Diversão e Arte

Guilherme Arantes lança 27º disco da carreira, Flores & cores

O cantor e compositor volta às baladas, estilo que o consagrou nos anos 1970 e 1980

Irlam Rocha Lima
postado em 12/11/2017 07:30
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Entre as décadas de 1970 e 1980, Guilherme Arantes emplacou incontáveis hits. São baladas que estão guardadas na memória afetiva de muita gente, como Meu mundo e nada mais, Amanhã, Brincar de viver e Um dia, um adeus. Em sua maioria, foram compostas ainda na adolescência, com harmonias ambiciosas e clara influência do que ele ouvia na época: Cat Stevens, Emerson Lake & Palmer e Taiguara.

Ao gravar Flores & cores, seu 27; álbum, o cantor e compositor paulistano foi ao fundo do baú e resgatou ideias e linhas melódicas, que considera ;anti-diluvianas;. A garimpagem contribuiu para que Guilherme criasse algumas músicas com essa sonoridade, incluídas entre as 12 faixas do repertório, como A árvore da inocência, Semente da maré, Meu jardim do Éden e A simplicidade é ser feliz.

Com esse projeto, o artista pop que, sem nenhum pudor, deixa aflorar o velho e bom romantismo propõe o recomeço da trajetória artística. Isso, depois de, em 2016, lançar uma caixa comemorativa dos 40 de carreira, que traz 22 CDs e um documentário. Aliás, reunir todo esse material o levou revisitar muita coisa que ficou para trás e trazer de lá material para o Flores & cores

Desde 2000, Guilherme está radicado em Jacuípe, no litoral da Bahia, onde desenvolve projetos sociais com a ONG Planeta Água ; nome de um dos seus maiores sucessos ; e mantém a produtora Coaxo do Sapo, além de uma pousada e um estúdio, onde foi gravado o CD Condição humana, de 2013, que considera mais roqueiro.


Em 2016 saiu o box com discos e documentário referentes aos seus 40 anos de carreira. Qual a avaliação sobre a sua trajetória na música popular brasileira?
Uma trajetória bem peculiar, bem pessoal, porque consegui imprimir unidade e personalidade com arranjos, introduções, linhas de baixo, toda uma moldura para as canções. Também por ser 99% autoral, com músicas e letras. Isso me faz olhar com muita gratidão porque fiz minha história bem do meu jeito e é inigualável.


Durante muito tempo você foi considerado o recordista de inserção de canções em trilha sonora de novelas. A presença de suas composições nessa mídia contribuíram até que ponto para alavancar sua carreira?
Contribuíram muito porque a teledramaturgia brasileira teve momentos (e ainda tem) de muito brilho e criação artística, apesar de ser indústria cultural. Momentos como Dancin days, por exemplo, foram um privilégio inacreditável para um compositor. É um desses momentos gloriosos para a nossa geração. Outras novelas, inclusive com encomendas importantes, como para Partido alto (Fio da navalha), Que rei sou eu? (Raça de heróis), e Vamp (Sob o efeito de um olhar) foram verdadeiros presentes para minha trajetória de criador de música.


A história do MPB Shell 81, em que a Planeta água, a grande favorita foi preterida, ainda tem espaço na sua memória?
Sempre estará presente na minha memória!


Qual é a sua visão do momento atual da MPB, em que trabalhos de qualidade, por vezes, não recebem a devida atenção da grande mídia?
A mídia está sempre preocupada com sua própria sobrevivência e nisso depende do gosto da maioria nos seus segmentos. O Brasil teve uma grande inclusão social de consumo, mas sem a inclusão escolar e cultural. Novos gêneros de música vieram preencher os espaços desse ;gosto da maioria;, especialmente o gosto pelo ;som baladeiro;, voltado para a cena das festas e eventos voltados para uma juventude mais hedonista e menos reflexiva. Mas tudo é fase.


Flores & cores pode ser visto como um projeto em que você busca retomar o espaço que sempre foi seu na cena do pop nacional?
Não sei, não tenho um pressuposto. Prefiro focar o meu gosto, prazer em fazer as coisas.


Entre as 12 músicas do novo CD, quais foram compostas mais recentemente?
Todas são novas, exceto três baladas, cujas linhas melódicas são mais antigas, ainda da década de 1970.


Quais você foi buscar no seu baú?
Meu Jardim do Éden, Happy days e Sodoma e Babel...


Semente da maré, um hit instantâneo, remete a antigas baladas (canções) que são marcantes em sua carreira. Mas há outras, como A árvore da inocência, Meu jardim do Éden e Simplicidade é ser feliz, que são de assimilação imediata. Foi isso que quis propor?
Foi. Procurei fazer um disco bastante viável para uso imediato das pessoas. Um disco mais popular do que o penúltimo, Condição humana, que era mais irado, mais roqueiro.


Morar no litoral norte baiano, onde mantém a ONG Planeta Água, e uma produtora, lhe traz que tipo de sentimento?
Muita paz e gratificação, um privilégio respirar o ar puro do Oceano Atlântico, ver o céu da Bahia, que tem tons bíblicos todo final de tarde. O Brasil é a coisa mais linda do mundo.


Estar longe das grandes metrópoles, sem conviver diretamente com as mazelas do dia-a-dia, além do conforto, lhe traz inspiração para compor, para exercer sua arte?
Não fico longe das grandes metrópoles até porque Salvador não é exatamente uma cidade pequena. É uma cidade grande. Mas tem um feeling muito especial, um escape da natureza, e um jeito das pessoas serem mais humanas e alegres. A inspiração não tem nada a ver com o mundo exterior, é uma condição de momento individual, e a paisagem muitas vezes pode até atrapalhar, ser dispersiva.


Você está atento ao Brasil de hoje, com problemas de toda ordem?
Nada em que o resto do mundo seja diferente. O mundo está convulsionado. O Brasil está a caminho, não importam os erros, importa o processo, e isso é veloz. Claro que estou atento e 2018 é um divisor de águas na nossa história. Vamos ver o que a sociedade vai conseguir implementar. Estamos aí, lutando, trabalhando, participando. Mas o processo é mais sutil do que eleições : é um moto-contínuo.

O cantor e compositor volta às baladas, estilo que o consagrou nos anos 1970 e 1980
Flores & Cores
CD de Guilherme Arantes, com 12 faixas. Lançamento da Sony Music. Preço estimado: R$ 29,90.

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