Diversão e Arte

Brasília Popular Orquestra comemora 35 anos com apresentação única

A Brasília Popular Orquestra fará apresentação única, hoje, no auditório da Escola de Música de Brasília

Irlam Rocha Lima
postado em 10/10/2017 06:49
A estreia da Brasília Popular Orquestra foi em 28 de outubro de 1982, no auditório da Escola de Música: trajetória de sucesso
Músico que sempre foi ligado a orquestras, Manoel Carvalho, pernambucano de Palmares, ao chegar a Brasília vindo de Recife, de 1968 a 1978 fez parte do naipe de sopros da banda da Base Aérea, como clarinetista. Foi lá que, pela primeira vez, tomou conhecimento de arranjos utilizados por lendárias big bands norte-americanas.
Depois de concluir o bacharelato em clarinete e licenciatura pela UnB, conseguiu aprovação para integrar a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional e o quadro docente da Escola de Música de Brasília (EMB). Nesta instituição, em 1982, tornou realidade o sonho de criar uma big band, ao fundar a Brasília Popular Orquestra (Brapo), que neste mês celebra 35 anos de existência. A comemoração será amanhã, às 20h30, no auditório da Escola de Música, com entrada franca.

[SAIBAMAIS];Quando decidi criar a Brapo, tinha como referência grandes orquestras dos Estados Unidos, como as lideradas por Duke Ellington, Tommy Dorsey e Glen Miller; além da Tabajara, do maestro Severino Araújo, e as dos maestros Carioca e Cipó. As brasileiras se tornaram famosas, ao atuar em programas de rádio e tocar em gafieiras, no Rio de Janeiro, lembra Manoel Carvalho.

A estreia da Brasília Popular Orquestra foi em 28 de outubro de 1982, no auditório da Escola de Música. Arranjos para clássicos do gênero, como Moonlight serenade (Glen Miller) e Espinha de bacalhau (Severino Araújo) foram executados pelo grupo de 18 músicos, sob a batuta do maestro pernambucano. ;O concerto foi um sucesso e a Brapo foi aplaudida de pé pela plateia que superlotou o auditório;, recorda-se.

Como toda big band, a brasiliense, originalmente, contava na base com piano, bateria, contrabaixo, guitarra e percussão, e o naipe de sopros, incluindo cinco saxofones, quatro trompetes e quatro trombones. ;Essa é a formação básica de uma orquestra com essa característica. Há situações em que incorporamos um vocal ao grupo;, explica Manoel Carvalho.

Logo após o concerto de estreia, a Brapo fez uma concorrida apresentação na Sala Martins Pena. A partir dali, começaram a aparecer convites para diferentes eventos. ;Na inauguração do ParkShopping, em 8 de novembro de 1983, tocamos para 5 mil pessoas. À época, estávamos cumprindo temporada de um ano, às sextas-feiras, na praça de alimentação do Conjunto Nacional; e, aos sábados, no bar e restaurante Moinho, na 114 Sul;, recorda-se.

Uma outra lembrança que se mantém viva na memória do maestro é a da participação no projeto Venha dançar, ocorrida no Gran Circo Lar, ao lado da estação rodoviária do Plano Piloto. ;Eram bailes com característica de gafieira, animados por orquestras de fora, como a de Severino Araújo. A Brapo era a única brasiliense a tomar parte. O público prestigiava bastante e a pista de dança ficava lotada a noite toda. Infelizmente, hoje em dia, não se vê mais algo assim na cidade.;

Imagens

Único registro audiovisual da orquestra disponível é um DVD gravado no programa Talentos, da TV Câmara, de 2003, com 13 músicas, que é utilizado para divulgação do trabalho do conjunto. ;Houve tempo em que animávamos bailes de formatura, em clubes sociais. Mas, atualmente, com a crise que chegou também a esse setor, isso ficou cada vez mais raro, Com alguma regularidade, levamos nosso som às escolas da rede pública de ensino, numa parceria com a Secretaria de Educação. Gostaríamos de ter outros espaços para tocar;, ressalta.

Manoel Carvalho se anima ao falar de convite recebido da EBC. ;Vamos gravar um concerto que será exibido em programas culturais do canal NBR. É uma ótima oportunidade para um público maior tomar conhecimento do talento dos músicos que integram a orquestra. Nosso trabalho se tornou referência dentro da Escola de Música, onde foram criados outras duas big band, sendo uma para iniciantes e outra para turma mais avançada musicalmente. Desde 1986, big band é uma das disciplinas do Curso Internacional de Verão da escola.;

Lembranças

Os contrabaixistas Jorge Helder e Oswaldo Amorim, o guitarrista Paulo André Tavares e a pianista Elenice Maranesi, todos com brilhante trajetória musical em Brasília e fora dos limites do DF, em diferentes momentos tiveram passagem pela Brapo. Os únicos remanescentes da formação original são Fernando Machado (sax) e Paulinho do Trombone.

Para manter a qualidade do trabalho, a Brapo ensaia todas as quartas-feiras no Centro de Ensino Caseb, na 910 Sul. ;O apoio da direção do Caseb é importantíssimo para nós. Os encontros servem também para conversarmos sobre novos projetos. Um deles, que vamos dar entrada no FAC-DF, tem por objetivo a circulação da orquestra por cidades do Distrito Federal. Um outro é voltado para a manutenção do repertório e recuperação de partituras, pois com a utilização, há um desgaste desse material;, justifica.

No concerto comemorativo dos 35 anos, a Brapo vai passear por repertório bem variado, que vai de Nobody;s perfect (Sammy Nestico) a Aquarela do Brasil (Ary Barroso).



Atual formação

Trompetes

Argemiro de Oliveira, Ricardo Araujo, Renato Araújo e Jonas Cirqueira

Saxofone

Edu Brandizzi, Fernando Machado, Esdras Veloso

Cozinha

Marcos Meireles (piano), Flavio Vieira (guitarra), Julio Sombra (contrabaixo), Stive Marta (bateria) e José Ronaldo (percussão).


Brasília Popular Orquestra

Concerto comemorativo dos 35 anos do grupo, amanhã, às 20h30, no auditório da Escola de Música de Brasília (Quadra 602, L2 Sul). Entrada franca. ClC01-DEA-1010assificação indicativa livre.



Depoimentos


;Na Brasília Popular Orquestra, criada no âmbito da Escola de Música, obtive muitos ensinamentos que contribuíram para o meu trabalho como contrabaixista. Tudo o que aprendi, sob a batuta do maestro Manoel Carvalho, tenho utilizado nas orquestras Atlântico e Ouro Negro, das quais faço parte aqui no Rio de Janeiro. Na semana passada toquei numa outra big band, que acompanhou Marcos Valle, em show no Blue Note carioca;.
Jorge Helder, contrabaixista

;Fui da cozinha da formação original da Brasília Popular Orquestra, ao lado de Tony Botelho (contrabaixo), Zequinha Galovão (bateria) e Elenice Maranesi (piano). O Manoel Tavares sempre foi um maestro atento e de grande bagagem musical, familiarizado com os arranjos produzidos pelas famosas big bands norte-americanas. Pela Brapo passaram grandes guitarristas, como Lula Galvão e Nelson Faria, hoje com trabalho reconhecido no Brasil e no exterior;.
Paulo André Tavares, guitarrista

;Para os músicos da minha geração foi algo muito interessante a criação da Brasília Popular Orquestra. Por meio do maestro Manoel Carvalho, um músico extraordinário, tomamos conhecimento dos arranjos das lendárias big bands norte-americanas. Considero o período que tomei parte da Brapo, um dos mais importantes em minha carreira. Desejo que a Brapp continue trilhando trajetória de sucesso;.
Elenice Maranesi, pianista

;Por oito anos fiz parte da Brasília Popular Orquestra que, na minha visão, sempre foi uma oficina para nós, instrumentistas. Tive contato com arranjos para big bands com assinatura de mestres do gênero. O que aprendi ali levei para os Estados Unidos, onde fui em busca de aperfeiçoamento no segmento do jazz. Lá pude tocar com algumas orquestras e ter o trabalho reconhecido e elogiado;.
Oswaldo Amorim, contrabaixista


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