Diversão e Arte

Confira a crítica do mais novo filme de Agnès Varda, que concorre ao Oscar

Entre as estreias da semana, Visages, villages é dos maiores destaques, tratando das relações de amizade entre uma dupla de artistas

Ricardo Daehn
postado em 08/02/2018 07:53

Agnès Varda se mostra desapontada com o amigo Godard, no mais recente filme

Entre títulos de apelo popular a serem lançados hoje, como O que te faz mais forte (com o ator Jake Gyllenhaal) e a animação Meu amigo vampiro, uma série de filmes como os do realizador grego Yorgos Lanthimos O sacrifício do cervo sagrado (premiado pelo roteiro, no Festival de Cannes) e as fitas libanesas O insulto e De volta também invade o circuito, sob status cult. Concorrendo ao Oscar, a celebrada Agn;s Varda (junto com o codiretor Jr.) responde, entre as estreias, por Visages, villages.

Crítica // Visages, villages ####

É numa comunhão de espíritos livres que o documentário Visages, villages foi concebido. De um lado, a experiente diretora Agn;s Varda ; a mais velha, entre todos os competidores do Oscar ;, e do outro, um fotógrafo adepto da interferência em gigantescos espaços a céu aberto, chamado apenas de Jr. Nada limita o encontro de ambos que, em inusitados trajetos dentro de uma van, sabotam a ordem da realidade, criando um filme interessado em estruturas arcaicas, em paisagens e pessoas esquecidas (ou mortas), além de focado no poder inclusivo da fotografia.


Como proposta, ambos ampliam as percepções de pessoas comuns em relação ao espaço geográfico que ocupam. O dia a dia de mineiros, cabras, gatos, artesão e estivadores está documentado no filme. Enquanto Jr. se desprende do antigo culto à urbanidade, em termos de profissão, Varda reforça o valor e a riqueza da vida interiorana e dos andarilhos ou dissidentes, percepção presente em outras obras dela, entre as quais Os catadores e eu (1999) e Sem teto, nem lei (1985).

Entre homenagens a pessoas fundamentais à história dos registros fotográficos do porte de Cartier-Bresson e Guy Bourdin, Varda e Jr. reconfiguram a importância e a autoestima de agricultores, de caminhoneiras e de personagens alheios à apatia imposta pela tecnologia. Com uma amizade fora dos padrões, os diretores se empenham em partilhar experiências efêmeras e transgressoras: na melhor delas invadem o Museu do Louvre, reciclando (ela, é bom reforçar, de cadeira de rodas) uma emblemática cena do clássico Bande à part (1964), de Jean-Luc Godard.

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