Economia

Ousadia do Copom é comandada por Henrique Meirelles

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postado em 22/01/2009 08:06
A forte deterioração da atividade econômica no país ; com a produção industrial despencando e o desemprego em alta ; levou nesta quarta-feira (21/01) o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) a reduzir em um ponto percentual, de 13,75% para 12,75% ao ano, a taxa básica de juros (Selic). Foi a maior baixa mensal desde dezembro de 2003 e a primeira nos últimos 12 meses. A redução foi sacramentada por cinco dos oito diretores do BC, que optaram por uma postura mais agressiva diante do expressivo recuo nas projeções de inflação para este ano. Em dezembro passado, quando o Copom cogitou derrubar os juros, o mercado estimava um índice de 5,2%. Agora, as apostas caminham rapidamente para o centro da meta perseguida pelo BC, de 4,5%. Três diretores votaram pela queda de 0,75 ponto. A ousadia do Copom foi comandada pelo presidente do BC, Henrique Meirelles. Segundo os analistas, o seu voto foi decisivo para que o grupo menos conservador, liderado pelo diretor de Normas, Alexandre Tombini, saísse vitorioso. Mas isso não deve ser interpretado como pressão política. ;O BC entendeu que o momento exigia um corte mais forte da Selic. O Copom precisava indicar aos agentes econômicos que estava disposto a fazer alguma coisa para reverter o tombo na produção e no consumo provocado pela crise internacional;, disse Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da SLW Asset Management. Segundo ele, há espaço para mais uma ou duas reduções de um ponto nas próximas reuniões do Copom de março e de abril. ;Era preciso esse choque para reverter o pessimismo que domina o país;, emendou. A nota divulgada após o encontro de ontem ressaltou, porém, que a redução representou ;parte relevante do movimento da taxa básica;. Ou seja, nada indica novas baixas dessa magnitude. ;Tudo vai depender dos indicadores da indústria, do comércio e da inflação que serão divulgados nos próximos meses. Mas não há dúvida de que há espaço para queda de até três pontos percentuais da Selic;, assinalou o gestor de Renda Fixa da Global Equity, Otávio Paz. Para ele, os números atuais da atividade econômica são terríveis, só comparáveis aos do início de 1999, quando o Brasil quebrou e foi obrigado a substituir o sistema de câmbio fixo pelo de taxas flutuantes. Além disso, acrescentou Flávio Serrano, economista sênior do Banco BES Investimento, não há pressões inflacionárias à vista. ;Com o nível atual de consumo, as perspectivas apontam para índices cada vez menores e mais próximos da meta;, frisou. Nem mesmo a alta de mais de 50% acumulada pelo dólar desde agosto de 2008 preocupa. O possível repasse dessa valorização está sendo contido pela decisão da China de reduzir os preços em dólar (e em reais) dos produtos que exporta como forma de estimular sua economia. Ou seja, a China, que antes da crise internacional vinha exportando inflação, está, agora, estimulando a queda dos índices. Governo feliz No Palácio do Planalto, o clima foi de euforia. O presidente Lula, que se reúne hoje com os presidentes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, afirmou a assessores que, ao reduzir a Selic em 1 ponto, Meirelles reforçou o quanto o BC está engajado no projeto de garantir um crescimento de 4% neste ano. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o recuo dos juros foi muito positivo. ;A inflação está dando sinais de controle. Está dentro das metas. Então, havia condições para isso;, disse. Na visão de Mantega, a decisão do BC ajudará a reverter a desaceleração da economia verificada no último trimestre de 2008. Mas, apesar do corte, ele destacou que os juros brasileiros continuam sendo os mais altos do mundo e, por isso, o governo continuará adotando medidas para diminuir o custo do dinheiro e do spread bancário (diferença entre o que o banco paga para captar recursos e o quanto cobra de seus clientes). ;Não estou falando da Selic, mas dos juros em geral;, assinalou. Segundo Mantega, associada a medidas fiscais, a estímulos a alguns setores e ao aumento do crédito, a redução dos juros ajudará a minimizar o efeito da crise no Brasil. ;Estamos no caminho certo, adotando medidas para estimular os investimentos produtivos, que garantem os empregos;, frisou. Empresários apoiam O recuo da Selic mereceu elogios, ainda que moderados, dos empresários, críticos ferozes da política monetária conduzida pelo BC. Para o presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), Abram Szajman, ;o Copom finalmente compreendeu a gravidade da crise;. No seu entender, porém, é importante que o BC sinalize a possibilidade de a Selic fechar o ano em um dígito, isto é, abaixo de 10%. ;Isso é importante para a manutenção do emprego e da renda, alavancas do consumo;, afirmou. Segundo o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, ;ao reduzir a Selic em um ponto, o Copom demonstrou que a política monetária brasileira mudou. E isso não é ruim;, disse. Entre os sindicalistas, que promoveram manifestações em frente às várias sedes do BC pelo país, a expectativa era de que o Copom fosse mais ousado. ;Diante do necessário, a queda de um ponto foi pouco. Mas, diante do conservadorismo do BC, acreditamos que a pressão do movimento sindical contribuiu para a baixa;, ressaltou o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique. Para Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, o BC ;acertou no remédio, mas errou na dose;. Colaborou Edna Simão

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