Diversão e Arte

Música boa com sotaque paulista. Confira!

O bandolinista Danilo Brito se apresenta hoje no Clube do Choro dentro do projeto Brasil de todos os choros

Irlam Rocha Lima
postado em 28/11/2017 07:21
Danilo Brito foi influenciado pelo pai paraibano, mestre do cavaquinho
Considerada a primeira música urbana tipicamente brasileira, o choro surgiu no Rio de Janeiro em meados do século XIX. Ouvido inicialmente nos salões da corte imperial, logo se espalhou por todo o Brasil, chegando até aos mais remotos rincões. O que não falta são relatos sobre a presença dessa manifestação cultural em diferentes regiões do país.

Danilo Brito, bandolinista paulistano, por exemplo, conta como seu pai, Demócrito Brito de Macedo, teve o interesse despertado por esse gênero musical, em 1940, em Sussuaruna, um sítio localizado a 240 quilômetros de João Pessoa (PB). ;Apareceu por lá, lugar sem luz elétrica, rádio, um mascate vendendo quinquilharias. Ele, então, se interessou por um estranho instrumento, que depois veio saber chamar-se cavaquinho. Como não tinha ninguém para ensiná-lo a tocar, ele próprio inventou a afinação.;

Tempos depois, já em São Paulo, foi fonte de inspiração para Danilo. ;Ao vê-lo tocar e ouvindo os muitos discos de choro que colecionava, quis imitá-lo;, lembra. Mesmo sendo um músico autodidata, ele transformou-se num virtuoso bandolinista, com carreira consolidada nacional e internacionalmente. Para se ter ideia, neste ano, em turnês pelos Estados Unidos, tocou em tradicionais clubes de jazz e centros culturais como Lincoln Center (Nova York), Kennedy Center (Washington), Mondavi Center (Califórnia).

Hoje, o instrumentista paulistano, que tem o maestro e compositor Radamés Gnatali como principal referência, traz a técnica, o sincopado e os contrapontos ; característica do seu trabalho, para o Espaço Cultural do Choro. Ali, entre as 17h e as 19h30, faz palestra e comanda uma oficina sobre a técnica do instrumento e a importância do choro, com entrada franca.

Às 21h, no mesmo local, acompanhado por Carlos Moura (violão 7 cordas), Guilherme Girondi (violão 6 cordas), Lucas Arantes (cavaquinho) e Xeina Barros (pandeiro), o bandolinista faz show, tocando composições autorais e criações de mestres do choro. ;Esta é a formação clássica do choro. Faço questão de mantê-la, pois está cada vez mais difícil se ver grupos assim, também conhecidos como regionais;, explica.

Tributos

O repertório traz, entre outros temas, Foi ontem, ;um choro com fraseado pianístico, com o qual presto tributo a Tia Amélia, Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, a valsa Tica; e Sussuaruna, que compus para meu pai, Seu Demócrito, nascido naquela localidade. Entre as minhas músicas,esta é a mais conhecida do público, inclusive em Brasília;, destaca. ;Vamos tocar ainda obras importantes como Choro n; 1 (Heitor Villa-Lobos), Vamos acabar com o baile (Garoto) e Meu segredo, composição pouco conhecida de Jacob do Bandolim;, acrescenta.

Para Danilo, ;o choro, essência da música brasileira, assim como a linguagem falada, tem sotaques nas diferentes regiões do país. O choro paulista, por exemplo, teve influência do jazz, como já demonstravam mestres como Esmeraldino Sales, Orlando Silveira e Laércio de Freitas;. Ele revela que, quando Fernando Hadad era prefeito, houve um ensaio para a criação do Clube do Choro de São Paulo, nos moldes da instituição brasiliense.

;Infelizmente, por razões que desconheço, o projeto não foi adiante. Hoje, ouve-se choro, com maior frequência, em bares, onde não gosto de tocar; e muito eventualmente em algum teatro, como os do Sesc. Costumo participar de rodas de choro na casa de pessoas amigas, mas shows mesmo tenho feito em outras cidades brasileiras e no exterior, principalmente em festivais de jazz;.

Danilo demonstra entusiasmo ao voltar a tomar parte em um projeto do Clube do Choro de Brasília. ;O Brasil de todos os choros ; Origens, sotaques, encontros e caminhos tem um valor inestimável, por mostrar um panorama de diversos sotaques do choro, com influências recebidas em cada região. Vejo esste projeto como ponto referencial para que o brasileiro se reencontre com sua própria cultura.;



Brasil de todos os choros
Palestra e oficina, hoje, das 17h às 19h30, com entrada franca; e show, às 21h, do bandolinista Danilo Brito e grupo. No Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0559.

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