Economia

Acima de tudo, robusto

O Grand Cherokee, tradicional jipão americano, foi modernizado, ganhando visual mais atraente e muitos itens de série. Mas manteve alguns problemas de projeto, além dos pneus, que não são apropriados para uso fora de estrada

postado em 25/03/2010 07:00
; Enio Greco

A linha 2010 do utilitário-esportivo da marca norte-americana Jeep está mais moderna do que as gerações anteriores, tanto no visual quanto no que diz respeito ao conjunto mecânico. É um modelo que chama a atenção pela robustez, pelo acabamento de qualidade e pelo bom desempenho proporcionado pelo motor de 3,0 litros turbodiesel. Mas, apesar de toda a tecnologia aplicada, o Grand Cherokee ainda mostra certa insegurança no fora de estrada, pois os pneus estão mais para o asfalto do que para a lama.

O Jeep Grand Cherokee já foi um ícone no segmento dos utilitários-esportivos. Pelo menos nos países do Terceiro Mundo, como o Brasil, o modelo era cobiçado por classes mais abastadas e novos-ricos, que sonhavam em ter o jipão na garagem de casa. Porém, com a abertura do mercado e a chegada de modelos similares de outras marcas, o consumidor acabou descobrindo que tinha outras opções para compra. O Grand Cherokee pagou o preço de ter um desenho ultrapassado, problemas de projeto ; como instabilidade direcional ; e motores beberrões.

Ciente do problema, a Chrysler, dona da marca Jeep, tratou de tomar uma atitude. Modernizou o grande Cherokee por fora e por dentro, chegando mais perto do concorrência. O modelo mantém o estilo robusto, com formas retangulares, mas a dianteira ganhou traços mais arredondados, impostos pelos faróis duplos e pelo recorte ondulado da base do capô. A ampla grade com moldura cromada impõe respeito. Porém, a abertura na parte inferior do para-choque dianteiro não tem tela de proteção, deixando o condensador do ar-condicionado exposto a pedras e a outros objetos. As laterais são marcadas por frisos cromados e os retrovisores grandes reduzem o problema da visibilidade traseira. Ele vem equipado com teto-solar e, na traseira, tem discretas lanternas verticais e vidro com abertura independente da tampa do porta-malas. O estepe fica do lado de fora, abaixo do porta-malas, tornando-se pouco prático.

As tradicionais formas retangulares continuam, mas o fabricante deixou a frente mais arredondadaO Grand Cherokee tem dimensões avantajadas, que fazem dele um carro pouco prático no trânsito urbano. Tem bom espaço interno, mas os bancos não são dos mais ergonômicos e confortáveis. Os dianteiros têm comandos elétricos e memória, mas o traseiro, apesar de amplo, é muito baixo e não apoia bem as pernas. E ainda tem o túnel central no assoalho para atrapalhar, roubando espaço de quem vai no meio. Porém, o banco traseiro tem apoios de cabeça e cintos retráteis de três pontos para todos os passageiros. O porta-malas tem espaço satisfatório, apesar de parecer pequeno para o tamanho do carro. Mas sua capacidade pode ser ampliada com o rebatimento do encosto do banco.

O interior tem acabamento feito com materiais de boa qualidade, com plástico emborrachado em duas cores no painel. Os bancos são revestidos em couro cinza-escuro e bege e, no painel e portas, há detalhes que imitam madeira. Uma tela digital central do tipo touchscreen de áudio e vídeo é diversão para motorista e passageiros. O sistema permite armazenar várias músicas em diferentes formatos, ver fotos e vídeos, além de reproduzir CDs e DVDs. O som tem qualidade e é um dos atrativos do modelo.

A posição de dirigir é elevada, mas, mesmo assim, a visibilidade traseira é ruim. Para resolver o problema existem retrovisores externos grandes e sensores de estacionamento. As dimensões avantajadas e o diâmetro de giro da direção não ajudam muito, tornando o Grand Cherokee um carro difícil de manobrar. O volante é fino e exige mais esforço nas mãos, mas os comandos estão bem localizados, facilitando as coisas para motorista e passageiro.

Atrás, o vidro ganhou abertura independente da tampa do porta-malasUma das novidades do Cherokee é o motor diesel 3.0, que trabalha de forma silenciosa e eficiente. Nem parece um propulsor diesel. Proporciona respostas rápidas, mesmo em baixas rotações, graças ao bom torque. E, associado ao câmbio automático de cinco marchas, garante retomadas de velocidades seguras, com kick-down eficiente. A transmissão proporciona trocas suaves e as relações de marcha foram bem escalonadas. O modelo conta com sistema de tração permanente nas quatro rodas Quadra-Drive II e, no console, tem uma pequena alavanca para acionamento da reduzida 4WD low. Apesar disso, o Grand Cherokee mostrou que tem certa dificuldade para ultrapassar trechos com lama, pois escorrega e exige destreza do motorista. Parte do problema está nos pneus, que são mais apropriados para esse uso.

O antigo problema de instabilidade direcional não foi totalmente resolvido, mas, com o auxílio da eletrônica, o fabricante conseguiu reduzi-lo significativamente. As suspensões estão bem equilibradas no que diz respeito ao conforto e à estabilidade, mas de qualquer forma não é bom abusar em curvas. O carro tem controles de tração e estabilidade, sistema que reduz a inclinação da carroceria e toda a parafernália para tornar os freios os mais eficientes possível. Com tudo isso, o Grand Cherokee roda mais firme no asfalto.

Avaliação

Notas (0 a 10)

  • Desempenho - 9
  • Espaço interno - 6
  • Porta-malas - 7
  • Suspensão/direção - 8
  • Conforto/ergonomia - 7
  • Itens de série/opcionais (custo-benefício) - 9
  • Segurança - 9
  • Estilo - 8
  • Consumo - 8
  • Tecnologia - 9
  • Acabamento - 9


Ficha técnica / Grand Cherokee

Motor
Dianteiro, transversal, seis cilindros em V, 2.987cm; de cilindrada, turbodiesel, que gera 218cv de potência máxima a 4 mil rpm e torque máximo de 52kgfm entre 1.600rpm e 2.400rpm

Transmissão
Tração 4x4 permanente, sistema Quadra-Drive II e diferencial de deslizamento limitado eletronicamente, com transmissão automática de cinco velocidades AutoStick e opção de mudanças sequenciais

Suspensões/rodas/pneus
Dianteira, independente, com braço longo/curto (SLA) e barra estabilizadora; traseira, eixo rígido multilink e barra estabilizadora / 7,5 x 17 polegadas (liga leve) / 245/65 R17

Direção
Pinhão e cremalheira, com assistência hidráulica

Freios
Discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira, com sistema ABS (antitravamento), distribuição eletrônica de frenagem (EBD), controle eletrônico de estabilidade (ESP) com proteção anticapotamento e controle eletrônico de tração (ASR)

Capacidades
Tanque de combustível, 83,3 litros; peso, 2.210kg; porta-malas, 455 litros; de carga (passageiros e bagagem), 540kg

Dimensões
4,75m de comprimento X 1,87m de largura X 1,74m de altura X 2,78m de antre-eixos

Velocidade máxima (*)
De 200km/h

Aceleração (*)
De 0 a 100km/h em 9,7s

Consumo (*)
Na cidade, 7,6km/l; na estrada, 11,6km/l

(*) Dados do fabricante

EQUIPAMENTOS

De série

Conforto/conveniência ; Bancos dianteiros aquecidos e elétricos, vidros e travas elétricos, retrovisores dobráveis multifuncionais, retrovisor interno anti-ofuscante, sistema de som Mygig com rádio MW/FM/CD/DVD/HDD/MP3, controles de áudio no volante, abertura das portas e vidro traseiro por controle remoto, ar-condicionado automático, coluna de direção com regulagem de altura e distância, computador de bordo, sensor de chuva, pedais ajustáveis eletricamente com memória, piloto automático, sensor de estacionamento.

Aparência ; Espelhos retrovisores com memória, rodas de alumínio 17 polegadas, revestimento interno em couro, rack no teto e teto solar elétrico.

Segurança ; Airbags dianteiros de múltiplos estágios e laterais, sistema de frenagem de emergência, imobilizador eletrônico de motor, faróis de neblina, freios a disco nas quatro rodas com ABS e EVBP, sistema de tração progressiva com diferenciais de acionamento eletrônico, sistemas de estabilidade, proteção anticapotamento, de controle de velocidade de descida/subida, de redução de rolagem da carroceria, de ancoragem com cintos para assentos infantis e de monitoramento de pressão dos pneus

Opcional
Pintura metálica ou perolizada

Confira a avaliação técnica:

Altura do solo

Toda a zona inferior dianteira tem proteção por chapa em aço e também a caixa de transferência e o tanque de combustível. Não houve interferências com o solo no percurso de prova e os ângulos de ataque e saída satisfazem numa condução usual e sobre trilhas leves variadas.

Climatização

O sistema está bem dimensionado para a área interna do veículo, com boa vazão e angulação dos difusores de ar do painel e, também, os do fim do console central, específicos para os passageiros de trás. Tem a opção de uso no automático, com regulagem de temperatura diferenciada para condutor e passageiro.

Freios

Apresentaram bom comportamento dinâmico no uso misto e o ABS tem boa calibragem. O pedal de freio tem boa sensibilidade e as reações nos dois eixos são balanceadas. A desaceleração na entrada de curvas é eficiente, com boa manutenção da trajetória e em simulação de frenagem de emergência o espaço percorrido até a imobilização foi coerente com a velocidade. O freio de estacionamento, que é de alavanca por comando manual, está instalado junto ao túnel central.

Câmbio

É automático com sistema Quadra-Drive II, com quatro marchas mais over drive. A ativação para uso na 4x4 reduzida é por comando elétrico, por meio de alavanca em T no console central, mais prático e funcional. As relações de marchas atendem bem ao rendimento do motor e massa do veículo no uso misto, favorecidas pela excelente curva de torque do motor. A resposta em kick-down é muito boa. Há opção de condução manual sequencial na própria alavanca e no quadro de instrumentos tem display de bom tamanho, indicando a opção de marcha selecionada.

Motor

A sua curva (potência e torque) é excelente, proporciona dirigibilidade prazerosa, segura e com ótima dinâmica no uso na cidade e em rodovias. É muito silencioso, sem vibrações e com boa elasticidade para um motor a diesel. O torque máximo de 52kgfm atua constante de 1.600rpm a 2.400rpm. O seu funcionamento é suave, com expressivas retomadas de velocidade e aceleração. Com carga máxima, e ar-condicionado ligado é desprezível a perda no rendimento.

Nível interno de ruídos

O efeito aerodinâmico é baixo até 120km/h, sendo crescente e notório a partir dessa velocidade. O habitáculo não é silencioso, pois ocorrem vários pequenos ruídos quando se trafega sobre pisos irregulares.

Suspensão

Os movimentos transversais e longitudinais das suspensões transferidos para a carroceria são satisfatórios. Existe uma barra transversal unindo as duas torres dianteiras para minimizar a torção. A estabilidade é boa numa utilização normal, com boa precisão no contorno de curvas de raios variados e inclinação moderada da carroceria. Tem sistemas eletrônicos de estabilidade e tração, além de redução da inclinação da carroceria, que atuaram com eficiência, trazendo segurança numa dirigibilidade bem esportiva. O conforto de marcha é bom para um utilitário-esportivo.

Direção

A coluna de direção tem ajuste manual em altura e distância, com bom curso. A precisão na reta e em curvas é boa e as cargas do sistema assistido têm boa calibragem para o uso misto, com boa sensibilidade e reações homogêneas. O efeito retorno tem boa velocidade e o diâmetro de giro é aceitável. Os pneus de uso misto homologados atendem melhor sobre piso de asfalto.

Iluminação

Tem sensor crepuscular. O farol é eficiente no baixo e no alto, tem dupla parábola e regulagem elétrica de altura em função da carga transportada. Os faróis auxiliares de neblina estão embutidos no para-choque. Há luz de cortesia em todos os locais úteis (porta-malas, porta-luvas, zona dos pés do condutor e passageiro), menos no vão motor. O quadro de instrumentos, que tem iluminação permanente, o console central e os comandos elétricos nos painéis de porta têm fácil identificação noturna.

Avaliações do engenheiro Daniel Ribeiro Filho, da Tecnodan

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