Diversão e Arte

Vocalista d'O Terno lança Recomeçar e fala ao Correio sobre as composições

O primeiro disco solo chega com canções reflexivas e pessoais

Alexandre de Paula
postado em 04/10/2017 07:30

Tim Bernardes

Tim Bernardes é um dos principais compositores de sua geração. Aos 26 anos, o vocalista e guitarrista da banda O Terno conquistou respeito de muita gente com canções inteligentes e despojadas ao mesmo tempo. Depois do reconhecimento com o grupo, ele lança agora um disco solo, Recomeçar.


Sozinho, no álbum, Tim faz um mergulho em composições reflexivas e poéticas, em um disco intenso e doloroso. Ao Correio, ele fala sobre as composições, a exposição do primeiro álbum solo e as razões para gravar Recomeçar.

Entrevista // Tim Bernardes

O que te fez gravar um disco sem O Terno? Por que essas canções tinham que ser apresentadas só por você?
Essas composições eu fui fazendo ao longo de alguns anos. Sempre que eu fazia alguma desse tipo, eu sentia que eram canções mais solitárias, pessoais e que tinham alguma coisa que eram uma onda diferente, que elas mereciam estar juntas e, naturalmente, elas não pareciam caber n;O Terno. Às vezes, tinham algumas que poderiam estar tanto num projeto quanto no outro, mas muitas delas eu já sentia que eram uma coisa mais solitária.

E n;O Terno a gente tem uma coisa de gostar de variar, de tocar uma música calma, depois uma música mais agitada, aí vir uma mais engraçada e outra mais reflexiva. Quando eu fui fazer esse disco, eu justamente quis juntar todas as músicas que eram de uma mesma família, para elas entrarem na mesma onda, virar quase que uma música de 40 minutos em que os arranjos costuram e misturam essas músicas, a melodia vai numa música, volta na outra, para virar tipo um filme.

E se mostrar assim foi um desafio? É uma exposição maior?
Sim, é uma exposição maior. Vai ser uma aventura. Essa parte da exposição, acho que vou descobrindo com o tempo. É bem gostoso também tocar sozinho, porque tem muito espaço para o silêncio. A minha vontade era fazer um disco em que eu pudesse deixar tudo bem exposto, bem solitário, mas de vez em quando entrasse bastante orquestra e ficar grande e aí voltasse a ficar pequenininho.

E você já se apresentou só, nesse formato, nos Estados Unidos também, né?
Sim, sim. O show vai ter as canções cruas, como eu compus. Só eu, um piano, uma guitarra, que é um formato que eu gosto muito de ver show dos compositores que admiro. Eram duas vontades antigas, a de fazer esse show sozinho e a de fazer esse disco orquestrado. E é bem interessante explorar esse formato, tem muita coisa para pegar de manhas, de tocar sozinho, é bem legal.

O disco me parece ter uma questão de formação também no fundo, de um cara que está buscando ainda entender as coisas, achar, de alguma forma, o seu lugar; É isso mesmo?
Pra mim, é muito isso. São os sentimentos dessa busca, das perdas e das estruturas que acabaram e das estruturas novas e meio que a mente e o sentimento no meio disso tudo...

E é um disco sobre o fim, mas também sobre o que vem depois dele... Como foi encontrar o tom entre esses dois momentos?
As duas coisas passam muito pela cabeça. Eu percebi, depois ouvindo, que todas as composições de uma safra tinham isso. E um pouco de passar a mensagem que eu queria estava também na hora de fazer uma ordem para as canções nesse disco. Ele começa mais leve nessa coisa da busca, depois ele entra mais pesado nas dores, depois dá uma refletida sobre vida, até chegar no recomeçar. Como se o recomeçar fosse quando acaba o disco mesmo.

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As canções são de momentos diferentes, né? Não, por exemplo, já estava no YouTube há um tempão. Como foi escolher o que entrava nesse primeiro registro? Ainda mais pra que soasse tão coeso;
Acho que justamente porque eu reparava ;ah, essa tem a ver com aquela que eu compus;. Então, eu ia vendo que algumas composições saíam de uma mesma família, que elas estavam falando de um mesmo assunto, independentemente de uma experiência mudar numa fase da vida ou outra, acho que tem uma coisa meio cíclica. Essas canções todas se encaixam no mesmo tempo.

E é um disco mais reflexivo, mais melancólico, como foi tocar nisso, expor essas questões?
Eu acho que, no fim das contas, é uma coisa que eu gosto de fazer no sentido de que, quando eu estou falando de uma coisa muito pessoal (mas coisas simples e que eu sei do que estou falando, como se desse um zoom muito grande em mim), acaba que muita gente também pode se identificar com isso. Porque são questões humanas de qualquer pessoa, não são só de quem ouve indie ou de quem é de São Paulo, são questões de passar por experiências ou de ter medos, angústias, que qualquer pessoa poderia se identificar.


Tanto faz é um retrato bem certeiro do nosso momento; E você também fez isso em canções d;O Terno. É proposital ou é algo que acontece naturalmente?
Sou eu falando sobre o que eu estou sentindo neste contexto. Às vezes, a gente pensa que tudo já foi dito, mas cada coisa foi dita no seu tempo. A canção de alegria de 1960 tem a ver com as coisas que estavam acontecendo naquele momento, assim como a canção que fala com a geração de 1980; O contexto muda, as coisas mudam e estamos vivendo uma época de muita velocidade, muita superficialidade, de aparências e isso deixa latente uma parte profunda do sentimento que, quando você pode falar, é um alívio de ouvir também.

E você tem uma simplicidade muito grande para tratar temas que são complexos. Como é a busca para encontrar essa linguagem mais direta?
Na minha cabeça, o lance é comunicação. Não no sentido de ser didático. Mas penso: ;Se eu tenho um sentimento qual é a maneira mais clara de colocá-lo?; Uma vez que o sentimento é uma coisa super concreta; Então, você busca objetividade. E a música ajuda muito, o clima, o arranjo, às vezes você consegue com palavras simples falar coisas complexas e dar o peso que a coisa precisa na parte musical.

E como foi o processo de construir esse disco no estúdio? Pensar os arranjos?
No estúdio, foi muito legal. É uma das partes que eu mais gosto. É onde eu posso explorar as coisas que estão na minha cabeça e aprender e experimentar. Eu fiquei quase três meses no estúdio Canoa. Dois meses sozinho e mais um mês gravando cordas e tudo mais, todos arranjos que eu tinha pensado. Produzi tudo e pensei tudo que eu queria junto com o Gui Jesus, que foi o engenheiro. Aí, levei tudo para a minha casa e fiquei um tempo gravando detalhezinhos e depois mais um mês mixando sozinho. Então, é muito legal fazer essa parte, porque realmente eu tinha vontade de ser autoral em cada mínimo detalhe, não só na canção, não só no arranjo, mas também na gravação do fonograma, para saber os timbres que fariam sentido para segurar o que eu estava dizendo, que timbres, que reverbs eu usaria.

A maneira como você canta também compõe a narrativa, de que maneira acontece essa construção para você?
Isso foi uma coisa legal de pôr em prática, de saber o jeito que eu queria cantar e interpretar, que já estava comigo, mas eu não tinha um terreno para explorar desse jeito. Foi uma coisa muito de intimidade, de poder cantar bem baixinho, mas com o microfone alto.

Você, pra muita gente, é um dos grandes compositores da nova geração, já começa a ser uma referência...Como é ser visto assim? Tem algum peso?
Eu não vejo como um peso porque eu estou falando de mim e as pessoas estão se identificando. Então, eu não penso ;Ah, eu tenho que falar para essa geração que está me olhando assim;. Eu vou continuar falando do que eu estou vivendo, porque agora eu tenho 26, daqui a pouco eu vou estar com 30 e depois eu posso ter filho; Se eu estiver falando o que eu sinto, tem mais uma leva de gente que está crescendo comigo. Isso é o legal também da discografia d;O Terno. O pessoal tinha 17 anos quando eu tinha 17 e depois foram acompanhando. Então, eu sou um exemplo de um jovem de 26 anos em 2017 e estou registrando da minha forma o que eu estou passando.

Recomeçar
Tim Bernardes. Selo Risco. 13 faixas. R$ 25

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