Diversão e Arte

Aos 82 anos, Mauricio de Sousa continua cheio de projetos

O quadrinista lançou livro recentemente e trabalha em um live-action da Turma da Mônica

Rebeca Oliveira
postado em 08/10/2017 07:00
Mauricio de Sousa

Prestes a completar 82 anos (a serem celebrados no próximo dia 27), Mauricio de Sousa podia se dar por satisfeito. O mais famoso quadrinista brasileiro começou a carreira cedo, aos 19 anos, como redator no jornal Folha da Manhã, veículo no qual também foi repórter policial. A primeira tira, com os icônicos Cebolinha e Bidu, foi publicada em 1959. De lá até aqui, o homem de fala mansa revolucionou a arte no país, educou milhões de crianças com a Turma da Mônica e tornou-se o responsável por um império da HQ. É difícil acompanhar o ritmo do paulista, que não aceita comodismos mesmo com posição consolidada.

No mês passado, ele lançou Vamos pensar um pouco? Lições ilustradas com a Turma da Mônica, livro com o filósofo Mario Sergio Cortella. Pouco depois, anunciou o elenco do longa Turma da Mônica ; Laços, uma live action prevista para estrear nas férias (em junho ou julho) do ano que vem, com direção de Daniel Rezende, indicado a tentar uma vaga no Oscar pelo Brasil com o filme Bingo: O rei das manhãs.

Enquanto isso, conversava com japoneses e coreanos sobre a chegada de novas publicações da famosa turminha em solo internacional, terreno em que é amplamente reconhecido. Cerca de 150 empresas tem licenciamento para produzir mais de três mil itens a partir de clássicos criados por ele. Esses produtos chegam a mais de 30 países ; vai das tirinhas impressas a apresentações teatrais musicais.

Renovação

Ao longo da carreira, Mauricio de Sousa inventou mais de 500 personagens. A mente fervilha e explica a facilidade de se renovar diariamente, mesmo com a concorrência desleal do universo digital. ;Tenho uma equipe boa e capaz que me ajudar nas diversas variantes da produção. Hoje, por exemplo, fechamos contrato com a TV Cultura. Há muitos anos queremos fazer uma parceria pelo histórico deles. É uma rede de televisão educativa, que fez história. Ontem, estava falando com um pessoal do Japão sobre lançamentos que farei quando visitar o país em breve. Ao mesmo tempo, estava cuidando da publicação de quadrinhos na Coreia do Sul;, conta o quadrinista.

"Em 10 anos, quero publicar, em número, a mesma quantidade de livros que as histórias em gibis já lançadas. O livro é o momento nobre do papel pintado. Vamos brigar para botar mais livros na rua, nas escolas, nas lojas e, principalmente, na frente da criançada.;
Mauricio de Sousa
A variedade de assuntos o acompanha diariamente, na vida e no trabalho. ;O que preciso sustentar é a administração disso tudo. Não sou tão necessário em algumas áreas como era antigamente. Acompanho, claro, para não perdermos a filosofia e o foco. Falta tempo para me dedicar aos desenhos e à atividade de quadrinista, mas não me afasto dessa atividade. No entanto, não posso me queixar. Farei 82 anos e estou com a gaveta cheia de papeis e de projetos;, completa, e logo emenda um exemplo: ;Em 10 anos, quero publicar, em número, a mesma quantidade de livros que as histórias em gibis já lançadas. O livro é o momento nobre do papel pintado. Vamos brigar para botar mais livros na rua, nas escolas, nas lojas e, principalmente, na frente da criançada;, explica.

Filosofia para a família

O primeiro passo para o audacioso desafio está dado com Vamos pensar um pouco? Lições ilustradas com a Turma da Mônica. O convite da editora Cortez veio em momento oportuno. ;Cortella e eu viramos grandes amigos, imediatamente. Felizmente, o livro está tendo uma boa performance até como produto de venda nas livrarias. Devemos lançar outra edição. Muitos escritos do filósofo ficaram de fora. Estou tentando convencê-lo a continuar a série. É gostoso de ler;, elogia Mauricio.

Por mais que seja voltado ao público jovem (sobretudo crianças e adolescentes), Vamos pensar um pouco? é inteligível para qualquer idade. Serve aos pequenos, mas abastece os pais de ensinamentos. ;É um livro excelente para a família;, sintetiza. Em poucas páginas, a obra classificada por Mauricio de Sousa como um ;pequeno oásis; discute questões como empatia e respeito com simplicidade na linguagem. ;Está na hora de lermos esse tipo de publicação. Abre-se o livro sem saber em que página vai cair, e pode-se ler dessa forma. Haverá uma provocação positiva para a inteligência e o entendimento;, explica.

Três perguntas / Mauricio de Sousa

Para Cortella, a falta de tédio faz com que muitos jovens não tenham reflexões mais profundas nos dias de hoje. Concorda com ele?
Totalmente. Realmente, estamos precisando nos aprofundar mais em certos conceitos, pensamentos e conteúdos. É o que o livro tem, de fato. Necessitamos sempre desse tipo de reflexão.

Com a Turma da Mônica, as narrativas são muitos diversas. Vão de musicais a publicações on-line. É uma maneira de não perder espaço no mercado?
Logicamente, somos uma empresa que precisa vender um produto. Mas vender é uma palavra meio feia, prefiro usar ;espargir nossas ideias;. Temos que espalhar o que produzimos de forma positiva para crianças, jovens e adultos. Com isso, é preciso buscar o público onde ele está. Ele tem várias idades, em várias camadas sociais. De crianças a idosos, nossa mensagem é entendida. São alegres, positivas, divertidas, e com alguns momentos de sugestão de comportamento com a criançada. Com isso, terminamos o trabalho aqui no estúdio, vamos para casa, colocamos a cabeça no travesseiro tranquilamente, com a consciência calma de que fizemos algo de bom para o próximo, principalmente para os jovens.

Se a Turma da Mônica fosse criada hoje, como se desenvolveria?
Ela teria evoluído junto com o público e com a sociedade. Estaria falando a língua do dia e da hora, com os mesmos objetivos que sempre acompanharam nosso material: entreter e levar conhecimento.

Vamos pensar um pouco? Lições ilustradas com a Turma da Mônica
Vamos pensar um pouco? Lições ilustradas com a Turma da Mônica
De Mario Sergio Cortella e Mauricio de Sousa. Cortez, 80 páginas. Preço: R$ 29,90

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