Diversão e Arte

Achadouros: peça cria "quintal imaginário" a crianças de 6 meses a 3 anos

Com inspiração em livro de Manoel de Barros e direção de José Regino, peça cria "quintal imaginário", para crianças de 6 meses a 3 anos. Achadouros venceu o prêmio Sesc do Teatro Candango, na categoria de Melhor espetáculo Infantil.

Ana Luiza Vinhote - Especial para o Correio Braziliense
postado em 11/01/2018 06:00
Público vai interagir com duas atrizes, em pequeno cercado de madeira com mais de 4 mil sacolas plásticas, na Caixa Cultural Brasília

Sacolas plásticas, gestos, brincadeiras, danças e canções à capela, o espetáculo Achadouros ; Teatro para bebês está de volta para uma curta temporada na capital. Com entrada gratuita, de amanhã até domingo, às 11h e às 16h, na Caixa Cultural Brasília, o público de seis meses a 3 anos vai se aventurar em um ;quintal imaginário;, num pequeno cercado de madeira com mais de 4 mil sacolas plásticas, ocupado pelas atrizes Caísa Tibúrcio e Nara Faria. Com direção de José Regino, a peça convida os espectadores mirins à reflexão sobre o início da primeira infância e a capacidade transformadora de cada um.

Inspirado no livro Memórias inventadas ; para crianças, do poeta Manoel de Barros, Achadouros venceu o prêmio Sesc do Teatro Candango, em 2015, na categoria de Melhor espetáculo Infantil. Produção brasiliense, de Regino, Caísa e Nara, o espetáculo também participou da programação do Festival Internacional de Teatro para a Primeira Infância do Distrito Federal, integrou a Primavera do Teatro ; Mostra para Infância e Juventude, em Brasília e o 5; Engatinhando Londrina (PR), da Mostra Espetacular ; Mostra de Arte para Crianças em Curitiba (PR).

Com experiência em outros projetos teatrais para a primeira infância, como Panapanã e Alma de Peixe, José Regino explica que a peça tem um tipo de narrativa fora do convencional e faz com que o público mirim enxergue outras possibilidades de vivência. ;Até os 3 anos, os bebês têm uma atenção diferente das crianças. Eles não buscam a autoafirmação, apenas contemplam as coisas, ou seja, estão mais abertos. Com esse tipo de narrativa, eles podem ampliar a capacidade de entender o mundo;, afirma.



Experiente com o público infantil, por ser a palhaça Macarroa há 18 anos, Nara conta que é um desafio participar de uma peça para bebês. ;É um público especial, porque não sabemos qual será a reação deles, se vão fazer silêncio ou bater palma;, diz. Porém, a atriz revela ser uma experiência muito rica como intérprete. ;Os bebês estão descobrindo o mundo, o olhar deles é curioso e criativo. Um objeto qualquer pode ser um universo para eles, são interpretações diferentes, de acordo com cada vivência;, ressalta.


Imersão

No processo de criação de Achadouros, as atrizes mergulharam no universo da primeira infância, visitando uma creche em Brasília para a montagem da peça. ;Observamos, durante um mês, as descobertas, os desafios, as transformações e as relações dos bebês com outras pessoas. Por meio dessa experiência foi possível interagir e perceber o que fazíamos de certo ou errado para buscar referências ao espetáculo;, lembra Caísa.

[SAIBAMAIS]Diferentemente de outras peças infantis, Achadouros aposta em cenário e figurinos de cores neutras. ;Temos uma visão distorcida de que, para chamar atenção das crianças, é preciso exagero, com muita cor e muito barulho. Não há texto durante a apresentação, trabalhamos muito com o silêncio e a linguagem gestual;, conta Nara.

Percepções
Já com relação aos elementos cênicos usados no espetáculo, Nara explica que eles podem causar diferentes percepções. ;A comunicação com o público, a partir dos gestos e de músicas originais à capela, faz com que cada bebê ou criança compreenda a narrativa, a partir de suas próprias referências e de sua criatividade. Isso acaba incitando o espectador a elaborar a própria história, fazendo com que ele não seja apenas um receptor de informações, mas também participe ativamente da peça;, diz.

No espetáculo também é trabalhado o conceito de ;ressignificação; dos objetos do dia a dia, transformando as inúmeras sacolas plásticas em ar, água e até em bichos, como cachorros, gatos, borboletas, peixes. ;Trazemos uma reflexão sobre a herança que vamos deixar para as gerações futuras, a questão sustentável está bem presente na peça;, comenta Caísa.


Acolhimento

Caísa e Nara ressaltam a importância da cultura voltada para a primeira infância. ;Existem poucas produções voltadas para essa faixa etária, porque os bebês ou crianças muito pequenas são vistas como um incômodo. São raros os ambientes que os acolhem e isso acaba os afastando da vida cultural;, observa Nara. ;Muita gente acha que os bebês não têm capacidade de entender esse tipo de atividade e isso é um erro. Desde cedo é preciso ter contato com a arte;, defende Caísa.

Mãe de Aline, 6 anos, Talitha Brinati, 32, levou a filha para assistir o espetáculo, pela primeira vez, em 2016, e gostou tanto que repetiu a dose no mesmo ano. ;Já tinha levado ela a outras peças infantis, mas Aline nunca prestou atenção do começo ao fim, como essa (Achadouros);, ressalta. A engenheira civil também ficou encantada com a peça e só não vai com a filha este ano por estarem viajando de férias. ;Apesar de ser um espetáculo para bebês, é uma peça que todas as pessoas deveriam assistir, não importa a idade. As atrizes usam elementos tão simples, mas fazem coisas que não são óbvias, o que prende a atenção até o final;, conta a servidora pública.

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Achadouros ; Teatro para bebês


Quando: de 12 a 14 de janeiro, às 11h e às 16h
Onde: Caixa Cultural Brasília, Setor Bancário Sul, Quadra 4, Lotes 3/4
Valor: gratuito (ingressos serão distribuídos na bilheteria 30 minutos antes da peça)
Capacidade: 50 pessoas
Duração: 30 minutos
Classificação indicativa: livre
Informações: 3206-9448 ou 3206-9449


Memórias Inventadas para crianças


Autor: Manual de Barros
Editora: Planeta
Páginas: 32
Preço: R$ 29,90
Por meio de poemas, Manuel de Barros convida crianças para embarcar nos ritos de passagem infantis, desde os momentos tristes aos alegres

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