Economia

Brasileiro troca o telefone fixo pelo pré-pago

Celular sem conta se consagra como opção única dos brasileiros de baixa renda, que abandonam o sistema fixo em razão do custo

postado em 12/12/2009 07:15
A depiladora Francisca Pacheco trocou o telefone fixo pelo celular pré-pago: %u201CSó uso o que tem%u201DDesde 2004, a depiladora Francisca Lima Pacheco abandonou o telefone fixo. ;A conta estava muito cara e, muitas vezes, passava até da minha condição. A última que paguei foi R$ 400 e tanto;, lembra. Usuária de celular há algum tempo, ela optou por torná-lo seu único telefone. E o gasto com telefonia despencou para R$ 12 a R$ 24 por mês. Como? Francisca Pacheco não quis ter mais sustos com as faturas. Por isso, o celular é pré-pago. ;Só uso o que tem;, justifica.

O uso do celular pré-pago como único telefone é viável graças aos bônus das chamadas para telefones fixos e números da mesma operadora que Francisca recebe todo mês. Como a maioria dos familiares e conhecidos dela são clientes da mesma empresa, a depiladora recebe mais tempo ;grátis; para falar ao telefone. A opção de ter apenas o telefone celular é a mesma de milhões de brasileiros, sobretudo os de baixa renda, para quem pesa significativamente no orçamento o custo da assinatura do telefone fixo.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem mostram que, na parcela da população que ganha até um quarto do salário mínimo e que tem celular, apenas 18,1% têm telefone fixo. Na faixa de renda de um quarto a meio salário mínimo, o percentual é de 23,2% e, entre os que recebem meio e um salário mínimo, o índice é de 40,2%. Na mão inversa, na parcela que ganha mais de cinco salários mínimos, 89,6% têm telefone fixo em casa.

;É uma mudança de perfil que mostra que muitas pessoas estão abandonando a telefonia fixa devido ao custo da assinatura e manutenção. A mobilidade do celular é outro fator;, analisa Willian Kratochwill, do IBGE. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) divulgada em agosto revelam que 92% dos lares brasileiros têm algum telefone celular e 45,6%, só celular.

Análise da notícia
O útil que é caro

O celular pré-pago é o grande segredo do sucesso da telefonia móvel no Brasil, que hoje ultrapassa 160 milhões de usuários. Tanto que 80% da base de clientes não paga conta no fim do mês. Coloca o valor de créditos que seu bolso permite e quando dá. Se não sobra dinheiro, não liga. Por isso, muitos aparelhos são popularmente chamados de ;pai de santo; por só receberem chamadas.

Como vetor de inserção social da população que não tem condições de arcar com o custo de ter um telefone fixo em casa no mundo das comunicações, nada se compara ao pré-pago. E, nos últimos anos, as operadoras têm lançado promoções bem agressivas, que dão muitos bônus para o cliente falar com números da mesma operadora e com telefones fixos.

Mas ter essa liberdade de controlar os gastos tem seu preço. O valor do minuto do pré-pago é muito mais caro que o do pós-pago. Principalmente se o consumidor for ligar para números de outras empresas. Em alguns casos, beiram o absurdo de R$ 2 por um único minuto, enquanto na telefonia fixa uma tarifa desse valor só é comparável à de ligações internacionais. Para que o pré-pago seja democrático por completo, é preciso baixar o preço das ligações. (KM)

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