotic Art Festival. Realizado em Seattle todos os anos e com participação de artistas contemporâneos do mundo inteiro, o festival premiou Carpaneda na edição de 2016 e, este ano, o convidou para uma sala exclusiva. Segundo o artista, há espaço na sociedade americana para esse tipo de manifestação, porque as leis são rígidas quando se trata de proteger os artistas e a liberdade de expressão.

Carpaneda não ficou surpreso com o fechamento da exposição Queer Museu, no Santander de Porto Alegre, após uma manifestação do Movimento Brasil Livre (MBL), que viu pornografia na reunião de obras que tratam do universo LGBT. ;Eu acho que intolerância e conservadorismo sempre existiram, mas com o avanço da internet em países como o Brasil, as pessoas sem acesso à cultura e mais conservadoras, que antes conheciam o mundo apenas pela televisão, passaram a ter contato com questões que sempre foram parte de grupos específicos;, lamenta. Ele acredita que seus trabalhos são direcionados a um público com consciência sobre questões sociais e culturais, por isso não fica surpreso com episódios como o fechamento da exposição em Porto Alegre.

Ameaças

Curador e proprietário da XXX Arte Contemporânea, Rogério Carvalho costuma fazer uma exposição por ano das obras de Fernando Carpaneda e nunca sofreu ameaças de fechar as portas por conta do conteúdo das produções. Ele diz que não está se preparando para possíveis censuras, porque não acredita que as pessoas que visitam a galeria sejam ligadas aos movimentos conservadores. ;A situação do Santander é muito pontual. O povo não está preparado para essa abordagem da sexualidade de forma diferente;, diz.

Há duas semanas, os deputados Marco Feliciano (PSC-SP) e Takayama (PSC-PR) estiveram no Museu da República após uma denúncia de que haveria pornografia na exposição Não matarás. O curador e diretor do museu, Wagner Barja, selecionou 45 obras do acervo da instituição que dialogam com o tema.

Os deputados tiraram fotos e filmaram, mas concluíram que não havia nada de chocante nas obras. Barja ficou preocupado. ;Esses caras estão de olho;, lamentou, ao frisar que esse tipo de visita fiscalizatória atenta contra a liberdade de expressão, que é marca da Constituição do Brasil.


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