Economia

Brasil não deixou a crise

Ex-embaixador avalia que economia brasileira está exposta e que novos solavancos podem voltar a ocorrer

Paola Carvalho
postado em 27/09/2009 09:30
Ainda é prematuro avaliar que a economia brasileira tenha deixado para trás o período de incertezas provocado pela crise econômica mundial. A avaliação é do ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington, Rubens Barbosa, que pondera, por outro lado, que o país está mais preparado para enfrentar as consequências do esfriamento da economia mundial e aproveitar as oportunidades que se apresentam em um contexto de rearranjo das potências. Ao criticar algumas medidas de estímulo e a expansão dos gastos públicos ele ressalta que a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contribuiu para a mudança da percepção do Brasil no exterior.

Consultor de negócios e presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da Federação da Indústria de São Paulo (Fiesp), Rubens Barbosa avalia que a decisão de Lula de manter as políticas macroeconômicas (política para inflação, câmbio e economia para o pagamento dos juros da dívida pública) do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ajudou o país a atravessar o período de incerteza com sistema financeiro sólido, economia estabilizada, inflação sobre controle e com reservas superiores a US$ 200 bilhões.

Ao mencionar essa vantagem, ele lista as deficiências que precisam ser sanadas. ;O governo continuou, porém, tímido na redução da taxa de juros. A taxa de câmbio está se valorizando e vem prejudicando o setor industrial brasileiro. As exportações de manufaturados vão recuar mais de 32% em relação ao ano passado. Os países asiáticos, liderados pela China, foram os primeiros a sair da crise. Por isso, não creio que se possa dizer que o Brasil já saiu da crise.;

Em sua visão, a redução de impostos direcionada a aquecer o consumo e manter a economia em atividade teve um viés político-eleitoral. ;São políticas de curto prazo, com clara preocupação político-eleitoral. Não houve preocupação com medidas de longo prazo. O objetivo foi evitar uma queda significativa do crescimento da economia, o que, em parte, foi obtido, em vista do crescimento em 2009 entre zero e menos 1%. Poderia ter sido pior;, completa.

Rubens Barbosa diz que uma das consequências das medidas de combate à crise foi a expansão dos gastos públicos. E isso, na opinião dele, compromete o crescimento acima de 5%. ;O problema é que os gastos públicos estão crescendo acima do aumento do Produto Interno Bruto (PIB) e os investimentos em infraestrutura não estão se concretizando;, explica.

Mercosul
O ex-embaixador aponta ainda que o Mercosul está estagnado e sem perspectiva por falta de vontade política de todos os seus membros. Ele considera que o bloco vivencia uma crise institucional e que o intercâmbio comercial, que estava preservado pelo dinamismo da economia global e regional, sofre os efeitos da crise, devendo, neste ano, apresentar resultados inferiores aos de 2008. ;O comércio com a Argentina está caindo mais de 42%, em parte pela desaceleração da economia e em parte pelas medidas protecionistas tomadas pelo goveno Kirchner;, ressalta.

Barbosa critica o governo dizendo que na última reunião de presidentes do Mercosul, o Brasil não conseguiu aprovar a agenda mínima representada pelo fim da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC) e o Código Aduaneiro. A despeito dessa análise, a avaliação sobre a economia brasileira em geral é positiva. ;A inclusão do Brasil entre os Brics ajudou a chamar a atenção para as grandes potencialidades do país em um momento de crise global. O presidente Lula, inclusive por suas origens e por seu passado de líder de esquerda com grande preocupação social e democrática, contribuiu positivamente para a mudança dessa percepção;, conclui.

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