Economia

Classe C perde poder de compra

O sonho de consumo da classe C durou pouco. O fim da festa do crédito farto restringiu o dinheiro em circulação e encareceu os financiamentos, reduzindo o poder de compra de milhões de pessoas

postado em 19/10/2008 07:58
Assim como Adão e Eva foram expulsos do paraíso ao provar o fruto proibido, a classe C, que vivia momentos de bonança, tendo acesso a diversos bens e serviços nunca antes vislumbrados ; como carro, casa própria, eletroeletrônicos de luxo e até viagem de avião ;, graças à abundância de crédito, está sendo expulsa desse trono.

O agravamento da crise financeira internacional quebrou bancos no mundo inteiro, diminuiu o dinheiro em circulação e transformou em sonho distante para milhões de brasileiros o cenário favorável de até pouquíssimo tempo atrás: juros baixos, suaves prestações, pagamento em parcelas a perder de vista e, muitas vezes, sem ter que desembolsar um centavo sequer como entrada.

A fonte do crédito fácil secou. Nas últimas semanas, houve aumento generalizado das taxas de juros, redução dos prazos de pagamento e maior rigor na análise dos cadastros. Com isso, as parcelas dos financiamentos ficaram bem mais salgadas. Quem levou a pior nessa história toda foi a classe C. Vivendo com o orçamento limitado, não dá para pagar mais do que o planejado anteriormente para financiar um automóvel, um apartamento ou uma televisão de 29 polegadas, por exemplo. Aí, o tão almejado sonho tem que ser adiado.

Casa própria
O bancário Wagner Siqueira, por exemplo, teve que postergar a realização do desejo pela casa própria. Ele planejava comprar um imóvel de R$ 70 mil em prestações de R$ 530, que é praticamente o mesmo valor que paga de aluguel, durante 300 meses, ou 25 anos. Mas ao constatar o aumento de, pelo menos, 2% nas taxas de juros anuais e a redução do número de parcelas, viu que o sonho não está mais ao seu alcance. ;Antes da crise, até uns 10 dias atrás, era muito simples conseguir financiamento em 280, 300 meses. Esta semana, fiz simulações em vários bancos, mas o prazo máximo caiu para 150, 180 meses. Com isso, o valor da prestação subiu para quase R$ 900. Me assustei muito. Aí, não dá para pagar. Vou ter que esperar;, revela. ;Hoje, o tempo de financiamento de imóvel está praticamente o dobro do de carro, que é bem mais barato;, diz. Wagner também pretendia trocar de carro, mas desistiu por causa do aumento dos juros e do valor da parcela.

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