Diversão e Arte

Marca do carnaval de Brasília é a diversidade

Apesar da origem carioca, a festa da cidade é hoje repleta de sonoridades, indo do maracatu ao rock, da farra à conscientização política e social

Alexandre de Paula, Adriana Izel
postado em 06/02/2018 06:30
Galinho de Brasília traz à cultura pernambucana para a cidade desde a criação do bloco
Os primeiros passos do carnaval brasiliense foram dados seguindo a trajetória do Rio de Janeiro. Mas como Brasília é uma cidade que foi moldada por diferentes culturas, a farra do Momo também foi ganhando, ao longo dos anos, outras influências. Do Nordeste vieram ritmos como axé music, maracatu e frevo. As marchinhas, o funk carioca e até o rock também encontraram seu espaço na farra.

A carnavalesca brasiliense Ju Pagul, responsável pela Praça dos Prazeres, que recebe no período momesco 14 blocos de rua, afirma que o carnaval brasiliense tem duas características em destaque. ;Essa questão da diversidade aparece tanto na linguagem quanto nas populações minorizadas reivindicando seus locais de espaço através do carnaval. Por outro lado, há a satirização da política, que vem desde o Pacotão e o Galinho de Brasília, com as marchinhas, até o Bloco do Rivotril, que está ligado à reforma psiquiátrica, e o Bora para Cuba, sobre a disputa entre esquerda e direita;, afirma.

A cara do carnaval de Brasília é definida pela diversidade e a irreverência política, destaca a carnavalesca. ;Usar a linguagem da cultura popular para falar que a diversidade merece respeito e valor. É a força dos tambores e da brincadeira para enraizar uma consciência política. Algo que acontece em muitos carnavais, mas que vejo com destaque aqui em Brasília;, completa.


Conheça alguns blocos que provam a nossa vocação pela diversidade cultural!




O nordeste é aqui (também)
A rica tradição do Nordeste também tem espaço no carnaval da capital. Seja ao som do frevo ou seja de uma banda de pífanos, o folião brasiliense tem opções para aproveitar a cultura da região durante os dias de festa.
Um dos blocos mais tradicionais da cidade, o Galinho de Brasília surgiu justamente porque amigos que costumavam brincar o carnaval no Galo da Madrugada, em Recife, não puderam ir. ;Como a gente não pôde viajar, fizemos aqui mesmo com aquela ideia;, lembra um dos fundadores do bloco,Sérgio Brasiel. O ano era 1992 e a primeira edição levou cerca de 300 pessoas às ruas.
Desde a criação, o bloco (que levou milhares às ruas nas edições mais recentes) só cresceu, aponta Sérgio. Para ele, a razão disso é que começou a se criar uma cultura de carnaval na cidade. ;Foi se formando uma geração que criou gosto pelo carnaval daqui, então começou a ter sempre crescimento;, acredita. Neste ano, o bloco sai, no Setor de Autarquias Sul, nos dias 10 (sábado) e 12 (segunda).
Também é possível curtir o carnaval em Brasília ao som de uma banda de pífanos, tradição nordestina. Essa é a proposta do bloco Ventoinha de Canudo, que faz um bailinho também na sexta-feira (dia 9), no Conjunto Nacional.

O batuque baiano
Ao formato baiano, Raparigueiros coloca foliões nas ruas atrás do trio
Dois blocos que integram a liga tradicional têm inspiração no carnaval e no estilo de música da Bahia. São eles: a Baratona e o Raparigueiros, que desfilam juntos há alguns anos no domingo (11) e na terça-feira de carnaval (13). Neste ano, os grupos mudam de lugar e, pela primeira vez, farão o desfile no Eixo Monumental. A concentração será em frente à Torre de TV e os trios seguirão até o Palácio do Buriti.
Criado em 1992, o bloco Raparigueiros aproveitou o auge da música baiana. ;Quando o bloco surgiu, com 20 integrantes, foi justamente no momento de eventos como a Micarê Candanga. Todos gostavam da ideia de ir atrás do trio. Lembro-me como se fosse hoje quando nos reunimos em um carnaval no Gilberto Salomão. A partir daí, criamos o bloco;, afirma Wellington de Santana, um dos idealizadores.
Santana afirma que o carnaval de Brasília é bastante democrático. ;Posso falar pelo Raparigueiros, que é um carnaval ao estilo da Bahia, com muito axé e o povo correndo atrás do trio elétrico, de forma popular;, define.
Anterior ao Raparigueiros, a Baratona foi fundada em 1976 por foliões que queriam curtir o carnaval indo de bar em bar e desde os anos 1980, com a força da música baiana, a Baratona assumiu a axé music.

Do Brasil à África
A folia brasiliense abre espaço para, de fato, vários ritmos. Mesmo aqueles que não costumam dar as caras durante a Festa do Momo podem ser ouvidos pelas ruas da capital. O Aparelhinho é um dos blocos que promove essa mistura com repertório que vai da música brasileira a ritmos africanos.
;Vamos desde as músicas carnavalescas do Brasil, como samba, frevo, maracatu, até a África, a Jamaica, os Bálcãs, então não tem muita fronteira. É música festeira que deixa a galera empolgadona e com as perninhas doendo no dia seguinte;, reforça Rodrigo Barata, um dos organizadores do bloco que sai desde 2012. Este ano, o Aparelhinho toca na segunda (12) no Setor Comercial Sul.
E, se a ideia é ouvir Mutantes, Tom Zé, Gal Costa, Gilberto Gil e Caetano Veloso, o Bloco das Divinas Tetas é a grande escolha. Com repertório totalmente focado na música brasileira e cheio de swing, eles tocam no Setor Bancário Sul também na segunda-feira (12).

Respeito ao gênero
Feminista, o Bloco das Perseguidas promove diversidade
A cada carnaval, mais blocos com a diversidade como temática surgem em Brasília. O Bloco das Perseguidas é um deles. O grupo nasceu após um ataque misógino no antigo Balaio Café, na 201 Norte. ;O bloco é resultado das manifestações de carnaval do movimento feminista que surgiu no Balaio em 2013. A gente costuma dizer que o bloco foi criado em 2016, mas já sai desde 2013, quando aconteceu o fato;, explica Ju Pagul, organizadora. Neste ano, o grupo sai no sábado (10), às 12h, na Praça dos Prazeres. Com conceitos parecidos surgiram blocos como Essa Boquinha Eu Já Beijei e Tuthankasmona, que unem forças no sábado (10), às 14h, com concentração próximo à Torre de TV.
O novato Tetatronica, que é a atração do Setor Comercial Sul do domingo de carnaval (11), a partir das 15h, foi criado por um coletivo de mesmo nome composto apenas por mulheres. O objetivo é fazer uma folia com um line up 100% composto por mulheres. ;A proposta é ter apenas mulheres comandando o som e as artes visuais em clima de carnaval;, conta Rachel Denti, uma das organizadoras.


Na batida do rock!
Eduardo e Mônica homenageia o rock
Ninguém há de negar que a capital federal tem sangue roqueiro. Por isso, era de se esperar que no carnaval brasiliense também não faltasse o som pesado do rock n; roll. Uma das alternativas para quem curte o estilo é o Eduardo e Mônica. Com título inspirado no clássico da Legião Urbana, o bloco toca canções dos principais grupos de rock da cidade, como Plebe Rube, Capital Inicial e a própria Legião Urbana. Tudo isso misturado ao batuque carnavalesco. ;A gente quis trazer uma homenagem ao rock de Brasília e misturar com a energia do carnaval;, conta Marquinho Vital, um dos organizadores do bloco, que este ano toca no SIG, no dia 11.
No ano passado, 8 mil pessoas participaram dos festejos com o Eduardo e Mônica. Para Marquinho, essa foi a prova de que o público da cidade esperava uma iniciativa assim. ;A gente teve esse papel de colocar o bloco na rua, mas todo mundo queria isso, um bloco que representasse a nossa música, só não tinha colocado a vontade em prática;, acredita.
Outra opção para os roqueiros é o CarnaRock. O tradicional evento chega à 17; edição e vai de 8 a 12 de fevereiro com shows que vão do rock nacional ao metal extremo no Poizé Pub (305 Norte).

Colaborou Ronayre Nunes* (estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira)

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