Economia

O fantasma da Inflação

Cortar supérfluos e substituir marcas já não resolve. Nos supermercados, produtos estão mais caros

postado em 18/10/2008 08:48
Além dos problemas de escassez de crédito, da oscilação do dólar e dos possíveis efeitos que a crise financeira deve provocar no Brasil, o governo tem um problema que já o acompanha desde o começo do ano: a inflação. Muitos economistas apontam que ela vai fechar o ano perto do teto da meta de 6,5% estipulado pelo Banco Central para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Com a variação cambial, a previsão é que fique ainda mais pesado sair às compras. Em um cenário de preços em escalada e muitas projeções de retração econômica, o Comitê de Política Monetária (Copom) terá de decidir o que fazer com a taxa básica de juros (Selic), hoje em 13,75% ao ano, até o dia 29 deste mês. A professora aposentada Maria Isabel da Anunciação Ribeiro, 57 anos, sabe bem o quanto a inflação tem pesado em seu orçamento e não quer nem ouvir falar em alta dos juros. ;O governo precisa é reduzir impostos nos produtos;, defende. Na casa de Maria Isabel, viviam seis pessoas até o fim do ano passado. O número de pessoas na casa diminuiu, mas as despesas com as compras de supermercado não mudaram. ;Hoje compro coisas para quatro pessoas e gasto o mesmo tanto;, reclama. O Correio teve acesso à última nota fiscal das compras feitas por Maria Isabel no dia 9 de setembro. Das mercadorias adquiridas por ela, boa parte subiu de preço até quinta-feira, quando o Correio foi ao mercado verificar os produtos. A margarina, por exemplo, aumentou 16% (veja quadro). Com o dragão do aumento de preços à solta desde o começo de 2008, Maria Isabel faz o que pode para economizar. Mês a mês ela substitui marcas mais caras por outras mais em conta. ;Já troquei café, feijão, sabão e vários produtos de limpeza;, revela. Além disso, a professora elimina alguns produtos supérfluos como os biscoitos. ;Outra forma de poupar é comprar carnes e verduras nos dias de promoção, quando os preços caem, em média, 20%;, ensina. As dicas de Maria Isabel são preciosas tendo em vista que a previsão para a inflação no país é de alta tanto para 2008 como para 2009. No começo deste ano, os preços subiram porque a demanda era maior que a oferta de alimentos. Agora, é o câmbio que ajuda a pressionar a inflação. O Índice de Geral de Preços (IGP), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), aumentou 0,78%, de 11 de setembro a 10 de outubro, contrariando as projeções de 0,6% dos economistas. Como esse indicador leva em consideração os preços praticados no atacado, ele já aponta influências do aumento do dólar. No Índice de Preços do Atacado (IPA), que compõe o IGP, bens intermediários subiram de 0,81%, na análise passada, para 1,21% na apuração desta semana. Os materiais e componentes para manufaturas, cujos valores são atrelados à moeda americana, subiram 1,03% contra 0,08% da apuração anterior. Segundo Cristiano Souza, economista do Banco Real, para que os aumentos citados no IPA cheguem ao consumidor e possam ser contabilizados pelo IPCA são necessários de seis a oito meses. Por isso, a estimativa do Banco Real para a inflação do ano que vem subiu de 4,5% para 5,5%. ;Só o câmbio deve fazer muitos produtos subirem dois pontos percentuais a mais que o estimado;, afirma Souza. Na avaliação do economista, a variação do dólar pode contribuir, e muito, para alimentar o dragão da inflação e, junto com a redução do crédito, pode ser um sinal claro aos consumidores dos efeitos da crise financeira mundial. ;A retração na economia, no entanto, não será capaz de conter o aumento de preços;, diz. Segundo Souza, seria preciso uma estagnação do país, isto é, um crescimento nulo do Produto Interno Bruto (PIB), para que a inflação pudesse ser contida pela redução da atividade econômica. Nesse caso, a demanda pelos produtos em alta teria de ser reduzida bruscamente, o que dificilmente acontecerá na opinião de Souza. A previsão de inflação em alta e de uma retração na atividade econômica levará o Copom a uma situação difícil: decidir se reduz ou não os juros na próxima reunião, marcada para 28 e 29 de outubro. De um lado da decisão estará a visível redução do crédito para 2009. De outro, o câmbio puxando as expectativas inflacionárias. O fogo do dragão O que subiu na lista de compras de Maria Isabel de setembro para outubro * Produto - Aumento Pasta de dente 47,6% Desinfetante 25,8% Óleo de soja 22,4% Azeite 18,7% Feijão 18,54% Sorvete 18% Margarina 16% Caldo de frango 10% * O Correio comparou produtos da mesma marca e tipo no mesmo mercado freqüentado por ela

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