Economia

Brasil critica pacote de Obama

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postado em 31/01/2009 09:19
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, fizeram ontem duras críticas ao pacote econômico baixado pelo presidente americano Barack Obama. Lula e Amorim avaliaram que as medidas possuem viés protecionista contraindicado para estimular a economia mundial em períodos de baixo crescimento. O pacote protege as siderúrgicas americanas por meio da proibição da importação de aço, um dos principais insumos da indústria da construção civil nos Estados Unidos. Lula escolheu o Fórum Social Mundial, realizado em Belém, para manifestar sua contrariedade. ;Vi ontem (quinta-feira) que o presidente Obama tomou uma decisão de que os novos investimentos (na realidade investidores) dele terão que utilizar aço nacional nas siderúrgicas americanas. Se isso é verdade, é um equívoco a gente entender que o protecionismo resolve o problema da crise. O protecionismo, nesse momento, vai agravar a crise;, comentou. Lula argumentou que os países ricos antes da crise defendiam a globalização e o livre comércio. E agora, segundo ele, defendem o protecionismo. ;Não acho que protecionismo vai resolver o problema da crise. Se cada país resolver colocar um muro em volta de si e achar que não precisa de mais nada, a crise vai piorar. Temos que discutir mais, flexibilizar mais, o que é possível na relação comercial, e continuar comprando e vendendo. Se a gente parar de comprar e vender, aí, sim, o bicho pega;, disse. Lobby Amorim, por sua vez, apresentou sua crítica em Davos. O chanceler avaliou que o pacote econômico de Barack Obama, já aprovado pela Câmara dos EUA, ;não é um bom sinal;. Ele lembrou que o plano ainda precisa ser aprovado no Senado e, depois, Obama terá a oportunidade de veto ; o que não seria fácil neste momento, reconhece o ministro. ;Por outro lado, ficamos encorajados quando o presidente Obama, falando com Lula, declarou que a rodada Doha é importante e precisa ser finalizada;, disse. ;As duas coisas não vão no mesmo sentido, os aspectos terão de ser esclarecidos;. Para ele, será preciso fazer ;um certo lobby;, não somente pelo Brasil mas também por outros países. Amorim espera que a visão multilateralista de Obama prevaleça neste momento. ;Espero que ele ouça os outros nesse aspecto também;, afirmou, em entrevista no Fórum Econômico Mundial. ;Como a esperança venceu o medo, é preciso que a coragem também vença;. Ele reconhece que, em momentos de dificuldades econômicas, o risco de protecionismo aumenta. ;O protecionismo é talvez a doença mais contagiosa que existe;, alertou. No entanto, Amorim avalia que é justamente nas situações de dificuldade econômica que se precisa de mais medidas para impedir o caminho do protecionismo. Livre comércio A ameaça de uma volta ao protecionismo está em todas as bocas em Davos, denunciado em uníssono pelos dirigentes políticos que defendem o livre comércio sem nunca aplicá-lo ao pé da letra, como fizeram agora os americanos por meio de uma medida sobre o aço nacional bastante contestada e que faz parte do plano de reaquecimento econômico promovido por Barack Obama. Tanto o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, como o chinês, Wen Jiabao, ou o ministro indiano do Comércio, Kamal Nath, tiveram palavras duras sobre o pacote americano. ;Na Rússia, não vamos recorrer ao isolacionismo e ao egoísmo;, disse Putin. ;O protecionismo não ajuda em nada e vai piorar e prolongar a crise;, afirmou Wen. ;Não é nada bom para a economia mundial;, insistiu Kamal Nath. As declarações oficiais, porém, escondem uma realidade mais trivial para os Estados: a necessidade de evitar a todo custo demissões e falências, socialmente insustentáveis. E por isso, as medidas de defesa de alguns setores constituem o recurso mais lógico. EUA ADMITEM MUDANÇAS O governo norte-americano, depois das críticas de vários países, informou que está reconsiderando a polêmica cláusula ;Compre América;, de seu pacote de estímulo à economia. Por meio dessa regra, seria proibido o uso de aço estrangeiro em grandes projetos de infra-estrutura nos Estados Unidos. A Casa Branca acrescentou que a mudança está sendo estudada, mas não antecipou qualquer detalhe até o fechamento desta edição impressa do Correio deste sábado (31/01).

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