Diversão e Arte

Macau, por meio de festival de cinema, busca impulsionar coproduções

De olho no mercado internacional, o festival chinês de Macau reafirma o compromisso de alargar o mercado consumidor de audiovisual

Carlos Helí de Almeida - Especial para o Correio
postado em 14/12/2017 06:44
O alemão Udo Kier será homenageado no festival chinês de cinema
Macau (China) ; Quando fala sobre Little dragon, a cinebiografia de Bruce Lee, o chinês que popularizou as artes marciais no cinema, as palavras do diretor indiano Shekhar Kapur adquirem um entusiasmo quase juvenil. ;Descobri que havia um filósofo nele, o que só acrescenta mais mistério e fascínio ao ícone que ele foi e ainda é;, explica o cineasta, um dos curadores da seção paralela Crossfire, atração da segunda edição do International Film & Awards Macao (Iffam), o Festival de Macau, que se encerra na noite de hoje.

Coprodução entre a China, Hong Kong e os Estados Unidos, ainda sem data do início das filmagens, Little dragon é uma dos desdobramentos dos investimentos massivos do governo chinês na expansão de seu parque cinematográfico.

Neste projeto, Macau tem funcionado como ponte entre produtores de cinema da Ásia e do Ocidente. ;Por causa de seus cassinos, a cidade é considerada a capital do entretenimento na China. O festival tem potencial para se tornar um ponto de encontro para celebrar o cinema;, afirma o inglês Mike Goodridge, diretor artístico da mostra.

Além de uma competição de filmes, Macau também conta com um espaço para o mercado do setor, no qual cineastas apresentam seus projetos para potenciais produtores. Foi aqui que, ano passado, durante a edição inaugural, que o cineasta português Ivo Ferreira lançou o projeto de Hotel Império, seu novo longa-metragem. Coprodução entre Portugal e a China e falado em português, mandarim e chinês, o filme foi rodado inteiramente em Macau, com apoio do governo local.

;O governo chinês tem feito grandes esforços no sentido de desenvolver sua indústria de cinema, mas lidar com diferentes departamentos para conseguir permissões para filmar ainda é um processo um tanto doloroso;, reconhece Ivo Ferreira, autor de Cartas da guerra, que disputou o Urso de Ouro do Festival de Berlim de 2016. ;Uma das formas de tornar Macau uma locação atraente para produções locais e estrangeiras é continuar filmando e permitir que realizadores e técnicos da região ganhem mais experiência, avalia o português.

Hotel Império conta a batalha de uma mulher para manter o hotel-cassino flutuante que herdou da família, e cuja propriedade de repente é contestada por um homem misterioso. Assim como Ferreira, Shekhar Kapur não se sente intimidado pela ideia de trabalhar com outra cultura. ;No início da minha carreira, tive dúvidas sobre esse negócio de diretores trabalharem com histórias e elementos muito específicos de culturas que não fossem a sua. Acho que foi Ang Lee que me fez rever esse conceito, quando lançou Razão e sensibilidade (1995);, lembra o indiano.

; Imagine, um chinês à frente de uma adaptação de um clássico da britânica Jane Austen. E é um filme impecável;, lembra Kapur, conhecido por sucessos como Elizabeth (1998), épico que reconstitui os primeiros anos da trajetória da indomável rainha britânica, no século 16. O filme acabou dando a primeira indicação ao Oscar de Cate Blanchett, intérprete do papel-título. ;Ang Lee fez um drama de época tipicamente inglês, mas que falava para o mundo inteiro. Daí considero que Little dragon é um projeto importante, não só para a China, porque Bruce Lee foi um ídolo para o mundo inteiro;.

A abertura da China ao mercado do audiovisual mundial é um processo de mão dupla, que tem atraído investidores de diversas nacionalidades ; inclusive americanos. Com mais de 1,3 bilhão de habitantes, o país é um imenso mercado a ser explorado. Hollywood se antecipou à iniciativa de abertura chinesa com acordos de produção e de cogestão, que já renderam produtos como Kung Fu Panda 3, do estúdio DreamWorks de Jeffrey Katzenberg, e A Grande Muralha, superprodução de US$ 150 milhões dirigida por Zhang Yimou, protagonizada por Matt Damon, com locações e elenco chineses.

;A China já dispõe de estúdios modernos e grandiosos, dá gosto de trabalhar com eles;, afirma o ator Udo Kier, que acabou de rodar Iron Sky: The ark, terceiro capítulo da franquia de ficção científica, na Wanda Studios, na província de Qingdao, em território chinês.

O ator alemão (radicado nos Estados Unidos) e o cubano Andy Garcia são os grandes nomes do cinema Ocidental a bordo de uma produção com elenco majoritariamente chinês. ;O contato com os atores chineses foi maravilhoso. Percebi que eles têm um método de trabalho e de interpretação completamente diferente dos atores ocidentais;, conta Kier, que está em Macau para receber um prêmio especial pelo conjunto da carreira, que abrande mais de 200 filmes.

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