Economia

Empresas brigam por profissionais de tecnologia da informação

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postado em 05/10/2008 10:19
Preocupadas com o que chamam de ;apagão de talentos;, as empresas estão dispostas a mimar os funcionários qualificados com benefícios e horários mais flexíveis. Num ambiente de baixa oferta de pessoal especializado, o maior risco é transformar em queda de braço com os concorrentes a tarefa de recrutar e manter as equipes. ;Até 2009, só o setor de tecnologia da informação (TI) vai gerar um crescimento de 74% nas oportunidades de trabalho. Mas no curto e médio prazos estamos passando por um ;apagão de talentos;. E como a oferta é baixa, as empresas estão brigando pelos mesmos profissionais;, avalia Paula Jacomo, diretora de Recursos Humanos das operações brasileiras da SAP, a maior fabricante mundial de software de negócios. A análise tem como base uma pesquisa feita este ano pela SAP, em conjunto com a unidade de inteligência da revista britânica The Economist, e que entrevistou 944 executivos pelo mundo, a maioria deles em economias emergentes, 88 no Brasil. Pelo que ouviu, as empresas prevêem um futuro complicado, sendo que 72% acreditam que em três anos será difícil, ou muito mais difícil, contratar. A falta de qualificação é o principal motivo para o desânimo entre os empresários brasileiros, o que não chega a ser uma surpresa. ;Aqui as empresas têm uma influência muito pequena nas universidades. A SAP, que está no Brasil há mais de 10 anos, fez uma parceria com a Unisinos, no Rio Grande do Sul, onde foi criado um curso extracurricular voltado para as soluções da empresa. Mas isso é coisa rara;, conta Paula Jacomo. Nesta terra de cegos, quem tem a tão cobiçada qualificação não tem do que reclamar. Antes mesmo de se formar em engenharia de comunicações, David Watkins já tinha ofertas de emprego. É que a aproximação com o setor veio ainda antes da faculdade, depois que deixou o emprego como tradutor e passou a trabalhar com redes. Com o canudo, ficou ainda mais fácil. Chegou a ser tentado pela chance de trabalhar numa das maiores empresas de telefonia do país, mas preferiu a firma de auditoria BDO Trevisan. ;Oportunidades nunca deixaram de surgir, mesmo quando ainda era trainee. Eu me formei em dezembro, em fevereiro estava na BDO e em quatro meses fui promovido. E estou começando minha pós-graduação, com aval da empresa;, conta David, que atua como consultor de TI e vai se aperfeiçoar em governança. A experiência de David mostra que as empresas estão atentas a como manter os profissionais qualificados. Mas não se trata de uma tarefa trivial. Como mostra a pesquisa SAP/Economist, as firmas acreditam que não dispõem de atrativos suficientes para conquistar novos talentos. Quase a metade delas teme não atingir a expectativa salarial dos candidatos, enquanto 41% entende que os benefícios são poucos e um terço reconhece que as longas jornadas de trabalho e as viagens freqüentes não são exatamente um sonho de emprego. Treinamento Daí a grande aposta no treinamento de candidatos que já são funcionários (73%), estratégia concomitante com a oferta de melhores salários e benefícios (64%), seguida pela tentativa de flexibilizar a rotina, como a possibilidade dos empregados trabalharem em casa. Chama a atenção que mais de um terço das firmas espiche a procura para outros setores. ;Há 10, 15 anos, as empresas procuravam mais as habilidades técnicas. Mas de uns anos para cá, até pela globalização, as competências não técnicas, como liderança e trabalho em equipe, ganharam importância. No caso das atividades de TI, antes buscava-se um gerente de projeto com bagagem na área. Agora o que se quer é alguém que conheça o negócio em que vai atuar, como o mercado financeiro, e a capacitação em TI vem depois;, explica Paula Jacomo. Retrato da ginástica feita pelas empresas num ramo em que sobram vagas e falta gente apta a preenchê-las, mas que é comum às mais diferentes atividades. Um estudo do Ipea, divulgado no fim do ano passado, mostrava que apenas 18% das pessoas que procuram emprego têm os requisitos necessários para entrar no mercado de mão-de-obra especializada. Quem alcança a qualificação, encontra um porto seguro, como explica o consultor David Watkins. ;Há uma carência de profissionais e as empresas parecem brigar pelos que existem. Quem é da minha área não fica desempregado.;

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